O que seria propriamente um artista marxista? Haveria a necessidade de exclusividade ideológica por parte do materialismo histórico dialético? Tais perguntas estão muito presas ao rótulo e nem sempre dão conta de compreender do ponto de vista revolucionário a participação política do artista. Antes de mais nada, é preciso que se diga que o marxismo não é um peso sobre as costas de um artista mas um guia, uma chave histórica que lhe oferece conceitos para compreender as relações entre a arte e a sociedade em que ele vive.
Durante o início dos anos 30 na França, o Partido Comunista vivia enchendo o saco dos surrealistas, que em boa parte tinham aderido aos propósitos filosóficos do marxismo. Os dirigentes comunistas franceses desconfiavam do pensamento surrealista: diziam para André Breton, o cabeça do movimento surrealista, que se ele é comunista não existiria necessidade de ser surrealista. Mas quem disse que um comunista também não pode ser um surrealista? Por que delimitar? Este questionamento pode ser estendido para outras situações: um punk ou um rapper podem tranquilamente adotar o método marxista para compreender a realidade, compactuando com os propósitos filosóficos do comunismo sem abrir mãos das especificidades artísticas dos movimentos culturais em que eles atuam.
O marxismo é necessário para o artista: a Economia Política ajuda a desmanchar aquela ideia fajuta de que o artista é um ser que vive flutuando, habitando alegremente um outro mundo, apartado da realidade. É através do materialismo histórico dialético que o artista entende a capacidade de intervenção política da sua arte. Trocando em miúdos: um artista pode adotar a filosofia marxista sem o menor prejuízo frente às suas orientações estéticas, frente ao seu posicionamento diante das questões artísticas e culturais em geral. O marxismo acaba por fundamentar suas práticas, destruindo as bobagens do idealismo pequeno burguês e contribuindo para o entendimento da cultura e logo das leis da história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário