sexta-feira, 30 de agosto de 2013

BARRAVENTO E O MARXISMO EM GLAUBER ROCHA

Assistir ao filme Barravento(1961) de Glauber Rocha, é uma oportunidade de se comprovar o óbvio: O cinema de Glauber é revolucionário na medida em que o próprio Glauber foi um aguerrido revolucionário. Afirmar isso hoje em dia ,com todas as letras, é um desafio já que tanto no meio acadêmico quanto cinematográfico a obra do cineasta baiano vem sendo alvo de cacoetes pós-modernos. É comum olharmos pessoas que são alérgicas ao projeto político revolucionário se meterem a falar de Glauber Rocha. Para todos os efeitos estas pessoas deveriam se ocupar de outro objeto de estudo e não dos filmes de Glauber que exigem um violento processo de libertação nacional. Voltando ao longa Barravento, devemos dizer que toda a generosidade utópica da era janguista transborda neste que é o primeiro longa do cineasta.
 Após duas iniciais experiências cinematográficas de caráter formalista nos curtas O Pátio e o desaparecido Cruz na Praça, Glauber se afirma enquanto artista engajado em Barravento. Concebido inicialmente como um filme de amor, Glauber assume a direção do longa e o transforma em um libelo político contra o racismo e o uso ideológico da religião para a manutenção da miséria. Se alguém quiser entender o nacionalismo revolucionário de Glauber tem que ficar longe dos pós-modernos e ler/assistir o que o próprio escrevia e filmava. O Brasil de Jango havia permitido a emergência de uma arte revolucionária, sendo que exclusivamente no plano da sétima arte o movimento do Cinema Novo estava interessado, como dissera Glauber, na literatura brasileira de 30, no neo-realismo italiano e na dramaturgia de Bertolt Brecht. Assim sendo não podemos negar a importância do pensamento marxista na estética glauberiana a partir de Barravento. Mesmo que Glauber se considerasse um marxista que não leu Marx, quem pode negar que sua obra foi condicionada pelos conceitos de luta de classes, ideologia e imperialismo? Não enxergar isso significa desrespeitar o autor em seu projeto político descolonizador.
   Embora Glauber desenvolvesse seu discurso com a estética arrebatadora de Deus e o Diabo na Terra do Sol(1964), Barravento já apresenta seu olhar emancipador: numa vila de pescadores na região de Buraquinho na Bahia, o personagem vivido por Pitanga é um marginal, é uma ameaça subversiva ao questionar a miséria, o racismo e o uso do candomblé para impedir que os habitantes tomem consciência da sua condição material. Glauber nutria um grande respeito pelo candomblé assim como por outras religiões africanas e também indígenas. É fato que mais adiante em sua filmografia ele irá perceber que os códigos de linguagem destas manifestações funcionam esteticamente como uma grande rebelião contra as formas culturais do imperialismo. Mesmo assim, Glauber está embasado em uma análise materialista da realidade e  apresenta em suas contradições os elementos da cultura popular. Por entre dunas e redes o que está em pauta no filme Barravento é que deve-se lutar contra o fatalismo religioso, já que a Revolução social é um processo necessário para a emancipação do povo brasileiro. 
 Neste processo de revisão crítica do Cinema Novo, fica cada vez mais claro que este está direcionado para os militantes de esquerda. Vamos afirmar de uma vez por todas que o marxismo é uma ferramenta filosófica sem a qual Glauber e o próprio Cinema Novo não teriam deslanchado. Barravento é um começo importante para este estudo porque ele integra uma produção artística revolucionária que foi interrompida pelos milicos com o golpe de 64. Neste momento atual de agitação política que o Brasil vive é vital estudarmos e praticarmos a coragem artística e intelectual verificada na era Goulart. Com todos os seus erros populistas, esta foi uma etapa de onde sobrevive, por exemplo, o primeiro filme de Glauber Rocha.


                                                                      Lúcia Gravas


Filme: Barravento
Ano: 1961
Direção: Glauber Rocha
Local de exibição: Museu da Imagem do Som de Campinas
Quando: Sábado dia 7/09
Horário: 19:30

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