terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A REVOLUÇÃO É UMA ESTÉTICA.



A única opção do intelectual do mundo subdesenvolvido entre ser um "
esteta do absurdo " ou um " nacionalista romântico " é a cultura
revolucionária. Como poderá o intelectual do mundo subdesenvolvido
superar suas alienações e contradições e atingir uma lucidez
revolucionária? Através do exame crítico de uma produção reflexiva
sobre dois temas justapostos:

  - O subdesenvolvimento e sua cultura primitiva

  - O desenvolvimento e a influência colonial de uma cultura sobre o
mundo subdesenvolvido

   Os valores da cultura monárquica e burguesa do mundo desenvolvido
devem ser criticados em seu próprio contexto e em seguida transportar
em instrumentos de aplicação úteis a compreensão do
subdesenvolvimento.
 A cultura colonial informa o colonizado sobre a sua própria condição.

  O auto-conhecimento deve provocar em seguida uma atitude
ante-colonial, isto é negação da cultura colonial e do elemento
inconsciente da cultura nacional, erradamente considerados valores
pela tradição nacionalista. Deste violento processo dialético da
informação, análise e negação, surgirão duas formas concretas de uma
cultura revolucionária:

 A Didática/Épica
 A Épica/Didática

A Didática e a Épica devem funcionar simultaneamente no processo revolucionário.

 A Didática: Alfabetizar, informar, educar, conscientizar as massas
ignorantes, as classes médias alienadas

 A Épica: Provocar o estímulo revolucionário

 A Didática será cientifica. A Épica será prática poética, que terá de
ser revolucionária do ponto de vista estético para que projete
revolucionariamente seu objetivo ético. Demonstrará a realidade
subdesenvolvida, dominada pelo complexo de impotência intelectual,
pela admiração inconsciente da cultura colonial, a sua própria
possibilidade de superar, pela prática revolucionária, a esterilidade
criativa.

 A Épica, precedendo e se processando revolucionariamente, estabelece
a Revolução como cultura natural. A arte passa a ser, pois, Revolução.
 Neste instante a cultura a passa a ser norma, no instante em que a
Revolução é uma nova prática do mundo intelectualizado.
 A Didática sem a Épica gera a informação estéril e degenera em
consciência passiva nas massas e em boa consciência dos intelectuais.
 É inofensiva
 A Épica sem Didática gera romantismo moralista e degenera em
demagogia histérica
 É totalitária

A nova cultura revolucionária, Revolução em si no momento em que criar
é revolucionar, em que criar é agir tanto no campo da arte quanto no
campo político e militar é o resultado de uma Revolução cultural
histórica concretizando-se , no mesmo complexo, História e Cultura.
 O objetivo infinito da liberação revolucionária é proporcionar ao
homem uma capacidade cada vez maior de produzir seus materiais e
utiliza-los segundo o desenvolvimento mental.
 A Revolução elevará a sociedade subdesenvolvida a categoria
desenvolvida a ai surgirá uma nova necessidade: a ação
desmistificadora dos nacionalismos culturais, a ação civilizadora
contra mitos e tradições conservadoras, a ação substituta de valores
integrais da colaboração humana, a que se limita pelas remanescências
do falho significado burguês da individualidade.
 O sentimento de colaboração humana renova e revela uma nova categoria
de individuo, mas é necessário pra isso que a velha cultura seja
revolucionária. Neste estágio, A Épica Didática necessita do
instrumental cientifico psico-analitico a fim de fazer de cada homem
um criador que, de posse consciente e informada de todos os seus
instrumentos mentais, possa fazer a Revolução das massas criadoras.


                                Glauber Rocha, 1967.

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