segunda-feira, 22 de outubro de 2012

EM DEFESA DA ARTE REVOLUCIONÁRIA INDEPENDENTE HOJE:

Ficamos um tanto surpresos com o artigo do companheiro José, dado o
seus argumentos que parecem conter uma dose sacal de zhdanovismo (e
isto sim é anacronismo...). Ele sabe que o LANTERNA é um desafio
cultural perante a pluralidade de correntes políticas existentes na
esquerda e evidentemente que isto assume discordâncias no campo da
arte e da cultura como um todo.Mas seus argumentos estão imersos em
confusões. Aceito o convite para o debate, parece que o companheiro
José insiste em incorrer sobre um erro teórico que ainda confunde
muitos marxistas(inclusive trotskistas!) interessados em
questões literárias e artísticas: A natureza revolucionária específica
da arte e a sua diferença frente as linguagens usuais do universo
político. Antes de nos ocuparmos deste erro, é preciso alertar para o
perigo que os argumentos do companheiro José podem acarretar no plano
artístico. Na sua vontade em armar a classe operária com uma arte
própria para enfrentar os grilos da Indústria cultural, ele peca pela
brecha de transformar a arte num veículo ideológico que pode servir
como razão de Estado. O Realismo socialista que com certeza o
companheiro José dada a sua envergadura intelectual(infelizmente não
demonstrada no seu artigo medíocre) deve conhecer e muito, é um
espectro estético infeliz que não vale á pena voltar abordar, já que a
cultura de hoje reserva problemas mais graves para o artista
revolucionário.
   Em uma coisa concordamos com José: Num país de famintos a cultura
de massa se converte num obstáculo para a consciência revolucionária
dos trabalhadores. Entretanto quando a intervenção da arte passa a
estar em questão devemos levar em conta que os elementos que a
constitui não possuem a mesma função de um argumento lógico, comum.
Diferentemente do panfleto, do artigo de jornal e da propaganda, a
arte permite o intercâmbio entre os impulsos do inconsciente com a
intolerável realidade capitalista. Sendo assim frente a uma realidade
castrada a expressão artística converte-se num protesto, em revolta
contra a sociedade burguesa. Tal protesto não envolve palavras de
ordem mas sensações, experiências que ao negarem a realidade mercantil
tornam-se ato de liberdade e libertação(em nossa opinião arte não é
extensão de cartilha e nem um meio pedagogizante). Mas para uma pessoa
que nunca tomou contato mais aprofundado com a arte moderna(e nem
mesmo com a a psicanálise, tão injustamente difamada por filósofos de
hoje em dia), tudo isto é reprimido pelo atalho, pela esquina
preguisoça do panfleto artístico. Talvez José não devesse se ocupar de
arte já que um bom manual de sociologia cumpriria o papel que ele
insiste em atribuir ao romance, a pintura, ao filme, etc.
  O companheiro José faz um ataque ao que ele julga ser a orientação
cultural do trotskismo. Não restam dúvidas de que as reflexões
artísticas que o trotskismo apresenta envolvem o que tem de mais
avançado nos debates estéticos das últimas décadas, incluindo o
Brasil(das reflexões estéticas em artes plásticas promovidas por Mário
Pedrosa chegando até a atitude Rock `n `Roll da Libelu que reoxigenou
o movimento estudantil nos anos setenta). O que o trotskismo trouxe
realmente no plano cultural foi a possibilidade do artista ser um
revolucionário independente que não coloca a sua arte a serviço de
nenhum Estado totalitário. Para nós, esta questão é clara(e até
ultrapassada), mas não para o companheiro José.
As observações de José em relação a obra Literatura e Revolução de
Trotski bem como os ataques imprórios ao Surrealismo, beiram o
ridículo. Trotski talvez seja o único lider soviético que compreendeu
as caracteristicas próprias da criação artística: Esta é irredutivel
perante as vozes externas que procuram molda-la, aprisiona-la. José
não entende a diferença que a Revolução burguesa e a Revolução
proletária possuem no plano cultural: Para os trabalhadores não
interessa uma arte de classe mas sim uma arte universal e comum,
comunista, o que deve ser construido no plano histórico. A liberdade
da arte sempre foi uma defesa do movimento surrealista(até hoje
atuante no mundo)e inevitavelmente diante do autoritarismo stalinista
dos anos trinta (na política e na arte)  Breton e seus companheiros
avançaram tanto politicamente quanto artisticamente na direção do
trotskismo. Acreditamos que José deva estudar(ele pode aproveitar o
próprio veiculo do LANTERNA para isso). Ele deverá observar que em
1938 a ameaça totalitária que sufocava a arte tinha na FIARI uma
possibilidade de luta. Hoje não sendo mais o fascismo e o stalinismo
os grandes problemas, a arte revolucionária independente deve se opor
a cultura de massa em meio a crise que o capitalismo enfrenta.
   Por fim afirmamos que um debate acerca da arte revolucionária
merece a formulação de novas problemáticas a partir da reeleitura das
experiências do século passado.  Novos horizontes para a arte(livre,
independente).


                                         Ass: Os Independentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário