terça-feira, 1 de novembro de 2011

SOBRE O TEATRO ÉPICO


Ao acusar esse teatro que é nosso inimigo dizendo que ele é apenas culinário, despertamos então a impressão de que também nós somos contra qualquer diversão, como se não pudéssemos imaginar o aprendizado ou o ensino senão como despertando imenso desagrado. Ora, muitas vezes, para combater um adversário, enfraquece-se a própria posição e preferindo a maior eficácia combativa do radical, despoja-se de toda a sua amplitude e legitimidade a causa que se abraça. Reduzida, assim, a uma forma de luta, ela pode, então, talvez vencer mas não substituir os vencidos. O processo de conhecimento do qual falamos é, no entanto, ele mesmo repleto de prazer. Já o fato de o homem ser recognoscível de um determinado modo desperta uma sensação de triunfo; e que ele também não possa ainda ser conhecido de modo total nem definitivo, que ele não se esgote tão facilmente, que ele cultive e oculte em si muitas possibilidades(de onde provém a sua capacidade de evolução), isso também é um conhecimento prazeroso. Que ele possa ser modificado pelo mundo que o envolve, e que ele mesmo possa modifica-lo, tudo isso gera sensações de prazer. Certamente não quando o homem é encarado como algo mecânico, a ser usado sem cuidados e sem oferecer resistências, tal como hoje ocorre por causa de bem definidas circunstâncias sociais. O espanto que , portanto, hoje precisa ser aqui inserido na formulação aristotélica relativa ao efeito do trágico precisa ser plenamente valorizado como uma capacidade, como algo que pode ser aprendido.

Bertolt Brecht, 1931(?)

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