As diferentes formas de embelezamento estratégico são em nossos dias colocadas em cheque pelas lutas sociais. Dos telhados bem penteados da Paris de Hausmann no século XIX até os signos digitais do capital (que nas últimas décadas infestaram internacionalmente a percepção das massas) a opressão possui uma inegável dimensão estética. Entretanto, existe no contraponto da ação política um potencial revolucionário de sabotagem cultural. Mas a que se destina no Brasil de hoje todo este legitimo esforço pautado na contestação? Sabemos que as respostas passam pela indissociável relação entre estética e política, mas é preciso clareza para que uma nova simbologia revolucionária tome de fato as ruas e mais importante: se comunique com os trabalhadores.As esquerdas podem fazer uma série de críticas ás táticas anarquistas, mas o fato é que a partir destas todo um grande debate estético se realiza hoje entre militantes revolucionários: a profanação das imagens e dos espaços capitalistas em meio a crise econômica deste sistema.Além disto nos tocar de perto, acreditamos que o atual momento impõe aos artistas e teóricos da arte a necessidade de resoluções estéticas revolucionárias.
O Black Bloc por exemplo, vem despertando toda uma sensibilidade iconoclasta ao depredar patrimônios públicos e privados. Não deixa de ser muito divertido assistir a classe média em pânico perante estes novos Enrangés mascarados, andando de skate e queimando fumo em espaços solenes. Entretanto qual seria o ganho político que a classe trabalhadora possui diante destas ações? Sabemos que a destruição das imagens da cultura dominante e dos espaços representantes do poder público, são marcas registradas dos movimentos políticos revolucionários ao longo da História. Mas ainda assim, como esta desconstrução da ordem representa nos nossos dias um outro projeto de sociedade? Façamos aqui também a distinção da crítica burguesa da crítica de esquerda neste âmbito: não se trata de apoiar a violência e a depredação. Não por motivos moralistas mas táticos, afinal a exemplo da pequena-burguesia grande parte do proletariado(ainda mergulhado nos signos do capital), não compartilha deste espetáculo iconoclasta. Sendo assim, perante a direita cuja resposta tende a ser cada vez mais violenta(afinal o Black Bloc diz a verdade quanto afirma que " vândalo é o Estado "), como combinar contestação política e libertação da percepção escravizada?
Destruição desprovida de um projeto político capaz de reconstruir sobre novas bases a sociedade é tão ineficaz quanto agir sem a presença da única força histórica que possui condições de destruir o capital: a classe operária. É somente através da educação política revolucionária que o proletariado pode impedir o endurecimento do Estado capitalista(e precisamos ter em mente que o fascismo é uma criação recente para defender o capitalismo das revoltas sociais). Sendo assim, a educação revolucionária não pode se restringir nos quadros habituais da esquerda(partidos, sindicatos, etc). Tais elementos devem coexistir com ações revolucionárias na esfera simbólica: alguns companheiros podem ficar no reducionismo econômico das jornadas salariais e outros podem quebrar bancos, mas não ocorre nenhum esforço concreto para modificar a percepção dos trabalhadores. Isto tudo não torna menos isento o próprio esforço de artistas e militantes da cultura hoje, vejam o nosso exemplo: qual alcance nossos artigos, vídeos, poemas, romances, peças teatrais, canções, possuem? Existe muito trabalho pela frente...
Neste momento de crise, é preciso que a luta do artista seja política e a luta política possua uma dedicação artística. É chegada a hora de construir uma alternativa política e sensível para o socialismo. Diante da abertura simbólica colocada pelos companheiros anarquistas, é preciso estudar e agir na esfera da representação de modo eficaz, chamando a atenção dos trabalhadores para o campo da ação artística: a força revolucionária da arte, a violência e a crueldade contidas na experiência estética são muito mais eficazes do que qualquer forma gratuita de quebradeira. " Eficazes? " Sim, na medida em que articulada com a luta política, a arte participa da construção da realidade revolucionária, questionando as imagens capitalistas intojetadas na população. A destruição é mais profunda e menos óbvia.
Afonso Machado
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