O conceito de mídia independente é
indissociável da orientação política que move os meios de produção culturais
não contaminados pela lógica do mercado. No nosso entender é esta orientação
que deve conferir á cultura um espaço que tenha por resolução o combate
anticapitalista. Dentro da dinâmica específica da cultura é preciso estabelecer
as táticas de acordo com as possibilidades técnicas(sobretudo digitais), para
assim fortalecer a estratégia. A tática da guerrilha artística impulsiona o
internacionalismo da cultura revolucionária: Che Guevara e Leon Trotski, por
exemplo, fornecem conceitos políticos
que precisam ser aplicados á luta cultural encarnada no espaço das mídias
independentes.
Entretanto, qual seria o nível de influência concreta que as
experiências artísticas provenientes destes meios exercem sobre a realidade
social? Esta é uma pergunta difícil já que a ação artística e a reflexão
estética agem exclusivamente no plano da sensibilidade, da percepção,
dificultando assim a medida exata de sua influência. Porém, é na interrupção
dos discursos dominantes que a arte atua, invalidando a realidade estabelecida
ao reivindicar uma outra. A arte livre dos imperativos do comércio, não é
adorno ou distração, mas uma ação indispensável para a luta política.
É na dimensão utópica da arte que precisamos insistir: o foco da imagem
rebelada pode alastrar sentimentos não apaziguadores em meio a atual crise
capitalista. Sem temer o desgaste que o conceito de guerrilha recebe(inclusive
sendo alvo de ridicularização por parte da mídia burguesa) nós chamamos a
atenção dos companheiros para esta tática. O blog LANTERNA ao reunir um
conjunto de tradições estéticas de ruptura afinado ás correntes mais avançadas
do pensamento revolucionário, tem por objetivo persistir na natureza
libertadora da arte. A imagem, a palavra e o som estão inseridos na disputa
ideológica, e é graças á horizontalidade da cultura que estes componentes
assumem um aspecto plural(seria pernicioso de nossa parte negligenciar as
diferentes concepções sobre arte revolucionária).
Para que as naturais discordâncias incorram no
campo artístico o pressuposto da independência é o ponto comum que une os
redatores do LANTERNA: independência frente a qualquer centro de poder
político(partidos, ligas, sindicatos, etc) e econômico(empresas capitalistas
que financiam e comprometem a imprensa). Isto não impede que os colaboradores
do blog militem em organizações políticas ou que ganhem o seu sustento vendendo
a sua força de trabalho para empresas públicas ou privadas(o militante precisa
comer para lutar). Diferentemente da lógica partidária as correntes estéticas
presentes no blog garantem um rico movimento dialético, exigindo que o público
de esquerda assuma posições ao deparar-se com as referências históricas no
campo da arte revolucionária. Frisamos a expressão “ público de esquerda “
porque é somente entre os companheiros que a arte pode sobreviver ao exame
esteticista e egocêntrico feito pela maioria das pessoas que se ocupam de
questões artísticas. Medrosos, reacionários ou intelectualmente preguiçosos, a
verdade é que muitos artistas nunca terminam a inútil faxina nas torres de
marfim.
Paralelamente á luta econômica e política(ao
que corresponde por exemplo o sindicalismo revolucionário) a luta cultural deve
ser empreendida a partir de suas próprias iniciativas. Como é triste
observarmos as greves calculadas: a greve deve possibilitar a educação política
dos trabalhadores e não adapta-los á sociedade de consumo através do reajuste
salarial(é claro que deve-se lutar por reajustes salariais, mas durante as
greves são necessárias também atividades culturais que fortaleçam a consciência
de classe). Chega-se portanto ao problema cultural, necessário para que a luta
econômica e política garantam os seus objetivos revolucionários. Nesta questão
a mídia independente é o terreno aonde a práxis da arte revolucionária ocorre:
o internacionalismo deve se fortalecer com a superação das barreiras culturais
entre os paises. Não dependendo de custos mas de compromisso com a libertação
dos trabalhadores, as publicações digitais voltadas para os problemas
artísticos funcionam enquanto tática foquista que impulsiona a Revolução
permanente na esfera da cultura, indissociável da luta política, mas que possui
uma dinâmica própria e não pode estar sujeita á
interesses partidários que moldem suas ações.
Defendemos a legitimidade da arte revolucionária no contexto de
publicações independentes porque é somente nestas condições que a militância
particular do artista e do intelectual, podem contribuir para o fim da
sociedade exploradora e alienante. Somos guerrilheiros da arte exatamente por
defendermos uma cultura revolucionária que deve se processar em todos os
paises.
CONSELHO
EDITORIAL LANTERNA