sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Das Jornadas de junho nasce um novo debate estético

A revolta que irrompe no Brasil contemporâneo apresenta uma produção simbólica que tende a dinamizar o debate estético. Pelo menos todo militante, comunista ou anarquista, já ouviu falar que não existe Revolução política fora da Revolução estética(e esta me parece ser a tônica do nosso blog). Mas acontece que esta evidência cabeluda(um nó cada vez mais embaraçado pelas diferentes concepções artísticas militantes) apresentou nos últimos anos um tratamento muito ralo, para não dizer secundário. Com o estouro de junho, mesmo em sua ampla e contraditória forma política, o debate em torno das expressões artísticas anticapitalistas ganhou um novo gás a partir de uma produção diversificada e na maioria dos casos com um resultado pra lá de porreta. Já publicamos aqui textos e imagens que evidenciam uma nova safra de arte revolucionária(viva a nova arte gráfica e as filmagens em tempo real!). Resta investigar agora como as novas imagens fortalecem a luta política das esquerdas. Já adianto que não tenho o menor interesse em distinguir arte da simbologia usada no protesto político(quem discordar que volte a mamar nas tetas burguesas das Belas Artes!).
 Algumas pessoas já estão dizendo que " os velhos símbolos da esquerda " foram postos de lado por uma nova simbologia que tem sua inspiração na cultura de massa(HQ por exemplo) e na era digital. Que tenham surgido novas formas isto é fato: as novas condições de produção artística são quase que indissociáveis da cultura de massa e do seu lastro digital. Porém, o foco desta prosa não é tão dicotômico assim. Em primeiro lugar a rapaziada tem que tomar cuidado com uma conversa direitista pautada na "crise de representatividade ", já que o que realmente está em crise é o sistema capitalista e sua aparelhagem política e cultural. As bandeiras vermelhas, a foice e o martelo, as imagens de Che Guevara assim como as bandeiras negras e o " A "  de Anarquia, ainda representam conceitos políticos revolucionários(e portanto comunicam seus objetivos políticos).
 Feita esta ressalva contra uma certa tendência que tende a menosprezar a importância da militância de esquerda neste novo vendaval político (os pós-modernos geralmente não entendem nada nem de política e nem de arte...), precisamos ter sobre a mesa um novo debate: as velhas e as novas expressões coexistem nas formas a serem inventadas. Como disse o bom e velho Brecht, a dialética faz com que o novo traga dentro de si o velho, mas numa forma superada. Para a nova geração parece não existir o menor acanhamento em utilizar referências da cultura pop, aonde por exemplo o V, de Vingança também pode ser V de vinagre. Não que não tenha me dado no saco ver as centenas de máscaras inspiradas nos traços do rosto de quem teria sido Guy Fawkes(inglês porra loca que pertenceu a organização Conspiração da Pólvora e tentou assassinar o rei Jaime I em 1605). Nada contra o escritor Alan Moore e o desenhista David Lleoyd, mas é que se cada garoto que usasse a máscara do V conhecesse a filosofia política do anarquismo a fundo, este seria um símbolo muito mais revolucionário/combativo do que comercial/banal. Longe de mim esculhambar a garotada: são eles é que estão criando uma nova linguagem que obriga a esquerda tradicional acertar os ponteiros; mas ainda assim é preciso que a agitação caminhe junto com o estudo pautado no pensamento revolucionário e não no entusiasmo rasteiro.
Insisto que para o debate estético atual das esquerdas se desenvolver, é preciso voltar ao ponto de que o velho e o novo se fundem nos protestos de hoje: Ródtchenko revivido em cartazes irreverentes, Bakunin e a arte pop com V de Vingança ou de Vinagre,  pichações de 68 relidas por quem corre sobre um skate,  cinema de autor fundido em vídeos transmitidos em tempo real, Facebook e poesia concreta, etc. Trata-se de um campo técnico e expressivo de inúmeras possibilidades e que alimenta a arte revolucionária neste começo de século. Para que estes novos frutos cheguem maduros e com velocidade no rosto do burguês, devemos prosseguir com um incansável debate estético fomentador de uma arte de oposição.


                                                    Geraldo Vermelhão
  

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