quinta-feira, 26 de abril de 2012

SÓ A EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS PERMITIU O NASCIMENTO DAS ARTES


Vendo a questão do ponto de vista subjetivo, verificaremos que o
sentido musical do homem é despertado apenas pela música. A música
mais bela não tem nenhum sentido para o ouvido não musical, pois não é
para ele um objeto, porque o meu objeto só pode ser a manifestação de
uma das forças do meu ser. A força do meu ser é uma disposição
subjetiva para si, porque o sentido de um objeto para mim só tem
sentido para um sentido correspondente e vai precisamente tão longe
quanto o meu sentido. É por isso que os sentidos do homem social são
diferentes dos do homem que não vive em sociedade. Só pelo
desenvolvimento objetivo da riqueza do ser humano é que a riqueza dos
sentidos humanos subjetivos, que um ouvido musical, um olho sensivel á
beleza das formas, que numa palavra, os sentidos capazes de prazeres
humanos se transformam em sentidos que se manifestam como forças do
ser humano e são quer desenvolvidos, quer produzidos. Porque não se
trata apenas dos cinco sentidos, mas também dos sentidos ditos
espirituais, dos sentidos práticos(vontade, amor, etc), numa palavra,
do sentido humano, do caráterhumano dos sentidos que se formam apenas
através da existência de um objeto, através da natureza tornada
humana.
A formação dos cinco sentidos representa o trabalho de toda a
História do mundo até hoje. O sentido sujeito ás necessidades práticas
vulgares não passa de um sentido limitado. Para o homem que morre de
fome não existe a forma humana dos alimentos, mas unicamente a
existência abstrata de alimentos. Poderiam existir sob a forma mais
grosseira e não se pode dizer em que essa atividade nutritiva difere
da dos animais. O homem cheio de preocupações, necessitado, não tem
sentidos para o mais belo espetáculo. O comerciante de minérios apenas
atende o valor comercial dos minérios, não se apercebe da beleza, nem
da natureza particular do mineral, não tem o sentido mineralógico. Por
conseguinte, é necessária a objetivação do ser humano , tanto do ponto
de vista teórico como prático, para tornar humano o sentido do homem e
também para criar um sentido humano correspondente a toda riqueza do
ser humano e natural.


Karl Marx, 1844.


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