quinta-feira, 5 de abril de 2012

Militância cultural

Não seria relevante iniciar este texto insistindo na crise do papel do artista e do intelectual em nossa sociedade. Do ponto de vista da ação interessa compreender as orientações necessárias para se superar a inércia e dar prosseguimento a tentativa de se construir um outro modo de vida no qual o homem seja criador, autor, sujeito na construção da cultura. Militantes existem: Por mais que o capitalismo procure se esforçar para marginaliza-los, ridicularizar e abafar as suas ações, tais militantes resistem como faróis. Entretanto, qual seria o espaço ou a avaliação que tais militantes em suas respectivas organizações políticas, fazem do papel da Arte no processo de luta contra a presente sociedade? Tudo indica que o papel secundário atribuído as questões culturais como um todo tendem a perpetuação de uma visão rasteira, incompleta da Revolução social. Mas ainda assim, gostaríamos de frisar que não serão os artistas da pequena-burguesia que irão contribuir para os destinos da Arte Revolucionária: Em sua escolha de classe para servir a burguesia, estes artistas saídos na forminha reacionária da Academia tendem a reforçar, seja pelas mãos do Ensino ou da Indústria cultural, o status quo(justiça seja feita: existem alguns poucos companheiros que lutam corretamente nas escolas e nos meios de comunicação de massa, mas ainda sim, poucos...).

Não restam dúvidas de que o artista revolucionário encontra-se nos Movimentos sociais, nos Partidos, nas Ligas, nos coletivos, nos poucos grupos artísticos independentes de orientação anticapitalista. Seria portanto papel da Esquerda despertar o interesse, a criação de espaços, que não estejam viciados pelo pragmatismo político, pelo uso reacionário da Arte para promover Partidos e lançar militantes e artistas em cargos ou ainda aliciar sem a clareza requerida, a juventude. Nós sustentamos que a Arte corresponde a um terreno próprio da Revolução: O que faltam são as criações de periódicos e espaços de debate para que militantes que produzem filmes, poemas , pinturas, peças teatrais, etc , possam orientar a sua práxis, reafirmar ou modificar as suas convicções estéticas(não apenas nos restritos círculos de sua própria corrente política). Carecemos de tomadas de posição no seio da Arte, de uma atuação mais significativa do artista militante sobre a sensibilidade de trabalhadores e estudantes.

Propomos o debate entre os companheiros e humildemente, com todas as nossas imperfeições, contribuir com o tema do potencial político e libertador da Arte. É fato que várias organizações criam espaços físicos e publicações destinadas ao tema da Arte, o que é louvável. Porém, julgamos necessário uma circulação sistemática de informações e realizações que respeitando a diversidade política existente, possam transcender o isolamento de muitos companheiros(obviamente também somos vitimas de tal isolamento). Um circuito independente de produção e circulação cultural se faz necessário: Publicações especializadas, exposições de arte, saraus, exibição de filmes, espetáculos teatrais, que circulem entre militantes de diferentes orientações ideológicas. Superando o imediatismo eleitoreiro e a disputa partidária localizada, esta ampla militância cultural não se da segundo os critérios da tradicional militância política: Não se trata de disputar o poder usando a Arte enquanto desculpa para isso. A dinâmica política leva naturalmente a disputa pelo poder. Não refutamos este fato, mas apenas salientamos que a natureza horizontal da cultura lhe confere uma particularidade: Se somos unânimes na oposição á sociedade burguesa(o que implica em uma posição política) a militância cultural visa o conflito de idéias e a busca por espaços(físicos e digitais) que minam a cultura dominante ao revelar outras experiências sensíveis, contrárias a lógica do capital.

Pensemos por exemplo no papel estratégico do cinema, sobretudo com as novas tecnologias impulsionando a proliferação de vídeos e outras expressões do audiovisual. A experiência coletiva do cinema e a possibilidade de circular filmes em diferentes espaços simultaneamente, seria um ganho na construção de uma consciência revolucionária. É claro que não somos ingênuos a ponto de acharmos que o cinema, a literatura, enfim a Arte fará a Revolução. Não, mas sem Arte não se faz Revolução.

Orestes Toledo/ Afonso Machado

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