Até algumas décadas atrás denunciar a pobreza e as desigualdades
sociais por meio da arte, envolvia ou a estratégia estética correta
para agredir os nervos do espectador(ou do leitor no
caso da literatura) visando mobilizar a sensibilidade para motivar
ações políticas, ou o grande risco da demagogia, recaindo assim no
despertar de emoções como " pena " e impulsionando assim atitudes
caridosas e portanto contra-revolucionárias. Mas quando nos debruçamos
sobre esta mesma questão da arte enquanto instrumento de denúncia do
capitalismo, novas presepadas da cultura dominante são armadas hoje.
Vejamos como por exemplo o cinema e a Tv tornam-se expressões de um
falso otimismo econômico e de uma mitificação heróica das desigualdades.
Tanto em filmes quanto em novelas percebemos a falsa farra do boi
quando aparece a idéia de " ascenção da classe C ":O suburbio, as
periferias, o morro , tudo surge enquanto um estilo de vida, um modo
de ser "pobre mas honesto ". Sabemos que estes espaços não são
naturais mas realidades urbanas decorrentes da exploração capitalista.
Tudo indica que os programas sociais do governo possuem o seu
correlato estético: Melhorando minimamente mas não resolucionando a
miséria, o povo brasileiro é apresentado tanto no cinema quanto na
teledramaturgia como sendo orgulhoso de sua falta de informação, de
seu conformismo, de sua alegria desesperada nas partidas de futebol,
no gole da cerveja, na sensualidade que coisifica, no som do pagode ou
do funk, etc.
É curioso como na mudança de um plano para o outro a câmera(neste
contexto comercial a diferença entre a linguagem televisiva e
cinematográfica é cada vez menor)salta pelos contrastes das grandes
cidades sem em nenhum momento estabelecer a relação imagética entre as
contradições urbanas. Nesta pobreza gramatical o folhetinesco e a
estrutura policial hollywoodiana reinam de forma despótica, reprimindo
no público a possibilidade de refletir sobre possiveis transformações
históricas.
Diante deste poder que abocanha o público, como os artistas
revolucionários devem agir? Creio que parte da resposta já se encontra
nas comunidades das periferias. Dotados de uma produção cultural
original são os representantes destas que devem continuar a articular
novos espaços de exposição artística numa perspectiva estética e
ideológica que não tratam a miséria como exotismo popular, uma
paisagem natural, mas enquanto vontade popular de transformação.
Portanto, a saida objetiva para que o tema da miséria social não seja
visto como orgulho dos " injustiçados " mas enquanto agressividade
expressiva, está
no papel que os militantes de movimentos sociais podem desempenhar
culturalmente junto a estas comunidades:a ação cultural dentro dos
movimentos políticos deve proporcionar o debate e a produção artística
com base em um projeto de transformação. Neste processo a figura do
militante da cultura é uma necessidade política da classe trabalhadora
e enquanto a esquerda brasileira não estimular totalmente a sua
capacidade de participação na elaboração de uma nova arte, muito pouco
será feito contra a ideologia dominante .
Uma enorme tarefa se coloca de pronto para a arte que não se
fundamenta no reformismo e no culto da ignorância, mas no desejo
libertador.
Geraldo Vermelhão
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