segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A LITERATURA ESTRATEGISTA DO NOSSO TEMPO

Aproveitando a cauda do recente debate de nossa publicação, gostaria
de pegar este cantinho do blog para discorrer brevemente sobre alguns
problemas que merecem atenção por parte daqueles que estão situados no
combate literário. Sem querer atropelar o ocorrido debate estético,
creio que  antes de discutir as relações entre forma e conteúdo seja
preciso enfocar a lucidez de Walter Benjamin quando ele nos fala da
necessidade de meios de produção culturais independentes. Não é
possivel referir-se a tendência literária de esquerda se esta não é
determinada concretamente em sua base de material de produção(seria
puro idealismo). Tal observação defendida pelo filósofo alemão acaba
sendo pra lá de últil ao escritor dos nossos dias desejoso de sua
literatura ser expressão de questionamento frente as forças vigentes
da sociedade capitalista. Todo escritor revolucionário precisa ter no
peito que sua obra além de não poder alimentar a máquina
capitalista(configurada neste caso nas grandes editoras e na grande
imprensa) precisa corresponder as exigências de formação de público.
Sendo assim muito mais eficaz do que sonhar de modo masturbatório com
a publicação " do livro " (que requer grana) é agir visando a
circulação cada vez maior de material literário como por exemplo
através de folhas volantes, blogs, sites, etc.
No nosso Brazuca-Brasil a necessidade de formar um público que
possa consumir literatura combativa se coloca sobre imensos
obstáculos: Novelas e filmes comerciais tem demonstrado recentemente
as periferias das cidades brasileiras como um exótico e natural cartão
postal de gente " feliz e trabalhadora ". A cultura visual no contexto
capitalista dá uma bordoada na literatura de cunho social .Sabemos
qual é o papel ideológico de tal produção audiovisual na conservação
da sociedade de classes. Que o digam os escritores, poetas e artistas
da periferia que por produzirem na sua própria carne a ação artística
que protesta, acabam por desmentir o " modismo favelado ".
É claro que os escritores das periferias brasileiras tem a sua
própria produção, mas  a luta literária exige mais: se faz necessário
o balanço de técnicas literárias, de linhas estéticas, para assim
dinamizar a literatura e ampliar seus mecanismos expressivos. Por isso
a importância do debate como aquele que ocorreu por estas bandas entre
José Ferroso e os " Independentes ".
A Educação, não apenas em sala de aula, mas na rua, nos bares, é
a condição vital para que escritores troquem suas experiências e tomem
contato com diferentes tendências e movimentos(o Futurismo e a Beat
genearation, por exemplo, podem ser assimilados pelo escritor de hoje
num gesto de reeleitura). Há uma História da literatura revolucionária
que não pode ser monopólio da burguesia.
 A partir de um meio de produção independente os escritores
brasileiros terão condições de assumir posturas mais claras na hora de
compreender o significado político das letras. Neste caso tanto os
argumentos de Engels (para quem o melhor para uma obra literária é que
o autor mantenha a sua posição oculta, deixando a obra fazer brotar as
contradições da realidade) quanto de Sartre(para quem o escritor deve
ser engajado colocando a sua literatura enquanto instrumento para a
causa da liberdade), podem estar em pauta.


                                        Lúcia Gravas.

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