Nem sempre aqueles que defendem a arte como instrumento de transformação das relações sociais, possuem um projeto político revolucionário. Dizer que a arte promove mudanças ou contribui com a educação dos homens, pode ser um esforço idealista em torno de palavras vazias. Um artista que deseje colocar sua obra como gesto de crítica e oposição à civilização capitalista, necessita de um entendimento materialista da arte e da história(ou melhor dizendo, da arte na história).
Devemos nos lembrar de que foi a burguesia revolucionária do século XVIII, quem atribuiu uma função política elevadora para a arte. Esta foi uma tarefa histórica da maior importância; porém, o sistema capitalista revelou novas contradições no processo histórico. Foi esta mesma burguesia que estabeleceu valores universais que, na sociedade capitalista, não possuem uma aplicação concreta: liberdade, igualdade e fraternidade são proclamados aos quatro ventos mas negados numa organização econômica baseada na exploração. Da mesma maneira que direitos não podem ser abstrações que unem falsamente os homens, a arte não pode ser encarada como um mundo ideal que nunca toca na realidade material. Para um artista revolucionário, o centro do problema é compreender quando a obra de arte torna-se uma força material, ou seja, quando a arte torna-se uma forma ideológica através da qual os trabalhadores tomam consciência sobre a necessidade de transformar as bases econômicas e políticas da sociedade.
Enquanto trabalho avançado, a arte não nasce de um mundo ideal: a fonte do estético não está nem no espírito e nem na natureza. Os objetos estéticos nascem de uma relação entre sujeito e matéria dada: a relação dialética contida no processo criador, resulta no enriquecimento da subjetividade, na afirmação do homem e na humanização da natureza. A arte pressupõe relações sociais, ou seja, a criação artística, embora relativamente autônoma, nunca se separa da base econômica de uma sociedade. Ainda que a ideologia da arte não resuma a necessidade da arte para o homem(assunto já tratado em outras edições deste periódico), a luta de classes impõe uma necessidade ideológica para a arte: através de inúmeras possibilidades estéticas, o artista deve compreender concretamente a realidade para assim criar obras que atuem sobre a percepção dos trabalhadores. Portanto, a arte não é uma iluminação que vem do céu, mas sim um esforço cultural necessário que articula-se de modo independente com as forças políticas interessadas em libertar a classe trabalhadora.
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