Por que muitos artistas possuem alergia do pensamento marxista? Parte da resposta encontra-se na ausência de um entendimento claro sobre a atuação cultural numa perspectiva anticapitalista . É verdade que o tema da cultura é parte integrante das preocupações de muitas organizações políticas de Esquerda: tanto na imprensa operária quanto em eventos, as preocupações artísticas e literárias de militantes políticos se fazem presentes; sobretudo quando tais militantes opinam, analisam, participam, criam e jogam pra fora os bichos reacionários que habitam o pensamento contemporâneo. Porém, além da necessidade de todos estes esforços se desenvolverem e portanto transcenderem os limites políticos das organizações, é preciso refletir, pensar, coçar um bocado os cabelos e as barbas para entender a falta de interesse que vários artistas possuem em relação à realidade política .
Para ser revolucionária, ou ao menos combativa, a arte não pode se submeter ao " carimbo " de nenhum partido político: cabe a um partido revolucionário analisar, debater e divulgar formas artísticas combativas; mas em nenhuma hipótese caberia aos partidos de esquerda apropriarem-se de tais manifestações. Tal prerrogativa evita mal entendidos entre arte e socialismo, preservando a autonomia criativa do artista. Mas a pergunta não quer calar: por que diabos alguns artistas(tanto de origem pequeno burguesa quanto proletária) torcem o nariz para o materialismo dialético? Se como foi dito acima, o espaço de militância cultural nem sempre é analisado corretamente, preconceitos e juízos superficiais são as medidas usadas por artistas e intelectuais incapazes de superar os elementos reacionários da sua formação/educação.
Falar mal do marxismo sem ter lido uma linha sequer do que o velho barbudo escreveu, é uma atitude que pode ser encontrada até mesmo entre intelectuais de " renome ". A antipatia em relação às ideias comunistas passa por um suposto reducionismo das atividades humanas ao fator econômico. Trata-se daquela velha caricatura feita por quem " leu " e não entendeu nada de Marx: a infraestrutura determinaria mecanicamente todos os elementos da superestrutura. Esta caricatura atende ao capitalismo na medida em que jovens(artistas, por exemplo) sentem sua criatividade e suas preocupações interiores submetidas a um estreito horizonte economicista. Rá, muito engraçado... Afinal de contas, quem é economicista? Economicistas são os capitalistas, os liberais, que só enxergam dinheiro e querem reduzir o homem e toda sua criatividade nas correntes da mercadoria, do trabalho alienado. O materialismo dialético parte das condições materiais de produção para compreender a história, mas nem por isso reduz a vida humana ao dado econômico: nos mais variados modos de produção, a arte(assim como as estruturas religiosas, políticas e jurídicas) desenvolve-se a partir das contraditórias relações de produção(e das formas que a produção atinge ou abrange). São relações dialéticas, que se analisadas corretamente desmistificam a ideologia dominante nas mais variadas épocas. É também missão da arte contribuir para que os trabalhadores tomem consciência das contradições do modo de produção capitalista.
Agora, quem disse que a arte deveria tratar apenas de assuntos ou problemas econômicos? Abordar ou não a exploração e as desigualdades sociais é uma decisão que cabe unicamente ao artista. Caso ele não o faça, isto não quer dizer que estamos diante de um " reacionário ". Os caminhos revolucionários da arte são inúmeros: colocar-se como ser criador já é uma forma de rebelião, afinal o capitalismo reprime o desenvolvimento da personalidade humana. Estas já são razões suficientes para que o artista contemporâneo não fuja de suas responsabilidades: cabe ao artista ser irresponsável aos olhos da moral burguesa. Sendo assim, este artista tem tudo a ganhar com o pensamento marxista: nesta concepção do homem é possível pensar as questões artísticas. Além disso, o marxismo permite olhar a cultura sem cair em economicismo e culturalismo. Marx assusta apenas os conservadores, que fazem da arte a mercadoria do momento ou aquele atalho vagabundo da consciência: existe um conservador oculto no artista diletante, que entrega-se à preguiça mental ou ao relativismo das nuvens.
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