Das quitandas ao botecos, das grandes avenidas aos shoppings, das praças às igrejas, das feiras aos hipermercados, passam indivíduos provenientes de diferentes classes sociais e com trajetórias biográficas distintas. Todos encontram-se amarrados pelo mesmo laço: a cultura da alienação atingiu na Terceira Revolução industrial um aprimoramento técnico e ideológico que sequestra do pensamento o questionamento da ordem capitalista. Mas o nó do laço não apresenta falhas? Nenhum telhado na história garante sua segurança se as bases da casa balançam: quer dizer, as contradições econômicas que flagram a luta de classes, também fazem da cultura um campo entrecortado pelos confrontos políticos. A própria consciência é alvo de disputas ideológicas ; e não tenhamos dúvidas de que a criação artística ajuda a construir ou destruir as confortáveis casas da classe dominante.
É praticamente unânime a afirmação de que criação artística interfere nas formas de consciência de um determinado período histórico. Na sociedade capitalista dos nossos dias, protegida por mil e um argumentos teóricos, é recorrente a figura do intelectual que hostiliza as relações progressistas entre arte e política. Este intelectual afirma que as " baixezas da realidade política " diminuiriam a beleza e o sentimento de elevação que a obra de arte precisa apresentar. É verdade que " as leis da beleza "(Marx) são as leis da arte, sendo que enfiar artificialmente uma ideia na totalidade estética acarreta em verdadeiros desserviços à cultura. A arte não precisa de justificativa ideológica para existir: ela atende a uma necessidade particular de expressão. Porém, a beleza encontra-se ameaçada na sociedade de classes: as experiências estéticas não elevam o homem mas o aprisionam no reino da ideologia capitalista. As mercadorias da indústria cultural em sua esmagadora maioria são verdadeiros elogios da guerra, da hipocrisia, do imperialismo, do desejo coisificado e do conformismo político. Diante disso, ou os artistas se refugiam na estratosfera dos bobos alegres, inclusive prestando serviços descartáveis para a cultura de massa, ou se engajam na luta contra a cultura dominante.
Defender o projeto de uma arte que participe ativamente da luta política, contribuindo(enquanto arte e não enquanto propaganda de terceira categoria) para a destruição das formas de alienação social, é uma posição enraizada na ideia de que os homens(e consequentemente a arte) não podem ser salvos, não podem ser verdadeiramente livres dentro da casa/gaiola do capital.
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