segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Boletim Lanterna. Ano 06. Edição 06

O atual mar de informações pode afogar as ideias que possuem envergadura? A saturação de imagens pode poluir e ofuscar ideologicamente aquelas imagens que expressam o desejo revolucionário? É precisamente neste oceano de ondas dialéticas que pensamos o alcance político da arte. Somente uma besta idealista poderia supor que a saída cultural estaria unicamente no efeito estético. Sendo parte da luta política, a criação artística de combate é um fermento específico que só " funciona " quando as contradições sociais de um período histórico explodem pra valer(gerando inclusive uma arte mais direta, mais violenta). Logicamente que os poetas e os artistas não podem ficar na cadeira de balanço esperando por esta possibilidade real de ruptura: é preciso agir, criar, agitar, nem que for para fazer das marteladas estéticas gestos de legítima defesa contra um mundo asfixiante. Porém, enquanto mandamos bronca na ação/criação não podemos abandonar o problema da comunicação e suas relações com os limites culturais da esquerda.
 Por maior que seja o sentimento anticomunista que paira hoje no Brasil, ninguém é fuzilado por defender aquilo que já foi chamado de " arte de esquerda ". Ninguém vai a juri e é esquartejado por proclamar em alto e bom tom que fora do socialismo não existe saída para a cultura. Mas isto não quer dizer que não role repressão: marginalizar e desqualificar as manifestações de caráter anticapitalista, são atos corriqueiros realizados pelos tubarões da comunicação e por setores religiosos ultraconservadores. Nenhum espanto: são necessidades ideológicas da burguesia tanto em tempos ditatoriais quanto " democráticos ". Mas na sociedade brasileira atual como a comunicação artística pode influenciar as massas? O velho dilema sobre a maneira como a palavra poética e a imagem agem sobre a consciência, não pode avançar se continuar marginalizado pela própria esquerda.
 As dificuldades históricas da esquerda para lidar com as mais variadas formas de subjetividade e de criação artística, tornam-se ainda mais problemáticas num momento em que o debate cultural é praticamente inexistente entre as organizações políticas. Não estamos nos referindo aquela meia hora de discussão sobre arte, em que as juventudes encaixotadas em suas respectivas organizações partidárias opinam num quadradinho sobre questões estéticas.  O que está indefinido atualmente é o necessário conjunto de práticas e debates em que a arte torna-se um organismo vivo nos movimentos populares. É claro que poucos militantes e meia dúzia de coletivos tentam corajosamente realizar algo neste campo. Mas a coisa toda é vaga, sem consistência e sem a repercussão necessária dentro dos partidos de esquerda. Como avançar se o sectarismo reina? Não se trata em hipótese alguma de ignorar as diferenças teóricas dentro das correntes políticas. Não se trata daquele impulso ingênuo de " vamos todos juntos para o alto e avante ". Não: diferenças políticas(e estéticas) existem e são necessárias. Aliás tais diferenças podem alimentar dialeticamente os embates sobre as formas de comunicação artísticas que podem interferir de modo eficaz na realidade política. A grande questão é outra: quais estratégias os militantes da cultura podem utilizar para navegar/agir criticamente sobre o mar da cultura alienada?

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