Nesta semana o papo é cinema, especialmente o cinema brasileiro. Já dissemos inúmeras vezes neste periódico que o grosso da produção cinematográfica brasileira dos nossos dias é um triste apêndice da telenovela e dos filmes hollywoodianos. Além disto acarretar em prejuízos estéticos, observa-se que o programa para um autentico cinema brasileiro foi substituído pelas exigências da economia de mercado. Sem envergadura ideológica e sem consistência artística, parte da cinematografia nacional agoniza nos labirintos do comércio(aliás outras expressões culturais como a própria telenovela, que contraditoriamente já colaborou com uma visão crítica do país, também esgotam-se em exercícios massificados). Porém, esta situação cultural que não apresenta nenhuma surpresa não é o foco desta edição do nosso boletim: para além do " profissionalismo " existe uma produção cinematográfica que nasce das novas experiências audiovisuais.
Felizmente a produção audiovisual ganhou uma múltipla explosão através das novas experiências realizadas por estudantes, trabalhadores e militantes políticos. Tal produção audiovisual resultante dos novos meios de produção ancorados na tecnologia digital, possibilita a invenção aliada a uma intervenção política sobre a realidade brasileira. Mas até que ponto a invenção e consequentemente o debate estético se fazem presentes hoje? Uma série de curtas e documentários apresentam atualmente um vasto olhar sobre os problemas do nosso país. Das questões de gênero, passando pelo registro das lutas sociais e chegando às especificidades das realidades regionais, é recorrente nesta extensa produção um discurso político altamente progressista. Entretanto, as relações entre forma e conteúdo apresentam-se em vários casos defasadas: beirando o naturalismo muitos produtos audiovisuais preocupam-se em apresentar um olhar " independente ", " crítico ", sem flexibilidade estética e sem aprofundamento ideológico.
Na ânsia de registrar fatos(fictícios ou não) ignora-se muitas vezes as possibilidades formais que podem dinamizar a linguagem audiovisual. Tais possibilidades demandam conhecimento histórico, bagagem cinematográfica. Quer dizer, além de dominar as experiências revolucionárias dentro do cinema( cinema soviético, neo realismo italiano, os cinemas novos dos anos 60, e em especial o brasileiro, as marginalizadas experiências cinematográficas do terceiro mundo, etc) quem produz audiovisual precisa acercar-se de sólidos conhecimentos literários, teatrais, plásticos, filosóficos e científicos. Como pensar criticamente o drama sem conhecer o teatro de Brecht? Como debruçar-se sobre as realidades regionais do país sem conhecer as representações delas no romance brasileiro?(Graciliano Ramos e José Lins do Rego, por exemplo). É preciso que a facilidade de filmar e editar seja acompanhada por elementos estéticos que contribuam com um cinema revolucionário no Brasil.
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