segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Umbigo dos Limbos.


Lá onde os outros propõem suas obras, eu não pretendo fazer outra coisa senão mostrar meu espírito.
A vida é de queimar questões
Eu não concebo nenhuma obra separada da vida
Eu não gosto da criação separada. Eu não concebo tampouco o espírito como separado de si próprio. Cada uma de minhas obras, cada um dos planos de mim mesmo, cada uma das florações glaciais de minha alma interior baba sobre mim.
Eu me reencontro tanto em uma carta escrita para explicar a contratação intima de meu ser e a castração insensata de minha vida, quando em um ensaio que é exterior a mim mesmo, e que se me aparece como uma gravidez indiferente do meu espírito.
Eu sofro porque o espírito não está na vida e porque a vida não seja o espírito, eu sofro por causa do espírito-orgão, do espíritto-tradução, ou do espírito intimidação das coisas para faze-las entrar no espírito.
 Este livro eu o ponho em suspensão na vida, eu quero que ele seja mordido pelas coisas exteriores, e em primeiro lugar, por todos os sobressaltos em cisalhas, todas as cintilações de meu eu porvir. Todas estas páginas se espalham como pedras de gelo no espírito. Que me desculpem minha liberdade absoluta. Eu me recuso a fazer diferenças entre qualquer dos minutos de mim mesmo. Eu não reconheço plano em meu espírito.
É preciso acabar com o espírito assim como a literatura. Eu digo que o espírito e a vida comunicam em todos os graus. Eu gostaria de fazer um livro que perturbasse os homens, que fosse como uma porta aberta e que os levasse lá onde jamais consentiriam em ir, uma porta simplesmente aberta para a realidade.
 E isto não é mais prefácio a um livro do que os poemas, por exemplo, que o balizam ou a enumeração de todas as raivas do mal estar.
Isto não é mais que uma pedra de gelo, também mal engolida.



                                     Antonin Artaud

Nenhum comentário:

Postar um comentário