segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 04

Das quitandas ao botecos, das grandes avenidas aos shoppings, das praças às igrejas, das feiras aos hipermercados, passam indivíduos provenientes de diferentes classes sociais e com trajetórias biográficas distintas. Todos encontram-se amarrados pelo mesmo laço: a cultura da alienação atingiu na Terceira Revolução industrial um aprimoramento técnico e ideológico que sequestra do pensamento o questionamento da ordem capitalista. Mas o nó do laço não apresenta falhas? Nenhum telhado na história garante sua segurança se as bases da casa balançam: quer dizer, as contradições econômicas que flagram a luta de classes, também fazem da cultura um campo entrecortado pelos confrontos políticos. A própria consciência é alvo de disputas ideológicas ; e não tenhamos dúvidas de que a criação artística ajuda a construir ou destruir as confortáveis casas da classe dominante.
 É praticamente unânime a afirmação de que criação artística interfere nas formas de consciência de um determinado período histórico. Na sociedade capitalista dos nossos dias, protegida por mil e um argumentos teóricos, é recorrente a figura do intelectual que hostiliza as relações progressistas entre arte e política. Este intelectual afirma que as " baixezas da realidade política " diminuiriam a beleza e o sentimento de elevação que a obra de arte precisa apresentar. É verdade que " as leis da beleza "(Marx) são as leis da arte, sendo que enfiar artificialmente uma ideia na totalidade estética acarreta em verdadeiros desserviços à cultura. A arte não precisa de justificativa ideológica para existir: ela atende a uma necessidade particular de expressão. Porém, a beleza encontra-se ameaçada na sociedade de classes: as experiências estéticas não elevam o homem mas o aprisionam no reino da ideologia capitalista. As mercadorias da indústria cultural em sua esmagadora maioria são verdadeiros elogios da guerra, da hipocrisia, do imperialismo, do desejo coisificado e do conformismo político. Diante disso, ou os artistas se refugiam na estratosfera dos bobos alegres, inclusive prestando serviços descartáveis para a cultura de massa,  ou se engajam na luta contra a cultura dominante.
  Defender o projeto de uma arte que participe ativamente da luta política, contribuindo(enquanto arte e não enquanto propaganda de terceira categoria) para a destruição das formas de alienação social, é uma posição enraizada na ideia de que os homens(e consequentemente a arte) não podem ser salvos, não podem ser verdadeiramente livres dentro da casa/gaiola do capital.  

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