quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O SONHO E O CINEMA


 Eis um cinema mais maravilhoso que qualquer outro. Quem goza do dom
de sonhar sabe que nenhum filme pode equivaler em imprevisto, em
tragicidade, a essa vida incontestável que passa durante o sono. Do
desejo do sonho participam o gosto e o amor pelo cinema. Na falta da
aventura espontânea que nossas pálpebras deixarão fugir ao despertar,
vamos ás salas escuras em busca do sono artificial,  talvez do
estimulante capaz de povoar nossas noites solitárias. Gostaria que um
cineasta se enamorasse desta idéia: na manhã seguinte a um pesadelo,
que ele anotasse exatamente de tudo que se recordasse e dai partisse
para uma reconstituição minuciosa. Não se trata mais então de lógica,
de construção clássica ou de adular a incompreensão pública, mas de
coisas vistas, de um realismo superior na medida em que abre novo
campo á poesia e ao sonho.



                                 Robert Desnos, 1923.


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