terça-feira, 23 de abril de 2013
PORQUE A ARTE POP DEVERIA TER DURADO APENAS 15 MINUTOS:
Uma parte do cenário da arte contemporânea dos últimos cinquenta anos
é em sua crescente desvinculação das qualidades utópicas da arte
moderna, uma coisinha fugaz e aberta ao banal. É como se a percepção
humana estivesse condenada a rastejar pelo limbo de um anúncio de
supermercado. Aqueles que enxergam no ato criativo uma ação que
transgride as coleiras sensoriais, não podem deixar de olhar com
desprezo " o movimento " da Pop-Art na Inglaterra e nos EUA.
Certamente a História da arte reserva ao Pop um galpão com mercadorias
encalhadas na imagem superficial, no cinismo estéril, no vale tudo que
não ambiciona nada. Esta vertente picareta da arte além de não
acrescentar nada(a não ser recursos técnicos dignos de uma
fotocopiadora) acaba reforçando este estranho período em que vivemos
no qual todos desejam ser vistos e representados como " coisa ". Não
sou ignorante a ponto de desconsiderar que a influência Pop fora do
eixo Inglaterra e EUA, articulou-se bem aos diferentes ambientes de
contestação política: Brasil, Argentina e Espanha quando enfrentaram
as ferozes ditaduras do século passado, encontraram em vários artistas
emaranhados pela estética Pop, estratégias de agressão aos padrões de
consumo da classe média. Entretanto estes artistas, por quem tenho
grande respeito, não são alvo deste texto: minha queixa vai para a
gênese da Pop.
Depois da segunda grande guerra París parece ter perdido o fôlego e
o deslocamento do coração das artes foi para os EUA. No centro deste
gigante capitalista estava ocorrendo manifestações que radicalizaram
as experiências plásticas e literárias do velho mundo: da action
painting de Jackson Pollock á prosa alucinada de Jack Kerouac,
passando pelas experiências sonóras amalucadas de John Cage, tudo
parecia ser a negação do american way of life... Mas, por entre
edificios monstruosos observamos que o consumismo adoidado vai abrir
espaço para a redundância da Pop Art. Por mais americana que seja em
sua essência mercadológica, a Pop começa na Inglaterra em torno do
grupo de Richard Hamilton. Através de técnicas como a colagem,
Hamilton responde ao duro pós-guerra inglês com imagens que colocam no
universo da arte a linguagem do consumo proveniente dos meios de
comunicação de massa. Com este ponta pé de plástico dado na
Inglaterra, o circo já estava formado para que Andy Warhol e outros
questionassem os limites entre arte e objetos de consumo.
Ao congelar as imagens num pesadelo inexpressivo, a Pop confunde
arte com sopa, refrigerante, sorvete, sabão em pó e por ai vai.
Chegando ao seu auge nos anos sessenta, a Pop é um comentário trágico
que não questiona o capitalismo, reforçando suas relações
alienantes.Fazendo " um fechamento pra balanço estético "(uma
expressão mercadológica que agradaria aos defensores da Pop) afirmo
que a Pop não deveria ter ultrapassado 15 minutos de sua
existência(talvez até 15 segundos, dependendo do artista em questão).
Ah, mas como tem gente que acha a Pop genial... Pior! Tem gente que já
a considera um conjunto de manifestações clássicas, que poderiam estar
numa boa entre Picasso ou Miró(que para o azar deles, também
tornaram-se " clássicos " dentro da lógica perversa do mercado de
arte). Mas engraçado mesmo são aqueles que advogam em torno de uma
espécie de função crítica dentro da Pop. Pois bem, justiça seja feita:
a paródia, ou até a auto-paródia, foram elementos importantes e até
uteis na crítica ao consumismo e a dessacralização da obra de arte.
Mas era uma jogada fraca, e muito ambígua. Entre Warhol e Duchamp tem
um abismo enorme: enquanto o segundo dentro do estado de espírito Dadá
atacava as bases da cultura burguesa através da desconstrução do
conceito de obra de arte, o primeiro apesar de declarações
provocadoras, defendeu o sistema ao glorificar o banal da sociedade de
consumo.
Tá certo, a Factory comandada com Warhol até que tinha uma
importância transgressora na cena underground de Nova York: junkies e
outsiders se misturavam á granfinada criando experiências artísticas
muito importantes(o cinema de Warhol e a música da banda de rock The
Velvet underground, não correspondem ás convenções da cultura
dominante, claro). Entretanto estou olhando para o Pop a partir de sua
banalidade intrínssica que não se choca com o modo de vida
capitalista, mas o valida. A prova disso é que a Pop ao converter a
mercadoria em obra de arte gerou estéticas publicitárias empenhadas em
alienar o homem em suas atividades: tudo é arte, nada é arte, mas tudo
é mercadoria. A arte do nosso tempo tem a ver com outra coisa: a
utopia não cabe na prateleira.
Lenito.
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