segunda-feira, 30 de setembro de 2013
A formação artística do militante de esquerda:
Superado o equivoco de considerar a dimensão estética enquanto mero parêntesis da luta política, as organizações políticas de esquerda e os coletivos de cultura, devem se preocupar com a formação artística dos seus membros. A isto relaciona-se uma reavaliação das diferentes atitudes que a esquerda brasileira adotou, nas últimas décadas, perante os problemas artísticos. Na ânsia de ampliar a participação do proletariado nos movimentos de protesto iniciados neste ano de 2013, a dialética entre informação e criação artística, deve operar um grande salto sobre a maneira como a cultura se relaciona com a política.
O primeiro ponto passa inevitavelmente pela compreensão das forças produtivas em arte. A ruptura com os meios de produção culturais capitalistas e a necessidade de concretizar uma produção artística revolucionária a partir de meios de produção culturais independentes, colocam mais uma vez a evidência de Walter Benjamin em primeiro plano. Tal compreensão permite combater o falso discurso de que a arte não revela mais nenhuma tensão frente ao sistema estabelecido. Na realidade o problema estético não se separa das condições produtivas: obras que revelam a subversão na forma e no conteúdo, são inofensivas quando pertencentes ás relações comerciais de megastore ou de reconhecidas instituições da cultura dominante. Para que a arte participe da luta política, ela precisa estar integrada nas organizações políticas de esquerda e no cotidiano da classe trabalhadora. Cabe ao militante reatar este vínculo reavaliando obras e movimentos contemporâneos, além é claro de produzir arte. O que se sucede são práticas e suposições que nascem dentro da ação concreta: a própria esquerda deve mobilizar parte de sua imprensa e dos seus espaços físicos para as questões artísticas. Disponibilizando as páginas dos periódicos para a reflexão artística e providenciando debates, exibições de filmes, oficinas literárias e de teatro, exposições de arte e cursos, assegura-se a formação cultural de todos os militantes.
O militante passa a ser entendido agora não enquanto correia de transmissão que se dedica tão somente aos ditames partidários, mas também enquanto aquele que age artisticamente, que abre a organização para círculos artísticos e literários, e que portanto incorpora o lado lúdico da arte na práxis política.Algumas questões históricas da arte e da literatura no Brasil, acabam surgindo e ganhando corpo mediante a orientação estética dos militantes. É diante destas condições concretas de produção que torna-se possível reavaliar erros históricos; seja o populismo do Centro Popular de Cultura do início dos anos sessenta, seja a política do desenvolvimentismo contida no movimento concretista. Estes e outros movimentos tão díspares entre si, poderão integrar sobre novas condições materiais, as fundamentais heranças históricas para se pensar e produzir arte revolucionária.
Lenito
sábado, 28 de setembro de 2013
Do Romance social " MENINO DE ENGENHO ", de José Lins do Rego
Restava ainda a senzala dos tempos do cativeiro. Uns vinte quartos com o mesmo alpendre na frente. As negras do meu avô, mesmo depois da abolição, ficaram todas no engenho, não deixaram a rua, como elas chamavam a senzala. E ali foram morrendo de velhas. Conheci umas quatro: Maria Gorda, Generosa, Galdina e Romana. O meu avô continuava a dar-lhes de comer e vestir. E elas a trabalharem de graça, com a mesma alegria da escravidão.
As duas filhas e netas iam-lhes sucedendo na servidão, com o mesmo amor á Casa Grande e a mesma passividade de bons animais domésticos(...). Tia Generosa, como a chamávamos, fazia as vezes de minha avó. Toda cheia de cuidados comigo(...). Quando se reclamava tanta parcialidade a meu favor, ela só tinha uma resposta: " Coitadinho, não tem mãe ".
José Lins do Rego, 1932.
As duas filhas e netas iam-lhes sucedendo na servidão, com o mesmo amor á Casa Grande e a mesma passividade de bons animais domésticos(...). Tia Generosa, como a chamávamos, fazia as vezes de minha avó. Toda cheia de cuidados comigo(...). Quando se reclamava tanta parcialidade a meu favor, ela só tinha uma resposta: " Coitadinho, não tem mãe ".
José Lins do Rego, 1932.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Violão em punho:
Este instrumento musical popular denominado violão, pode ser uma das coisas mais perigosas para o atual sistema político. Diferentemente do piano, o violão pode ser transportado pra lá e pra cá com a mesma facilidade com que se carrega um livro ou uma arma. Quando bem utilizado, este instrumento potencializa as formas de comunicação do cotidiano, sendo ele próprio ferramenta dos inconformistas. Já se disse tudo sobre o violão e as canções de protesto? Ainda não, as seis cordas não esgotaram a pólvora acesa pelas melodias. Existe, concretamente falando, ouvintes para os trovadores revolucionários? Ah, tem muita gente com as orelhas e consciências bem abertas para a música de protesto.
A sensibilidade musical deste início de século é formulada em parte pelas denúncias sociais do rap e pela rebeldia anárquica do punk rock. As estruturas sonoras destes gêneros musicais encontram eco em setores da juventude: a eletricidade do rock ainda passa o seu recado com os três acordes, enquanto que o rap direciona todo descontentamento para um canto rimado e selvagem que voa pelas periferias mundiais. No rap em especial, este canto se identifica com símbolos revolucionários, basta ver o exemplo dos Racionais MC´s em sua homenagem ao líder comunista Carlos Marighela, no ano passado(querem ouvir música revolucionária? Então ouçam Mil faces de um homem leal, dos Racionais). Perante o rap e o punk como defender aqui a acústica do violão em canções de protesto? Simples, assim como a caixinha de fósforo do sambista, o violão pode estar no morro, nas periferias, nos botecos, nos sindicatos...É um instrumento que ainda serve aos interesses históricos do proletariado, que precisa redescobrir a força política da canção popular.
Longe de mim defender uma volta ao purismo acústico(seria um idealismo anacrônico e sem cabimento). Estou apenas chamando a atenção para a importância de uma educação musical revolucionária, que passa obrigatoriamente pela figura do artista com o violão em punho.Ainda é válida a frase " máquina de matar fascistas ", usada pelo músico norte americano Woody Guthrie quando este se referia ao seu próprio violão: durante os anos 30, no centro da depressão econômica, Guthrie subia nas carrocerias de caminhões e mostrava aos trabalhadores americanos a politização por meio da canção: seu herdeiro seria Bob Dylan, em toda sua genialidade e incoerência.
No caso brasileiro, muito antes dos rappers e dos rockeiros de hoje em dia nascerem, os sambistas expunham na alegria triste de suas composições, um país desigual e sofrido. Isto levou a uma contrapartida do poder oficial: durante o Estado Novo(1937-45) o governo de Vargas perseguia homens boêmios com violões debaixo do braço, ao mesmo tempo em que procurava domesticar o samba com seu projeto nacionalista e autoritário(tentou-se tirar o samba do boteco e coloca-lo nos salões da elite). Ainda falando do Brasil(nossa herança ibérica não pode desconsiderar o violão na formação cultural do país) os anos 60 mostraram que tanto antes quando depois do golpe de 64, a música popular pode mobilizar pelo canto cada canto, cada região do país. Aliás, na América latina como um todo, é que a canção de protesto faz do violão um instrumento de luta: basta lembrar dos seresteiros revolucionários no Uruguai e no Chile, enfrentando a repressão dos regimes militares; devemos ressaltar que os músicos destes países conseguiram uma grande inserção no seio do proletariado.
É importante que a música de combate não perca de vista o som acústico do violão: é deste que nasce o canto da resistência , a música de opinião, como aquela cantada por Nara Leão em 1965.
Tupinik
A sensibilidade musical deste início de século é formulada em parte pelas denúncias sociais do rap e pela rebeldia anárquica do punk rock. As estruturas sonoras destes gêneros musicais encontram eco em setores da juventude: a eletricidade do rock ainda passa o seu recado com os três acordes, enquanto que o rap direciona todo descontentamento para um canto rimado e selvagem que voa pelas periferias mundiais. No rap em especial, este canto se identifica com símbolos revolucionários, basta ver o exemplo dos Racionais MC´s em sua homenagem ao líder comunista Carlos Marighela, no ano passado(querem ouvir música revolucionária? Então ouçam Mil faces de um homem leal, dos Racionais). Perante o rap e o punk como defender aqui a acústica do violão em canções de protesto? Simples, assim como a caixinha de fósforo do sambista, o violão pode estar no morro, nas periferias, nos botecos, nos sindicatos...É um instrumento que ainda serve aos interesses históricos do proletariado, que precisa redescobrir a força política da canção popular.
Longe de mim defender uma volta ao purismo acústico(seria um idealismo anacrônico e sem cabimento). Estou apenas chamando a atenção para a importância de uma educação musical revolucionária, que passa obrigatoriamente pela figura do artista com o violão em punho.Ainda é válida a frase " máquina de matar fascistas ", usada pelo músico norte americano Woody Guthrie quando este se referia ao seu próprio violão: durante os anos 30, no centro da depressão econômica, Guthrie subia nas carrocerias de caminhões e mostrava aos trabalhadores americanos a politização por meio da canção: seu herdeiro seria Bob Dylan, em toda sua genialidade e incoerência.
No caso brasileiro, muito antes dos rappers e dos rockeiros de hoje em dia nascerem, os sambistas expunham na alegria triste de suas composições, um país desigual e sofrido. Isto levou a uma contrapartida do poder oficial: durante o Estado Novo(1937-45) o governo de Vargas perseguia homens boêmios com violões debaixo do braço, ao mesmo tempo em que procurava domesticar o samba com seu projeto nacionalista e autoritário(tentou-se tirar o samba do boteco e coloca-lo nos salões da elite). Ainda falando do Brasil(nossa herança ibérica não pode desconsiderar o violão na formação cultural do país) os anos 60 mostraram que tanto antes quando depois do golpe de 64, a música popular pode mobilizar pelo canto cada canto, cada região do país. Aliás, na América latina como um todo, é que a canção de protesto faz do violão um instrumento de luta: basta lembrar dos seresteiros revolucionários no Uruguai e no Chile, enfrentando a repressão dos regimes militares; devemos ressaltar que os músicos destes países conseguiram uma grande inserção no seio do proletariado.
É importante que a música de combate não perca de vista o som acústico do violão: é deste que nasce o canto da resistência , a música de opinião, como aquela cantada por Nara Leão em 1965.
Tupinik
terça-feira, 24 de setembro de 2013
A memória do teatro anarquista
Quando os cães de guarda da burguesia cumprem a função de intelectuais, então uma grande campanha pelo assassinato da memória do movimento operário se faz. Isto obriga os militantes e artistas de esquerda reagirem contra este sepultamento cultural, expondo a evidência de que é preciso resgatar esta memória, nem que para isso seja necessário recorrer a toda violência da arte para remover a montanha de lixo pós-moderno. Esta memória que possui uma função prática , educativa e política, quando colocada no palco revela a verdadeira força do teatro: uma experiência de subversão total, de denúncia de todas as formas de opressão e de exposição das misérias humanas. Afirmamos que este teatro já existe e se mergulharmos sem medo no baú desta dramaturgia ,encontraremos um teatro feito por e para trabalhadores.
Convidamos os companheiros a darem um passeio pela margem da História do teatro brasileiro, encontrando em sapateiros, artesãos, artífices, alfaiates e operários artistas revolucionários. Uma desconhecida dramaturgia popular inserida em associações operárias revela um teatro proletário de orientação anarquista, durante o início do século passado. Estudos importantes sobre a produção cultural dos primórdios do nosso movimento operário andam sendo publicados nos últimos anos: Em Antologia do teatro anarquista, organizado por Maria Thereza Vargas(editora MartinsFontes, 2009) encontramos o substrato de uma dramaturgia libertária nas peças teatrais de Avelino Fóscolo, Marino Spagnolo e Pedro Cattalo; todos eles trabalhadores ligados ao ideário anarquista. Segundo o ponto de vista do anarquismo nenhum revolucionário depende de títulos e diplomas para realizar a sua militância artística. Contrariando um Brasil de doutores e especialistas, os artistas anarquistas mostram a necessidade de desenvolver as capacidades artísticas dentro do proletariado. Portanto fazer política, jornalismo, palestras, literatura, teatro, arte enfim, não envolve nenhum respeito pelas hierarquias intelectuais mas o direito de todos os indivíduos se expressarem e se desenvolverem intelectualmente(eis a diferença básica entre o trabalhador da cultura e o intelectual burguês).
Um problema de ordem estética não pode ser ignorado nos destinos do teatro anarquista brasileiro do começo do século passado. Embora o conteúdo das peças seja libertário a forma ainda repousava em referências estéticas que pareciam não romper com a linguagem da classe dominante. Um grande paradoxo se faz não apenas em relação ao teatro mas á arte militante no Brasil: as revoluções artísticas, a exemplo da Semana de arte moderna de 1922, e a produção artística operária, coexistiram dentro de um grande abismo; isto é, militantes revolucionários fazendo arte tradicional e artistas de vanguarda que revolucionavam as formas artísticas mas que estavam distantes do movimento operário. Tentativas importantes foram realizadas entre os anos trinta e sessenta dentro do teatro brasileiro(temos que assinalar o Teatro da Experiência, dirigido por Flávio de Carvalho no começo de trinta, por exemplo). No entanto, temos muito trabalho pela frente: mais do que nunca experimentalismo estético e conteúdo político revolucionário devem se conectar dentro do teatro brasileiro feito por militantes. O primeiro passo foi sem dúvida dado pelos anarquistas.
Conselho Editorial Lanterna
Convidamos os companheiros a darem um passeio pela margem da História do teatro brasileiro, encontrando em sapateiros, artesãos, artífices, alfaiates e operários artistas revolucionários. Uma desconhecida dramaturgia popular inserida em associações operárias revela um teatro proletário de orientação anarquista, durante o início do século passado. Estudos importantes sobre a produção cultural dos primórdios do nosso movimento operário andam sendo publicados nos últimos anos: Em Antologia do teatro anarquista, organizado por Maria Thereza Vargas(editora MartinsFontes, 2009) encontramos o substrato de uma dramaturgia libertária nas peças teatrais de Avelino Fóscolo, Marino Spagnolo e Pedro Cattalo; todos eles trabalhadores ligados ao ideário anarquista. Segundo o ponto de vista do anarquismo nenhum revolucionário depende de títulos e diplomas para realizar a sua militância artística. Contrariando um Brasil de doutores e especialistas, os artistas anarquistas mostram a necessidade de desenvolver as capacidades artísticas dentro do proletariado. Portanto fazer política, jornalismo, palestras, literatura, teatro, arte enfim, não envolve nenhum respeito pelas hierarquias intelectuais mas o direito de todos os indivíduos se expressarem e se desenvolverem intelectualmente(eis a diferença básica entre o trabalhador da cultura e o intelectual burguês).
Um problema de ordem estética não pode ser ignorado nos destinos do teatro anarquista brasileiro do começo do século passado. Embora o conteúdo das peças seja libertário a forma ainda repousava em referências estéticas que pareciam não romper com a linguagem da classe dominante. Um grande paradoxo se faz não apenas em relação ao teatro mas á arte militante no Brasil: as revoluções artísticas, a exemplo da Semana de arte moderna de 1922, e a produção artística operária, coexistiram dentro de um grande abismo; isto é, militantes revolucionários fazendo arte tradicional e artistas de vanguarda que revolucionavam as formas artísticas mas que estavam distantes do movimento operário. Tentativas importantes foram realizadas entre os anos trinta e sessenta dentro do teatro brasileiro(temos que assinalar o Teatro da Experiência, dirigido por Flávio de Carvalho no começo de trinta, por exemplo). No entanto, temos muito trabalho pela frente: mais do que nunca experimentalismo estético e conteúdo político revolucionário devem se conectar dentro do teatro brasileiro feito por militantes. O primeiro passo foi sem dúvida dado pelos anarquistas.
Conselho Editorial Lanterna
domingo, 22 de setembro de 2013
A poesia feita por todos e não para todos:
Em uma de suas últimas entrevistas, o poeta brasileiro Roberto Piva(que faz uma falta danada com sua postura iconoclasta) disse que " a poesia deve ser feita por todos e não para todos ". A referência de Piva ao poeta francês Lautréamont, é muito útil para evocar a dimensão exata da atividade revolucionária contida na poesia: perante o risco da demagogia exercida pela poesia pobremente politizante, é preciso afirmar que a poesia pode ser praticada por todos os seres humanos, pois dela deriva um conhecimento secreto e explosivo sobre os seres. O ato poético não se contenta com aquilo que é dado pela sociedade, pelo que é permitido pela moral da classe dominante. Quer dizer, poesia não é questão de talento ou de virtuosismo daqueles que bordam versinhos, mas é antes exteriorização das emoções sem coleira. Poesia é a violência expressiva que revigora o humano e o arranca da sua alienação.
Nunca é tarde lembrar que a ação poética tem a ver com abismo, tempestade, excesso, embriaguez, paixão, desajuste, desespero, não sendo assim uma atividade realizada por bons meninos. É comum o jovenzinho militante de esquerda dizer que perante a fome a poesia tem que tratar de problemas sociais. Nada contra, mas insistimos que a revolta da poesia(que é a tradução simbólica da grande rebelião contra a cultura burguesa) não é feita de sentimentos apaziguadores, afinal ela revela as sombras da loucura, a possibilidade de dizer " não ao não ". Individualismo? Preferimos chamar de iluminação, de alargamento da consciência,de gesto subversivo que pela linguagem(escrita, comportamental, não importa) induz "o outro" a se rebelar junto com " o eu "; e se isso leva também a Rimbaud não deixa de rimar com as necessidades políticas revolucionárias, pois afinal como lembra Trotski, a Revolução não fornece apenas o pão mas a poesia.
Não estamos numa época de poesia populista: basta observar que entre as bandeiras negras e vermelhas erguidas pelo Brasil do nosso tempo, o ataque á simbologia capitalista do mudo globalizado, se fundamenta numa posição internacionalista e enraivecida. Não concordamos que o artista, o poeta, deva ficar preso na lousa mas abrir com o martelo do verbo alquímico, janelas para a liberdade. A revolta inaugurada em junho se resolve numa poesia violenta, sem forma fixa, sem propósitos pedagógicos e edificantes. Isto está longe do elitismo: a liberação do inconsciente soterrado por uma montanha feita de lixo industrial e recalque religioso, é uma necessidade que contempla todos os homens, sendo sua objetivação máxima a superação das divisões nacionais e de classe. Assim como o amor e a liberdade, a poesia é o terreno por onde o socialismo deve fincar seus pés, lutando assim para a emancipação não apenas econômica mas espiritual da humanidade.
Os Independentes
Nunca é tarde lembrar que a ação poética tem a ver com abismo, tempestade, excesso, embriaguez, paixão, desajuste, desespero, não sendo assim uma atividade realizada por bons meninos. É comum o jovenzinho militante de esquerda dizer que perante a fome a poesia tem que tratar de problemas sociais. Nada contra, mas insistimos que a revolta da poesia(que é a tradução simbólica da grande rebelião contra a cultura burguesa) não é feita de sentimentos apaziguadores, afinal ela revela as sombras da loucura, a possibilidade de dizer " não ao não ". Individualismo? Preferimos chamar de iluminação, de alargamento da consciência,de gesto subversivo que pela linguagem(escrita, comportamental, não importa) induz "o outro" a se rebelar junto com " o eu "; e se isso leva também a Rimbaud não deixa de rimar com as necessidades políticas revolucionárias, pois afinal como lembra Trotski, a Revolução não fornece apenas o pão mas a poesia.
Não estamos numa época de poesia populista: basta observar que entre as bandeiras negras e vermelhas erguidas pelo Brasil do nosso tempo, o ataque á simbologia capitalista do mudo globalizado, se fundamenta numa posição internacionalista e enraivecida. Não concordamos que o artista, o poeta, deva ficar preso na lousa mas abrir com o martelo do verbo alquímico, janelas para a liberdade. A revolta inaugurada em junho se resolve numa poesia violenta, sem forma fixa, sem propósitos pedagógicos e edificantes. Isto está longe do elitismo: a liberação do inconsciente soterrado por uma montanha feita de lixo industrial e recalque religioso, é uma necessidade que contempla todos os homens, sendo sua objetivação máxima a superação das divisões nacionais e de classe. Assim como o amor e a liberdade, a poesia é o terreno por onde o socialismo deve fincar seus pés, lutando assim para a emancipação não apenas econômica mas espiritual da humanidade.
Os Independentes
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Arte de esquerda não funciona com a política cultural capitalista
Quando fala-se em fazer cinema, teatro, literatura, enfim quando o papo é produção artística, existem vícios pragmáticos que na maioria das vezes não diferencia quem é de esquerda e de direita na jogada cultural. De um modo geral os artistas pensam unicamente na viabilização de suas obras dentro da economia de mercado, sendo portanto mero detalhe " estilístico " a sua postura artística. Trocando em miúdos, as políticas culturais existentes nos quadros da sociedade capitalista, imersas no incentivo público ou privado(é possível delimita-las dentro do capitalismo?), atendem á divindade do mercado; este surge enquanto algo " natural ", deflagrando assim a total alienação dos artistas.
A neutralização da contribuição subversiva na experiência estética, acarreta num grande retrocesso cultural: enquanto a obra de arte gira na criação de valores financeiros, a forma regride com um cinema brasileiro cada vez mais hollywoodiano, cada vez mais parecido com telenovela, ignorando o autor cinematográfico num salto anacrônico digno de (porno)chanchada e industrialismo pós-Vera Cruz. Já o teatro que dá grana é o bonitinho, com comédias que também se confundem com telenovela. Encurtando caminho: a literatura torna-se individualista no fetiche livro-literato, as artes plásticas escravas dos imperativos institucionais(do impressionismo pra cá , mudou pouco...), a música passa a ser hora do recreio ou sirene de fábrica, e por ai vai. É lógico que este não é um quadro definitivo, existindo os artistas inconformistas que desejam provocar mudanças. Mas, quando estes insistem nos formatos da política cultural fomentadora de lucro e não de transformação política, a tendência é subestimar o potencial de intervenção social da arte.
Não existindo saída para a arte dentro da dinâmica capitalista, os verdadeiros artistas precisam relacionar meio, técnica, estética, ética, distribuição/circulação na elaboração de uma política cultural de ação direta, nacional, popular e anti-burocrática. As expressões " alternativo " e " independente " não tem a menor vocação para produto de prateleira sofisticada: na proposta revolucionária, comprometida com a emancipação do proletariado, a arte revela uma alternativa política e não uma alternativa de mercado. Ela é independente na medida em que exige a independência sensível, mental e econômica frente ao sistema vigente. Falando concretamente, como se faz isso? Primeiro politizando o trabalhador da cultura e segundo inserindo a produção artística em sindicatos, escolas e criando publicações que diferem-se da visão cultural reificada da imprensa chapa branca. O artista de classe média em especial, deve se proletarizar e ao romper com a condição imposta pela burguesia (que faz dele um aristocrata pedinte de verbas), descobre que seu papel é tão importante quanto o do operário, do carteiro, do motorista de ônibus, do professor, etc. O artista precisa se comunicar revolucionariamente com o seu povo, estando inserido nas tradições da cultura popular e exercendo um trabalho dentro das particularidades nacionais(e não se perder no idealismo universalizante). Ao se reconhecer enquanto trabalhador, produtor, o artista participa claramente da luta política.
Uma produção artística de esquerda constrói relações sociais e econômicas na direção do socialismo e não do capitalismo.
Lúcia Gravas
A neutralização da contribuição subversiva na experiência estética, acarreta num grande retrocesso cultural: enquanto a obra de arte gira na criação de valores financeiros, a forma regride com um cinema brasileiro cada vez mais hollywoodiano, cada vez mais parecido com telenovela, ignorando o autor cinematográfico num salto anacrônico digno de (porno)chanchada e industrialismo pós-Vera Cruz. Já o teatro que dá grana é o bonitinho, com comédias que também se confundem com telenovela. Encurtando caminho: a literatura torna-se individualista no fetiche livro-literato, as artes plásticas escravas dos imperativos institucionais(do impressionismo pra cá , mudou pouco...), a música passa a ser hora do recreio ou sirene de fábrica, e por ai vai. É lógico que este não é um quadro definitivo, existindo os artistas inconformistas que desejam provocar mudanças. Mas, quando estes insistem nos formatos da política cultural fomentadora de lucro e não de transformação política, a tendência é subestimar o potencial de intervenção social da arte.
Não existindo saída para a arte dentro da dinâmica capitalista, os verdadeiros artistas precisam relacionar meio, técnica, estética, ética, distribuição/circulação na elaboração de uma política cultural de ação direta, nacional, popular e anti-burocrática. As expressões " alternativo " e " independente " não tem a menor vocação para produto de prateleira sofisticada: na proposta revolucionária, comprometida com a emancipação do proletariado, a arte revela uma alternativa política e não uma alternativa de mercado. Ela é independente na medida em que exige a independência sensível, mental e econômica frente ao sistema vigente. Falando concretamente, como se faz isso? Primeiro politizando o trabalhador da cultura e segundo inserindo a produção artística em sindicatos, escolas e criando publicações que diferem-se da visão cultural reificada da imprensa chapa branca. O artista de classe média em especial, deve se proletarizar e ao romper com a condição imposta pela burguesia (que faz dele um aristocrata pedinte de verbas), descobre que seu papel é tão importante quanto o do operário, do carteiro, do motorista de ônibus, do professor, etc. O artista precisa se comunicar revolucionariamente com o seu povo, estando inserido nas tradições da cultura popular e exercendo um trabalho dentro das particularidades nacionais(e não se perder no idealismo universalizante). Ao se reconhecer enquanto trabalhador, produtor, o artista participa claramente da luta política.
Uma produção artística de esquerda constrói relações sociais e econômicas na direção do socialismo e não do capitalismo.
Lúcia Gravas
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Godard pergunta e Glauber Rocha responde:
Mulher grávida: - Desculpe interromper a luta de classes, mas você poderia por favor me mostrar o caminho para o cinema político?
Glauber Rocha: - Por ali é o cinema desconhecido da aventura estética e da especulação filosófica, por aqui é o cinema do terceiro mundo, um cinema perigoso divino, maravilhoso, e aqui as questões são práticas, questão de produção de mercado, e, no caso brasileiro, formar 300 cineastas para fazer 600 filmes por ano, para alimentar um dos maiores mercados do mundo.
Diálogo presente no filme Vent d´lest(1969), roteirizado por Jean Luc Godard e dirigido pelo grupo Vertov.
domingo, 15 de setembro de 2013
O marxismo perante a arte das periferias brasileiras:
As palavras arte e povo estão atravessando no Brasil, pelo menos durante as duas últimas décadas, uma reviravolta sem paralelos da História contemporânea. As periferias brasileiras estão acumulando uma produção artística que rejeita a ideia de cultura enquanto monopólio da classe dominante. Hoje somente na cidade de São Paulo, ocorrem mais de cinquenta saraus nas periferias, ao mesmo tempo em que o hip hop define novas dimensões para a arte pública e a música de protesto. Iniciativas educativas, shows de Rap e Funk realizados pelas e para as comunidades, além das chamadas literatura periférica e prisional, consolidam um processo de luta cultural no qual o proletariado se desfaz cada vez mais da condição de objeto das obras de arte para ser autor de sua própria arte.
Companheiros, isto não é pouca coisa! Mesmo não sendo a primeira vez que chamamos a atenção para esta mudança histórica, nunca é pouco insistir na superação do populismo e da demagogia quando o assunto é a arte das periferias: os trabalhadores não necessitam mais da mediação do intelectual de classe média. No entanto, quando este último torna-se um traidor de sua classe e consequentemente um revolucionário ao lado do proletariado, ele pode dar uma grande contribuição teórica e prática, já que séculos de História da arte e da literatura foram negados pela divisão social do trabalho. Algum literato pequeno burguês poderia afirmar que " o trabalhador não lê ". Esta afirmação é um erro de quem não faz a menor ideia do que se passa nas periferias: se a alienação é um fato obstrutor da consciência política em todos os segmentos sociais, hoje em muitas periferias existe um público leitor da literatura produzida pelas próprias comunidades. Talvez quem encha a boca para falar da " ignorância das massas " talvez não queira que elas nunca estejam esclarecidas quanto a sua própria condição social.
Pergunta decisiva: podemos afirmar que toda esta agitação artística das periferias refere-se a arte revolucionária? Sob muitos aspectos falta clareza, discernimento ideológico entre muitos rappers, grafiteiros e escritores quando o assunto é não apenas a luta de classes mas sua superação histórica. Mas acontece que este não é um obstáculo intransponível já que dentro da cultura " oficial " o marxismo tornou-se uma heresia. Não tenham dúvidas de que é dentro da produção cultural das periferias que o marxismo pode hoje florescer(este é o espaço social que justifica a sua existência enquanto filosofia revolucionária). Mas como a reflexão marxista pode chegar aos trabalhadores da cultura periférica? O intelectual revolucionário precisa contribuir para a formação de outros intelectuais originários da classe trabalhadora(é o tal do intelectual orgânico de quem Gramsci fala). Seria esta uma tarefa tão difícil assim? Chega de demagogia: o grafite no muro é um insulto fantástico ás galerias de arte, o Rap se consolida (apesar da cooptação) enquanto linguagem musical internacionalista dos oprimidos e os poetas e romancistas das periferias sabem muito bem quem é João Cabral de Melo Neto e Graciliano Ramos. Alguma dúvida de que o marxismo possa dar uma contribuição a toda esta inquietude estética? Nenhuma dúvida, afinal as condições concretas desta produção artística requer o marxismo! Entretanto, cabe aos companheiros organizados estabelecerem estratégias para distribuírem cada vez mais toda a produção artística e literária revolucionária acumulada para estas comunidades(seja por meio de escolas, de centros culturais ou pela própria internet).No caso dos professores por exemplo, sabemos que sua ação política não se resume ao sindicalismo, mas a necessidade de uma pedagogia revolucionária que desperte na juventude a produção cultural anticapitalista.
Resoluções previsíveis? A cultura das periferias expressa uma grande revolta contra o Estado capitalista: a cultura dominante será engolida e definitivamente superada somente quando o pensamento revolucionário temperar a arte da periferia. Se a violência capitalista é sentida de forma intensa nas periferias, então a violência estética que ela resulta é uma força educativa que ajuda a minar a cultura dominante.
Geraldo Vermelhão
Companheiros, isto não é pouca coisa! Mesmo não sendo a primeira vez que chamamos a atenção para esta mudança histórica, nunca é pouco insistir na superação do populismo e da demagogia quando o assunto é a arte das periferias: os trabalhadores não necessitam mais da mediação do intelectual de classe média. No entanto, quando este último torna-se um traidor de sua classe e consequentemente um revolucionário ao lado do proletariado, ele pode dar uma grande contribuição teórica e prática, já que séculos de História da arte e da literatura foram negados pela divisão social do trabalho. Algum literato pequeno burguês poderia afirmar que " o trabalhador não lê ". Esta afirmação é um erro de quem não faz a menor ideia do que se passa nas periferias: se a alienação é um fato obstrutor da consciência política em todos os segmentos sociais, hoje em muitas periferias existe um público leitor da literatura produzida pelas próprias comunidades. Talvez quem encha a boca para falar da " ignorância das massas " talvez não queira que elas nunca estejam esclarecidas quanto a sua própria condição social.
Pergunta decisiva: podemos afirmar que toda esta agitação artística das periferias refere-se a arte revolucionária? Sob muitos aspectos falta clareza, discernimento ideológico entre muitos rappers, grafiteiros e escritores quando o assunto é não apenas a luta de classes mas sua superação histórica. Mas acontece que este não é um obstáculo intransponível já que dentro da cultura " oficial " o marxismo tornou-se uma heresia. Não tenham dúvidas de que é dentro da produção cultural das periferias que o marxismo pode hoje florescer(este é o espaço social que justifica a sua existência enquanto filosofia revolucionária). Mas como a reflexão marxista pode chegar aos trabalhadores da cultura periférica? O intelectual revolucionário precisa contribuir para a formação de outros intelectuais originários da classe trabalhadora(é o tal do intelectual orgânico de quem Gramsci fala). Seria esta uma tarefa tão difícil assim? Chega de demagogia: o grafite no muro é um insulto fantástico ás galerias de arte, o Rap se consolida (apesar da cooptação) enquanto linguagem musical internacionalista dos oprimidos e os poetas e romancistas das periferias sabem muito bem quem é João Cabral de Melo Neto e Graciliano Ramos. Alguma dúvida de que o marxismo possa dar uma contribuição a toda esta inquietude estética? Nenhuma dúvida, afinal as condições concretas desta produção artística requer o marxismo! Entretanto, cabe aos companheiros organizados estabelecerem estratégias para distribuírem cada vez mais toda a produção artística e literária revolucionária acumulada para estas comunidades(seja por meio de escolas, de centros culturais ou pela própria internet).No caso dos professores por exemplo, sabemos que sua ação política não se resume ao sindicalismo, mas a necessidade de uma pedagogia revolucionária que desperte na juventude a produção cultural anticapitalista.
Resoluções previsíveis? A cultura das periferias expressa uma grande revolta contra o Estado capitalista: a cultura dominante será engolida e definitivamente superada somente quando o pensamento revolucionário temperar a arte da periferia. Se a violência capitalista é sentida de forma intensa nas periferias, então a violência estética que ela resulta é uma força educativa que ajuda a minar a cultura dominante.
Geraldo Vermelhão
No mundo contemporâneo o Realismo não é a única resposta(Arte de Retaguarda já!)
Entre o artista e o pedagogo existe uma grande diferença: o processo educativo pela experiência estética não obriga o artista a ser discursivo e tão pouco didático. É claro que o trabalho de um artista pode ser dotado de um caráter pedagógico, assim como o educador pode(e deve) fazer uso da arte para realizar determinado objetivo escolar. A diferença essencial é que a atividade artística, que se quer revolucionária, não lida necessariamente com o aspecto reflexivo por meio da obra. Para este artista as exigências de comunicação visual imediata necessitam antes atingir precisamente o aparelho perceptivo e não se deter em uma mensagem mastigada. Este é o caso das tradições construtivistas no Brasil, que precisam ser pesquisadas pelos militantes dispostos a conectar as transformações políticas com o plano estético.
O companheiro José Ferroso erra mais uma vez quando sugere que a arte revolucionária deve, num momento de crise do conceito de vanguarda, ser exclusivamente um meio de mensagens educativas para os trabalhadores. Para este tipo de raciocínio o realismo torna-se a saída suprema, desprezando assim todo novo contexto técnico, portador de novas possibilidades expressivas. Honestamente, quem está preocupado com o conceito de vanguarda hoje em dia? Mário Pedrosa dizia que é preciso praticar uma arte de retaguarda: mediante a absorção e dominação da cultura de massa, precisamos reatar historicamente com as experiências de vanguarda, promovendo novas leituras e resistindo contra o sistema. O processo histórico que trouxe o concretismo e respectivamente o neoconcretismo, a nova objetividade, a arte ambiental e por fim a antiarte(sem contar as ramificações da Op art e da Pop art neste processo), é um ciclo que não está completo: o que falta é articular a vontade construtiva e descolonizadora da percepção junto com (e não para) a classe trabalhadora. Seria anacrônico retomar o desenvolvimentismo concretista, imerso que estava numa espécie de " estética JK ", assim como da mesma maneira querer repetir as tentativas contraculturais da antiarte. A questão é bem mais complexa: a pesquisa da forma articulada ao corpo e ao espaço, indica uma ruptura com esquemas convencionais da percepção, tornando dispensável o conteúdo temático na arte. Incorporar padrões de comunicação não verbal realizando formas sintéticas, objetivas, sensuais pode possibilitar uma grande participação popular. Isto já seria um tremendo feito político em matéria de arte!
Se seguirmos o raciocínio de Hélio Oiticica, então veremos que é plenamente possível realizarmos proposições aonde supera-se a barreira intelectual entre o artista e o povo(o povo torna-se artista ao criar e não simplesmente público que recebe passivamente a mensagem " revolucionária "). Esta seria uma questão ultrapassada ou ainda é a resposta para não cairmos na demagogia? Não devemos nos preocupar com o fato da historiografia da arte colocar isto como passado ou não. O fato é que os revolucionários podem encontrar nos elementos construtivistas uma grande estratégia para se combater os signos da classe dominante. Se os governos(não apenas latino americanos) encaram o cidadão enquanto consumidor e não enquanto agente histórico, estas referências estéticas impulsionam a participação e o despertar da criatividade das comunidades. Seria esta uma visão pequeno-burguesa? Basta observar a geração de Maiakóvski quando o bolchevismo parecia fundir-se nas práticas construtivistas na construção de uma cultura revolucionária. Evidentemente que o realismo(um realismo livre e dinâmico, não o jurássico realismo socialista) pode ser aproveitado enquanto estratégia para a arte revolucionária. Mas convenhamos que ainda é muito pouco. Somente a partir de uma pesquisa aprofundada dos signos e das formas visuais de comunicação é que poderemos iniciar a Revolução no plano cultural. É preciso CONSTRUIR as saídas expressivas e não oferecer receitas de bolo.
Os Independentes
O companheiro José Ferroso erra mais uma vez quando sugere que a arte revolucionária deve, num momento de crise do conceito de vanguarda, ser exclusivamente um meio de mensagens educativas para os trabalhadores. Para este tipo de raciocínio o realismo torna-se a saída suprema, desprezando assim todo novo contexto técnico, portador de novas possibilidades expressivas. Honestamente, quem está preocupado com o conceito de vanguarda hoje em dia? Mário Pedrosa dizia que é preciso praticar uma arte de retaguarda: mediante a absorção e dominação da cultura de massa, precisamos reatar historicamente com as experiências de vanguarda, promovendo novas leituras e resistindo contra o sistema. O processo histórico que trouxe o concretismo e respectivamente o neoconcretismo, a nova objetividade, a arte ambiental e por fim a antiarte(sem contar as ramificações da Op art e da Pop art neste processo), é um ciclo que não está completo: o que falta é articular a vontade construtiva e descolonizadora da percepção junto com (e não para) a classe trabalhadora. Seria anacrônico retomar o desenvolvimentismo concretista, imerso que estava numa espécie de " estética JK ", assim como da mesma maneira querer repetir as tentativas contraculturais da antiarte. A questão é bem mais complexa: a pesquisa da forma articulada ao corpo e ao espaço, indica uma ruptura com esquemas convencionais da percepção, tornando dispensável o conteúdo temático na arte. Incorporar padrões de comunicação não verbal realizando formas sintéticas, objetivas, sensuais pode possibilitar uma grande participação popular. Isto já seria um tremendo feito político em matéria de arte!
Se seguirmos o raciocínio de Hélio Oiticica, então veremos que é plenamente possível realizarmos proposições aonde supera-se a barreira intelectual entre o artista e o povo(o povo torna-se artista ao criar e não simplesmente público que recebe passivamente a mensagem " revolucionária "). Esta seria uma questão ultrapassada ou ainda é a resposta para não cairmos na demagogia? Não devemos nos preocupar com o fato da historiografia da arte colocar isto como passado ou não. O fato é que os revolucionários podem encontrar nos elementos construtivistas uma grande estratégia para se combater os signos da classe dominante. Se os governos(não apenas latino americanos) encaram o cidadão enquanto consumidor e não enquanto agente histórico, estas referências estéticas impulsionam a participação e o despertar da criatividade das comunidades. Seria esta uma visão pequeno-burguesa? Basta observar a geração de Maiakóvski quando o bolchevismo parecia fundir-se nas práticas construtivistas na construção de uma cultura revolucionária. Evidentemente que o realismo(um realismo livre e dinâmico, não o jurássico realismo socialista) pode ser aproveitado enquanto estratégia para a arte revolucionária. Mas convenhamos que ainda é muito pouco. Somente a partir de uma pesquisa aprofundada dos signos e das formas visuais de comunicação é que poderemos iniciar a Revolução no plano cultural. É preciso CONSTRUIR as saídas expressivas e não oferecer receitas de bolo.
Os Independentes
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Uma manhã no coração da África
Durante mil anos tu, negro, sofreste como um animal.
tuas cinzas foram espalhadas ao vento no deserto.
Teus tiranos construiram os templos mágicos e brilhantes.
onde preservam tua alma, onde preservam teu sofrimento:
o bárbaro direito dos punhos e o direito branco ao chicote.
Tu tinhas direito de morrer, também podias chorar.
Em teu totem esculpiram fome e cativeiros sem fim.
E no abrigo dos bosques aceitavas uma morte- horrivelmente cruel,
oculta desafiadora com galhos
de espinheiros e copas de árvores.
Cingindo teu corpo e tua dolente alma.
então puseram uma grande víbora traiçoeira em teu peito.
Em teu colo colocaram o jugo da aguardente.
Trocaram tua vida agradável pelo brilho das pérolas baratas.
tuas maravilhosas e incomensuráveis riquezas.
Da tua choça, o tantã soava na escuridão da noite.
levando tristes lamentos para as fontes de rios poderosos
sobre jovens violadas, rios de sangue e lágrimas,
sobre barcos que zarpavam para o país, onde o homenzinho
se agita como num formigueiro, e onde o dólar é rei.
na terra condenada, que chamam de mãe pátria.
Ali teu filho e tua esposa foram esmagados, dia e noite,
por um moinho desapiedado, destroçando-os
com terrível dor
Eras um homem como outros . Pregaram para que cresses
que o bom deus branco reconciliara por fim todos os homens.
pelo fogo sofreste, e cantaste os cantos plangentes
do mendigo sem lugar, que canta nas portas das casas.
E quando a loucura te possuiu e teu sangue ferveu na noite,
dançaste, gemeste
como a fúria de uma tormenta nas palavras de uma
melodia humana
De mil anos de padecimentos, surgiu uma força de ti.
na voz metálica do jazz, um grito de libertação desconhecido,
que ressoou no continente como uma marulhada gigante.
O mundo inteiro, surpreendido, despertou aterrorizado
com o ritmo violento do sangue, o ritmo violento do jazz.
O branco empalideceu ante este novo canto.
que carrega tochas purpúreas na escuridão da noite.
Chegou a alvorada, irmão , a alvorada! Olha nossos rostos
Uma nova manhã desponta na nossa velha África.
Só nossa será a terra, a água, os rios poderosos ,
que o pobre negro entregou durante mil anos.
E as resplandecentes luzes do sol brilharão de novo para nós.
secarão as lágrimas em teus olhos e as cusparadas de tua cara.
Enquanto rompes tuas cadeias, os grilhões pesados,
os tempos malvados e cruéis irão para não voltar mais.
Um Congo livre e bravo surgirá da alma negra.
Um Congo livre e bravo. O florescer negro, a semente negra!
Patrice Lumumba
tuas cinzas foram espalhadas ao vento no deserto.
Teus tiranos construiram os templos mágicos e brilhantes.
onde preservam tua alma, onde preservam teu sofrimento:
o bárbaro direito dos punhos e o direito branco ao chicote.
Tu tinhas direito de morrer, também podias chorar.
Em teu totem esculpiram fome e cativeiros sem fim.
E no abrigo dos bosques aceitavas uma morte- horrivelmente cruel,
oculta desafiadora com galhos
de espinheiros e copas de árvores.
Cingindo teu corpo e tua dolente alma.
então puseram uma grande víbora traiçoeira em teu peito.
Em teu colo colocaram o jugo da aguardente.
Trocaram tua vida agradável pelo brilho das pérolas baratas.
tuas maravilhosas e incomensuráveis riquezas.
Da tua choça, o tantã soava na escuridão da noite.
levando tristes lamentos para as fontes de rios poderosos
sobre jovens violadas, rios de sangue e lágrimas,
sobre barcos que zarpavam para o país, onde o homenzinho
se agita como num formigueiro, e onde o dólar é rei.
na terra condenada, que chamam de mãe pátria.
Ali teu filho e tua esposa foram esmagados, dia e noite,
por um moinho desapiedado, destroçando-os
com terrível dor
Eras um homem como outros . Pregaram para que cresses
que o bom deus branco reconciliara por fim todos os homens.
pelo fogo sofreste, e cantaste os cantos plangentes
do mendigo sem lugar, que canta nas portas das casas.
E quando a loucura te possuiu e teu sangue ferveu na noite,
dançaste, gemeste
como a fúria de uma tormenta nas palavras de uma
melodia humana
De mil anos de padecimentos, surgiu uma força de ti.
na voz metálica do jazz, um grito de libertação desconhecido,
que ressoou no continente como uma marulhada gigante.
O mundo inteiro, surpreendido, despertou aterrorizado
com o ritmo violento do sangue, o ritmo violento do jazz.
O branco empalideceu ante este novo canto.
que carrega tochas purpúreas na escuridão da noite.
Chegou a alvorada, irmão , a alvorada! Olha nossos rostos
Uma nova manhã desponta na nossa velha África.
Só nossa será a terra, a água, os rios poderosos ,
que o pobre negro entregou durante mil anos.
E as resplandecentes luzes do sol brilharão de novo para nós.
secarão as lágrimas em teus olhos e as cusparadas de tua cara.
Enquanto rompes tuas cadeias, os grilhões pesados,
os tempos malvados e cruéis irão para não voltar mais.
Um Congo livre e bravo surgirá da alma negra.
Um Congo livre e bravo. O florescer negro, a semente negra!
Patrice Lumumba
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
SOY CUBA e a arte latino americana
Num momento em que o governo brasileiro importa médicos cubanos, seria muito útil que o Brasil importasse também a arte revolucionária cubana.Se a saúde pública sofre com os efeitos do subdesenvolvimento(" economia emergente " sem saúde, educação e com pratos vazios? ), a arte que educa ideologicamente o povo, precisa se fortalecer e sair da cama de hospital. Quando a palavra vanguarda perdeu completamente o seu pé e práticas como performances se desgastaram por completo(até a Lady Gaga faz performance!, que constrangedor!), é preciso que os artistas engajados e consequentes lutem pelo socialismo dentro da sua própria atividade criadora. Cuba ainda não desceu pela guela dos norte-americanos e sua produção artística nas mais diversas áreas, pode nos fazer lembrar que se pretendemos ser revolucionários é porque somos antes de tudo revolucionários latino-americanos. Parece que isto não está claro para muitos militantes que preferem o V de Vingança ao charuto raçudo e as formas artísticas provenientes da fusão entre as culturas ibéricas e as culturas afro e indígenas. Esta questão não é colocada nem mesmo para muita gente deste blog, mais preocupada com poetas franceses, rock ' n ' roll, punk, etc.
Tentativas artísticas honestas são frequentes entre militantes. No entanto existem peculiaridades culturais que permeiam toda a América latina, e que quando se resolvem no campo da expressão artística, precisam gerar autenticidade: os problemas sociais revelados junto ás particularidades das culturas populares latino americanas. Acontece que mesmo quando ocorrem tentativas revolucionárias na literatura, no cinema , no teatro, nas artes visuais, etc, muitas vezes o artista ideologicamente bem intencionado corre o perigo de agir como os franceses, os russos, os alemães e por ai vai. Não que o artista latino americano não possa estar influenciado pela arte e pela literatura europeia ou norte americana, mas ele precisa antes estar enraizado nas culturas do seu próprio solo. No caso cubano que enfatizo aqui, o filme Soy Cuba de 1964, é um registro desta contradição entre a vontade de tratar de um assunto politicamente revolucionário mas com uma forma que não corresponde ao caldo cultural do povo cubano situado concretamente.
O longa Soy Cuba dirigido pelo cineasta soviético Mikai Kalatosov foi uma coprodução entre Cuba e a extinta União Soviética. Durante 14 meses Kalatosov esteve na ilha de Cuba filmando este belo registro dos tempos da guerra fria. Era um momento em que o imperialismo norte americano aumentava o tom de voz perante o governo revolucionário de Fidel Castro e Che Guevara, que se filiava politicamente ao bloco soviético(destino certo já que após arrebentar com a ditadura hedionda de Fulgêncio Batista, tentava-se aplicar o socialismo na ilha). Enquanto que no plano econômico e militar Cuba vendia açúcar para a URSS e esta fornecia armas e outras coisas, no plano cultural a realização de um filme em conjunto parecia ser uma boa ideia. Técnicos e o próprio povo cubano participam das filmagens, conseguindo por exemplo um feito de mobilizar 5 mil soldados para as gravações(isto nos faz lembrar Eisenstein que aprontava com suas obras primas na década de vinte).
É preciso dizer que se trata de um filme muito bom, sobretudo pela fotografia magistral de Serguei Urushevski. É um belo filme de propaganda, pois propaga claramente a ideia socialista. Alguém poderia dizer em tom de protesto: " Mas Soy Cuba é puro Realismo Socialista! Este filme é uma porcaria !". Bem, de fato existem características estéticas que remetem ao Realismo Socialista: um discurso excessivamente demonstrativo junto ás tomadas grandiosas, além de um certo maniqueísmo.Qual seria o problema disso sob o ponto de vista revolucionário? Definitivamente o problema não está na ausência de recursos vanguardistas: o objetivo maior do artista revolucionário é se comunicar com o povo, o que não permite experimentalismo cujo único resultado só pode ser o subjetivismo pequeno-burguês. O problema em importar o Realismo Socialista para o contexto latino americano encontra-se em todo ato de importação artística que não passa pelas necessidades expressivas da localidade. A lente soviética de Soy Cuba não registra o discurso do povo cubano sobre a Revolução de 1959, mas o olhar de artistas russos sobre este acontecimento histórico. Ainda que o filme denuncie o quadro social anterior á Revolução, ou seja toda a miséria econômica das favelas, a prostituição no cabarét, a máfia norte americana se divertindo, o vendedor de laranjas, a repressão política aos estudantes e mesmo a paisagem tropical, o filme embora tecnicamente competente não entrou na pele dos cubanos. O fracasso do filme tanto em Havana quanto em Moscou, se explica dentre várias razões pelo filme não ser uma narrativa sobre a Revolução cubana enraizada na própria cultura latino americana. É compreensível que muitos técnicos e artistas cubanos estivessem menos interessados no resultado estético de Soy Cuba e muito mais interessados no movimento brasileiro do Cinema Novo, já que nos filmes brasileiros está presente uma arte revolucionária de fato latino americana, porque registra do lado de dentro as realidades do subdesenvolvimento no continente.
É pura bobagem dizer que tudo o que se faz em Cuba seja Realismo Socialista; inclusive a literatura cubana revolucionária, por exemplo, tem neste modelo estético apenas uma referência dentre muitas outras. Toda esta produção precisa ser discutida pelos brasileiros(inclusive Soy Cuba, pelos erros formais/culturais mas também pelo que ele pode contribuir enquanto modelo de propaganda revolucionária para os filmes de hoje). Enquanto o Brasil não resolver seus problemas econômicos, estruturais, continuaremos importando médicos e filmes de Hollywood.
José Ferroso
Tentativas artísticas honestas são frequentes entre militantes. No entanto existem peculiaridades culturais que permeiam toda a América latina, e que quando se resolvem no campo da expressão artística, precisam gerar autenticidade: os problemas sociais revelados junto ás particularidades das culturas populares latino americanas. Acontece que mesmo quando ocorrem tentativas revolucionárias na literatura, no cinema , no teatro, nas artes visuais, etc, muitas vezes o artista ideologicamente bem intencionado corre o perigo de agir como os franceses, os russos, os alemães e por ai vai. Não que o artista latino americano não possa estar influenciado pela arte e pela literatura europeia ou norte americana, mas ele precisa antes estar enraizado nas culturas do seu próprio solo. No caso cubano que enfatizo aqui, o filme Soy Cuba de 1964, é um registro desta contradição entre a vontade de tratar de um assunto politicamente revolucionário mas com uma forma que não corresponde ao caldo cultural do povo cubano situado concretamente.
O longa Soy Cuba dirigido pelo cineasta soviético Mikai Kalatosov foi uma coprodução entre Cuba e a extinta União Soviética. Durante 14 meses Kalatosov esteve na ilha de Cuba filmando este belo registro dos tempos da guerra fria. Era um momento em que o imperialismo norte americano aumentava o tom de voz perante o governo revolucionário de Fidel Castro e Che Guevara, que se filiava politicamente ao bloco soviético(destino certo já que após arrebentar com a ditadura hedionda de Fulgêncio Batista, tentava-se aplicar o socialismo na ilha). Enquanto que no plano econômico e militar Cuba vendia açúcar para a URSS e esta fornecia armas e outras coisas, no plano cultural a realização de um filme em conjunto parecia ser uma boa ideia. Técnicos e o próprio povo cubano participam das filmagens, conseguindo por exemplo um feito de mobilizar 5 mil soldados para as gravações(isto nos faz lembrar Eisenstein que aprontava com suas obras primas na década de vinte).
É preciso dizer que se trata de um filme muito bom, sobretudo pela fotografia magistral de Serguei Urushevski. É um belo filme de propaganda, pois propaga claramente a ideia socialista. Alguém poderia dizer em tom de protesto: " Mas Soy Cuba é puro Realismo Socialista! Este filme é uma porcaria !". Bem, de fato existem características estéticas que remetem ao Realismo Socialista: um discurso excessivamente demonstrativo junto ás tomadas grandiosas, além de um certo maniqueísmo.Qual seria o problema disso sob o ponto de vista revolucionário? Definitivamente o problema não está na ausência de recursos vanguardistas: o objetivo maior do artista revolucionário é se comunicar com o povo, o que não permite experimentalismo cujo único resultado só pode ser o subjetivismo pequeno-burguês. O problema em importar o Realismo Socialista para o contexto latino americano encontra-se em todo ato de importação artística que não passa pelas necessidades expressivas da localidade. A lente soviética de Soy Cuba não registra o discurso do povo cubano sobre a Revolução de 1959, mas o olhar de artistas russos sobre este acontecimento histórico. Ainda que o filme denuncie o quadro social anterior á Revolução, ou seja toda a miséria econômica das favelas, a prostituição no cabarét, a máfia norte americana se divertindo, o vendedor de laranjas, a repressão política aos estudantes e mesmo a paisagem tropical, o filme embora tecnicamente competente não entrou na pele dos cubanos. O fracasso do filme tanto em Havana quanto em Moscou, se explica dentre várias razões pelo filme não ser uma narrativa sobre a Revolução cubana enraizada na própria cultura latino americana. É compreensível que muitos técnicos e artistas cubanos estivessem menos interessados no resultado estético de Soy Cuba e muito mais interessados no movimento brasileiro do Cinema Novo, já que nos filmes brasileiros está presente uma arte revolucionária de fato latino americana, porque registra do lado de dentro as realidades do subdesenvolvimento no continente.
É pura bobagem dizer que tudo o que se faz em Cuba seja Realismo Socialista; inclusive a literatura cubana revolucionária, por exemplo, tem neste modelo estético apenas uma referência dentre muitas outras. Toda esta produção precisa ser discutida pelos brasileiros(inclusive Soy Cuba, pelos erros formais/culturais mas também pelo que ele pode contribuir enquanto modelo de propaganda revolucionária para os filmes de hoje). Enquanto o Brasil não resolver seus problemas econômicos, estruturais, continuaremos importando médicos e filmes de Hollywood.
José Ferroso
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
LITERATURA NACIONAL E POPULAR
(...) Falta uma identidade de concepção do mundo entre " escritores " e " povo "; ou seja , os sentimentos populares não são vividos como próprios pelos escritores, nem os escritores desempenham uma função educadora nacional , isto é, não se colocaram e não se colocam o problema de elaborar os sentimentos populares após tê-los revivido e deles se apropriado. A crítica nem sequer coloca tais problemas; não sabe extrair as conclusões realistas do fato de que, se os romances de cem anos atrás agradam , isto significa que o gosto e a ideologia do povo são precisamente os de cem anos atrás.
Antonio Gramsci, 1926(?)
Antonio Gramsci, 1926(?)
sábado, 7 de setembro de 2013
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Que se leia Benjamin Péret!
A melhor coisa que um revolucionário pode fazer no " dia da pátria ", é ir ao botequim mais próximo, ou a até a praça mais próxima, e ler em voz alta (e com violência) algum poema de Benjamin Péret. Este feito já seria uma modesta tentativa para desmistificar todas as pátrias e promover a verdade surrealista da revolta e do amor. O difícil no entanto, é encontrar poemas de Péret, já que as editoras não dão a menor bola para a poesia selvagem deste rebelde incorrigível. Péret ainda assusta: além de ter sido um dos fundadores do movimento surrealista em Paris, ele deixou nossos modernistas de cabelo em pé, despertou o ódio de fascistas com sua militância comunista, enfezou stalinistas quando adere ao trotskismo, deixou trotskistas perplexos ao colaborar com anarquistas, retirou a poeira dos estudos históricos e antropológicos do Brasil ao problematizar a cultura afro e o Quilombo de Palmares, deu uma lição de agitação e propaganda ao valorizar a arte revolucionária no nosso movimento operário, etc, etc e tal...
Fica a nossa sugestão para os companheiros procurarem saber mais sobre Péret.
Os Independentes
Fica a nossa sugestão para os companheiros procurarem saber mais sobre Péret.
Os Independentes
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
ARTE REVOLUCIONÁRIA HOJE: Texto-conferência destinado aos companheiros da fábrica Flaskô, em Sumeré-SP
Não sendo esta exposição destinada ao público burguês ou pequeno-burguês, nos parece adequado substituirmos a solene expressão " senhoras e senhores " por companheiras e companheiros. A carga ideológica que estes termos possuem é de extrema importância para situarmos com precisão a quais fins as palavras que vem a seguir servem.Se nos encontramos aqui reunidos para contribuirmos com o debate cultural dentro da perspectiva do socialismo, é com muita alegria que gostaríamos de tratar da discussão e da produção daquilo que julgamos ser arte revolucionária.Este tema é abordado aqui a partir do ponto de vista militante. Tal atitude se fundamenta no fato de que para nós arte é trabalho, produção, luta, construção, ideologia e não entretenimento ou passa tempo dramático para " gênios " comprometidos com o capital. Antes de examinarmos o que significa e o que pode significar arte revolucionária, enfatizando especialmente a importância estratégica do audiovisual hoje, vejamos o que a atual conjuntura exige de todos nós.
Sabemos como são grandes os esforços dos artistas e dos intelectuais, atrelados ao capitalismo, para desmoralizar aqueles que defendem as necessárias relações entre arte e política, no sentido de traduzir a luta política pela transformação social. Um exemplo recente disso foi quando durante a última edição da Feira Internacional de Paraty(a FLIP) o escritor irlandês John Banville disse(sob aplausos entusiasmados do público...) que " não dá para misturar arte e política ". Este acontecimento representa apenas uma pequena parte do que assistimos diariamente em muitas universidades, escolas e veículos de imprensa. Porém, é diante desta situação(compreensível já que o capitalismo possui os seus paladinos, mesmo quando estes são artistas ou teóricos das artes), que temos a certeza de estarmos aqui diante do público certo: São vocês, ou seja militantes revolucionários, que possuem as condições históricas para produzir arte revolucionária. Estejam certos que não serão os patéticos " artistas profissionais " que infectam os meios de comunicação de massa bem como as escolas e instituições artísticas, que irão avançar neste terreno. As condições econômicas do proletariado somadas aos esforços de militantes e estudantes, devem se resolver simbolicamente na elaboração de uma arte rebelada. Companheiros! Esta arte, enquanto possibilidade, já existe: com as jornadas de junho uma grande quantidade de cartazes, vídeos e outras expressões artísticas vem ganhando corpo(e tudo indica que elas devem se desenvolver durante os próximos tempos).
No atual contexto técnico, a facilidade para se publicar textos literários e imagens, assim como editar vídeos e canções, comprovam que os meios de produção artísticos tendem cada vez mais a se socializarem, deixando de ser tão somente meios controlados pela burguesia. Entretanto, como e o que criar? Se julgamos que a arte possui um papel revolucionário, então devemos compreender como arte e revolução podem se fundir na palavra de ordem arte revolucionária. Alguém poderia perguntar: " Mas como a arte pode ser revolucionária quando não existe nenhuma Revolução política acontecendo? ". Nós respondemos que a Revolução não é um processo homogêneo e sem nos preocuparmos em data-la, defendemos que a arte participa ativamente da construção da realidade revolucionária: a experiência estética atinge uma dimensão que a política institucional não consegue faze-lo, ou seja, o dado sensível, a percepção, que deve ser revolucionada para que o homem que fala em socialismo não seja espiritualmente condicionado pela educação e pela cultura burguesas.
O sentido tradicional da palavra arte sobrevive de maneira hipócrita e um tanto constrangedora nas mercadorias: As Belas Artes, a " alta " literatura, o teatro plantado no palco italiano, assim como as obras prestigiadas da música e do cinema, não passam de mercadorias luxuosas num momento em que a arte contemporânea destruiu os limites entre a representação e a coisa representada, e a cultura de massa já possui os seus " clássicos "( hoje em dia até comercial de sabão em pó pode ser celebrado enquanto obra de arte clássica!). Sem dúvida que o proletariado deve apropriar-se das tradições da " alta cultura ", afinal era o que Lênin e Trotski já defendiam no século passado. Entretanto, gostaríamos de chamar a atenção para uma tradição de ruptura, que no atual momento histórico pode ser relida pelos trabalhadores da cultura que encontram nela elementos estéticos a serem aproveitados: os movimentos de vanguarda(futurismo, cubismo, expressionismo, construtivismo, etc), a revolta dadaísta, a experiência libertária do surrealismo, a arte pop, a arte concreta brasileira, a contracultura, a estética punk, a moderna literatura engajada, o teatro político moderno, cinema de autor, etc. É preciso que toda esta herança que já anunciava o fato de não existir saída para a arte(e para a expressão humana) dentro do capitalismo, esteja hoje nas mãos da classe operária. Isto não significa que os trabalhadores não possam encontrar um fermento combativo dentro do seu próprio cotidiano: o folclore e as tradições regionalistas assim como as culturas do samba e do hip hop do mundo urbano, são trilhas vitais por onde passa a arte revolucionária.
Diante disso tudo, uma segunda pergunta pode ser feita: " Arte revolucionária seria tão somente aquela que tem por tema, por objeto, os dramas do proletariado ou aquela que pela sua linguagem anárquica e rebelde ataca a sociedade burguesa? ". Ou ainda: " Seria uma arte que apresenta novas relações com o espaço, com o corpo e revela a subversão dos signos da cultura dominante?". Afirmamos que a resposta passa por todas essas diferentes resoluções estéticas ,pois fundamental para se pensar arte revolucionária é primeiramente ter a clareza de que ela é necessariamente plural. Devemos no entanto, chamar a atenção para uma questão importante sobre as relações entre as formas artísticas e a temática política: cabe ao artista em sua liberdade tratar da política dentro da sua própria expressão e não submeter a segunda á primeira; afinal de contas o stalinismo já apresentou exemplos desastrosos ao submeter a arte aos ditames políticos. Quem seria o artista revolucionário, ideologicamente falando? Não tem o menor sentido aprisionar a produção e o significado político da arte revolucionária a uma determinada corrente ideológica. Acreditamos que dentro da ótica anticapitalista, socialistas, comunistas e anarquistas não devam se preocupar com qualquer tipo de barreira estética entre si.
Devemos voltar agora ás novas realidades produtivas da imagem. Numa sociedade aonde o audiovisual impulsionado pela mídia televisiva e amplamente pelo digital, torna-se uma forma de dominação e controle ideológico, não restam dúvidas de que as câmeras em punho revelam uma estratégia que não pode ser politicamente ignorada. Com o limite tradicional entre as linguagens artísticas finalmente superado, tanto o poeta quanto o pintor, e mais importante, o trabalhador, que produz arte, compreendem a câmera enquanto ferramenta de resistência. Se o olhar conservador paira sobre nós com discursos publicitários e religiosos, o olhar revolucionário nasce e se multiplica com a imagem em movimento.
Estratégico portanto é redimencionalizar o papel social do cinema que não está mais apenas nas salas escuras de exibição, mas em centenas de telas que funcionam ao mesmo tempo em vários suportes diferentes!Cabe a nós, companheiros, entendermos que a câmera é tão fundamental quanto o cartaz e o panfleto, com o acréscimo de que ela potencializa esteticamente a educação revolucionária das massas.
Por fim, enquanto militantes da cultura que concentram parte de seus esforços num blog denominado Lanterna, alegamos a necessidade da criação de outras publicações de arte revolucionária. Nós temos os meios, resta agora nos apropriarmos da tradição e dialeticamente criarmos manifestações que contribuam para a ruína da civilização capitalista. Este será o momento em que a arte não será oficio de especialistas e mercadoria luxuosa. Vamos com nossas ações construir esta evidência histórica.
Orestes Toledo/Afonso Machado
Sabemos como são grandes os esforços dos artistas e dos intelectuais, atrelados ao capitalismo, para desmoralizar aqueles que defendem as necessárias relações entre arte e política, no sentido de traduzir a luta política pela transformação social. Um exemplo recente disso foi quando durante a última edição da Feira Internacional de Paraty(a FLIP) o escritor irlandês John Banville disse(sob aplausos entusiasmados do público...) que " não dá para misturar arte e política ". Este acontecimento representa apenas uma pequena parte do que assistimos diariamente em muitas universidades, escolas e veículos de imprensa. Porém, é diante desta situação(compreensível já que o capitalismo possui os seus paladinos, mesmo quando estes são artistas ou teóricos das artes), que temos a certeza de estarmos aqui diante do público certo: São vocês, ou seja militantes revolucionários, que possuem as condições históricas para produzir arte revolucionária. Estejam certos que não serão os patéticos " artistas profissionais " que infectam os meios de comunicação de massa bem como as escolas e instituições artísticas, que irão avançar neste terreno. As condições econômicas do proletariado somadas aos esforços de militantes e estudantes, devem se resolver simbolicamente na elaboração de uma arte rebelada. Companheiros! Esta arte, enquanto possibilidade, já existe: com as jornadas de junho uma grande quantidade de cartazes, vídeos e outras expressões artísticas vem ganhando corpo(e tudo indica que elas devem se desenvolver durante os próximos tempos).
No atual contexto técnico, a facilidade para se publicar textos literários e imagens, assim como editar vídeos e canções, comprovam que os meios de produção artísticos tendem cada vez mais a se socializarem, deixando de ser tão somente meios controlados pela burguesia. Entretanto, como e o que criar? Se julgamos que a arte possui um papel revolucionário, então devemos compreender como arte e revolução podem se fundir na palavra de ordem arte revolucionária. Alguém poderia perguntar: " Mas como a arte pode ser revolucionária quando não existe nenhuma Revolução política acontecendo? ". Nós respondemos que a Revolução não é um processo homogêneo e sem nos preocuparmos em data-la, defendemos que a arte participa ativamente da construção da realidade revolucionária: a experiência estética atinge uma dimensão que a política institucional não consegue faze-lo, ou seja, o dado sensível, a percepção, que deve ser revolucionada para que o homem que fala em socialismo não seja espiritualmente condicionado pela educação e pela cultura burguesas.
O sentido tradicional da palavra arte sobrevive de maneira hipócrita e um tanto constrangedora nas mercadorias: As Belas Artes, a " alta " literatura, o teatro plantado no palco italiano, assim como as obras prestigiadas da música e do cinema, não passam de mercadorias luxuosas num momento em que a arte contemporânea destruiu os limites entre a representação e a coisa representada, e a cultura de massa já possui os seus " clássicos "( hoje em dia até comercial de sabão em pó pode ser celebrado enquanto obra de arte clássica!). Sem dúvida que o proletariado deve apropriar-se das tradições da " alta cultura ", afinal era o que Lênin e Trotski já defendiam no século passado. Entretanto, gostaríamos de chamar a atenção para uma tradição de ruptura, que no atual momento histórico pode ser relida pelos trabalhadores da cultura que encontram nela elementos estéticos a serem aproveitados: os movimentos de vanguarda(futurismo, cubismo, expressionismo, construtivismo, etc), a revolta dadaísta, a experiência libertária do surrealismo, a arte pop, a arte concreta brasileira, a contracultura, a estética punk, a moderna literatura engajada, o teatro político moderno, cinema de autor, etc. É preciso que toda esta herança que já anunciava o fato de não existir saída para a arte(e para a expressão humana) dentro do capitalismo, esteja hoje nas mãos da classe operária. Isto não significa que os trabalhadores não possam encontrar um fermento combativo dentro do seu próprio cotidiano: o folclore e as tradições regionalistas assim como as culturas do samba e do hip hop do mundo urbano, são trilhas vitais por onde passa a arte revolucionária.
Diante disso tudo, uma segunda pergunta pode ser feita: " Arte revolucionária seria tão somente aquela que tem por tema, por objeto, os dramas do proletariado ou aquela que pela sua linguagem anárquica e rebelde ataca a sociedade burguesa? ". Ou ainda: " Seria uma arte que apresenta novas relações com o espaço, com o corpo e revela a subversão dos signos da cultura dominante?". Afirmamos que a resposta passa por todas essas diferentes resoluções estéticas ,pois fundamental para se pensar arte revolucionária é primeiramente ter a clareza de que ela é necessariamente plural. Devemos no entanto, chamar a atenção para uma questão importante sobre as relações entre as formas artísticas e a temática política: cabe ao artista em sua liberdade tratar da política dentro da sua própria expressão e não submeter a segunda á primeira; afinal de contas o stalinismo já apresentou exemplos desastrosos ao submeter a arte aos ditames políticos. Quem seria o artista revolucionário, ideologicamente falando? Não tem o menor sentido aprisionar a produção e o significado político da arte revolucionária a uma determinada corrente ideológica. Acreditamos que dentro da ótica anticapitalista, socialistas, comunistas e anarquistas não devam se preocupar com qualquer tipo de barreira estética entre si.
Devemos voltar agora ás novas realidades produtivas da imagem. Numa sociedade aonde o audiovisual impulsionado pela mídia televisiva e amplamente pelo digital, torna-se uma forma de dominação e controle ideológico, não restam dúvidas de que as câmeras em punho revelam uma estratégia que não pode ser politicamente ignorada. Com o limite tradicional entre as linguagens artísticas finalmente superado, tanto o poeta quanto o pintor, e mais importante, o trabalhador, que produz arte, compreendem a câmera enquanto ferramenta de resistência. Se o olhar conservador paira sobre nós com discursos publicitários e religiosos, o olhar revolucionário nasce e se multiplica com a imagem em movimento.
Estratégico portanto é redimencionalizar o papel social do cinema que não está mais apenas nas salas escuras de exibição, mas em centenas de telas que funcionam ao mesmo tempo em vários suportes diferentes!Cabe a nós, companheiros, entendermos que a câmera é tão fundamental quanto o cartaz e o panfleto, com o acréscimo de que ela potencializa esteticamente a educação revolucionária das massas.
Por fim, enquanto militantes da cultura que concentram parte de seus esforços num blog denominado Lanterna, alegamos a necessidade da criação de outras publicações de arte revolucionária. Nós temos os meios, resta agora nos apropriarmos da tradição e dialeticamente criarmos manifestações que contribuam para a ruína da civilização capitalista. Este será o momento em que a arte não será oficio de especialistas e mercadoria luxuosa. Vamos com nossas ações construir esta evidência histórica.
Orestes Toledo/Afonso Machado
domingo, 1 de setembro de 2013
Trecho do manifesto " Á LUZ DA DIALÉTICA MARXISTA, O PAPEL DO ARTISTA... ", de Oswald de Andrade
Mais do que uma referência teórica, Oswald de Andrade é um companheiro de ideias indispensável nos caminhos do nosso blog. Ele foi um revolucionário na medida em que ao engendrar a subversão na forma e no conteúdo, acabou por conceber a literatura e a arte enquanto materiais inflamáveis. Seu humor corrosivo e sua violência estética são lições no combate ao lado sisudo, solene e careta de uma boa parte da esquerda, que precisa ser descolonizada(a destruição da cultura dominante depende disso). É com muito entusiasmo que publicamos aqui o trecho de um desconhecido manifesto de Oswald: " Á luz da dialética marxista, o papel do artista... ", vinculado á Associação dos Escritores e Artistas Revolucionários de São Paulo, durante a década de trinta. O texto que já foi apresentado pela historiadora Mirna Aragão em seu ensaio " Oswald de Andrade em dois tempos: a militância e o moderno através de O Rei da Vela "(este integra a interessantíssima obra " Livros Vermelhos: literatura, trabalhadores e militância no Brasil ", organizado pelo historiador Marcelo Badaró Mattos), pertence a um momento ainda pouco estudado da obra e da vida de Oswald: os anos trinta.
O motivo para este silêncio parcial(afinal já foram lançados estudos bacanas sobre a obra de Oswald nesta época) está na cara, já que a década de trinta envolveu a militância comunista do escritor( isso perturba boa parte dos acadêmicos que usam só a mão direita na hora de colocar os óculos). Oswald e a igualmente fundamental escritora Patrícia Galvão(que nos influencia tanto quanto o primeiro) arrebentaram a boca do balão através de uma ousada militância artística e política nos tensos anos 30. Logicamente não dá pra engolir tudo o que o Oswald Vermelho diz, mas mesmo quando ele tenta ser stalinista, seu temperamento anarquista e sua natureza antropofágica o levam, como é sabido, ao maravilhoso paradoxo do " marxismo libertário ".
A iniciativa de publicar este documento referência dentro da Arte Revolucionária, partiu especificamente da rapaziada do movimento antropofágico da Terceira Dentição, que atua bravamente na cidade de Campinas desde 2007 e colabora com o Lanterna desde a sua fundação, em 2011. Cabe destacar que a turma da Terceira Dentição(que debate entre si e inclusive discorda de várias passagens do presente manifesto) se ocupa, há quase um ano em suas pesquisas estéticas, do estudo da obra de Oswald de Andrade nos anos trinta. A seguir, o trecho do manifesto.
CONSELHO EDITORIAL LANTERNA
Á LUZ DA DIALÉTICA MARXISTA, O PAPEL DO ARTISTA...
Á luz da dialética marxista, o papel do artista, detentor do patrimônio artístico coletivo, adquire um poderoso sentido.
A lógica da luta de classes impõe-se ao artista em todas as suas consequências, ele lhe pergunta quem ele deve seguir, contra quem ele deve lutar.
O desenvolvimento acelerado dos acontecimentos, as perturbações percussoras de revolução, o socialismo triunfante na URSS, obrigam-no a tomar partido(...)
Em todos os países vindos de todos os horizontes, saídos de todas as classes sociais os intelectuais se levantam para a luta e protestam.
Não há pretexto com que o artista possa legitimar a sua neutralidade social.
O artista é sempre um ser social misturado ao meio social, cujo papel é transcrever pelos meios que lhe confere a vida econômica, a substância da sua época e nesse sentido a arte se parece com a vida.
As maiores épocas da arte corresponderam sempre a um período de desenvolvimento social, uma renovação econômica. No regime atual, com a desordem e a crise que caracterizam esse período da evolução capitalista, o artista, pelas possibilidades que lhe são permitidas, só tem valor na proporção de serviço que presta junto á burguesia. Ele é sobretudo um instrumento nas mãos de uma classe e destinado a manter os privilégios dessa classe. É impossível que ele preencha com espontaneidade e liberdade o importante papel que a multidão espera dele.
É preciso denunciar aqui esta pretendida independência do artista. É preciso arrancar o véu do individualismo sob o qual a burguesia quis camuflar a sua influência sobre as forças do espírito, literárias e artísticas.
Não há arte neutra. Não há literatura neutra. E a não posição política para a qual muitos apelam com o fim de ilustrar essa pretendida liberdade de espírito, não é senão a complacência mais ou menos consciente para com o " status quo " e para com o regime de exploração e lucro(...)
No momento em que todas as forças da arte se acham galvanizadas pelas necessidades repugnantes de uma classe decidida a manter custe o que custar suas prerrogativas.
No momento em que somos espectadores de uma literatura, de um cinema, de um teatro, de uma arquitetura a serviço do capitalismo para as suas necessidades imperialistas de repressão e dividendos.
No momento em que toda a manifestação artística toma um valor de especulação á custa da classe trabalhadora, em que toda atividade de espírito é logo utilizada, deformada, aviltada em vista da intoxicação, da corrupção do indivíduo, criador e das massas.
Temos que nos agrupar, que cerrar fileiras em torno do proletariado.
Temos que pôr a serviço as forças artísticas de que a burguesia tenta se apoderar para seus fins de exploração e regressão.
Devemos, diante das forças congregadas do capitalismo, levantar uma frente unida aos escritores e aos artistas ao lado do proletariado revolucionário.
Devemos participar das demonstrações das lutas de ação direta do proletariado.
Devemos reabilitar as forças decaídas da arte e da literatura e transforma-las em armas poderosas na luta para o advento da nova civilização, pelo advento do socialismo já vencedor de uma sexta parte do globo(...)
Fazemos um apelo a todos que queiram pôr um termo á estagnação da nossa época, ao reino nefasto do capitalismo sob todas as suas formas.
Oswald de Andrade, 193?
O motivo para este silêncio parcial(afinal já foram lançados estudos bacanas sobre a obra de Oswald nesta época) está na cara, já que a década de trinta envolveu a militância comunista do escritor( isso perturba boa parte dos acadêmicos que usam só a mão direita na hora de colocar os óculos). Oswald e a igualmente fundamental escritora Patrícia Galvão(que nos influencia tanto quanto o primeiro) arrebentaram a boca do balão através de uma ousada militância artística e política nos tensos anos 30. Logicamente não dá pra engolir tudo o que o Oswald Vermelho diz, mas mesmo quando ele tenta ser stalinista, seu temperamento anarquista e sua natureza antropofágica o levam, como é sabido, ao maravilhoso paradoxo do " marxismo libertário ".
A iniciativa de publicar este documento referência dentro da Arte Revolucionária, partiu especificamente da rapaziada do movimento antropofágico da Terceira Dentição, que atua bravamente na cidade de Campinas desde 2007 e colabora com o Lanterna desde a sua fundação, em 2011. Cabe destacar que a turma da Terceira Dentição(que debate entre si e inclusive discorda de várias passagens do presente manifesto) se ocupa, há quase um ano em suas pesquisas estéticas, do estudo da obra de Oswald de Andrade nos anos trinta. A seguir, o trecho do manifesto.
CONSELHO EDITORIAL LANTERNA
Á LUZ DA DIALÉTICA MARXISTA, O PAPEL DO ARTISTA...
Á luz da dialética marxista, o papel do artista, detentor do patrimônio artístico coletivo, adquire um poderoso sentido.
A lógica da luta de classes impõe-se ao artista em todas as suas consequências, ele lhe pergunta quem ele deve seguir, contra quem ele deve lutar.
O desenvolvimento acelerado dos acontecimentos, as perturbações percussoras de revolução, o socialismo triunfante na URSS, obrigam-no a tomar partido(...)
Em todos os países vindos de todos os horizontes, saídos de todas as classes sociais os intelectuais se levantam para a luta e protestam.
Não há pretexto com que o artista possa legitimar a sua neutralidade social.
O artista é sempre um ser social misturado ao meio social, cujo papel é transcrever pelos meios que lhe confere a vida econômica, a substância da sua época e nesse sentido a arte se parece com a vida.
As maiores épocas da arte corresponderam sempre a um período de desenvolvimento social, uma renovação econômica. No regime atual, com a desordem e a crise que caracterizam esse período da evolução capitalista, o artista, pelas possibilidades que lhe são permitidas, só tem valor na proporção de serviço que presta junto á burguesia. Ele é sobretudo um instrumento nas mãos de uma classe e destinado a manter os privilégios dessa classe. É impossível que ele preencha com espontaneidade e liberdade o importante papel que a multidão espera dele.
É preciso denunciar aqui esta pretendida independência do artista. É preciso arrancar o véu do individualismo sob o qual a burguesia quis camuflar a sua influência sobre as forças do espírito, literárias e artísticas.
Não há arte neutra. Não há literatura neutra. E a não posição política para a qual muitos apelam com o fim de ilustrar essa pretendida liberdade de espírito, não é senão a complacência mais ou menos consciente para com o " status quo " e para com o regime de exploração e lucro(...)
No momento em que todas as forças da arte se acham galvanizadas pelas necessidades repugnantes de uma classe decidida a manter custe o que custar suas prerrogativas.
No momento em que somos espectadores de uma literatura, de um cinema, de um teatro, de uma arquitetura a serviço do capitalismo para as suas necessidades imperialistas de repressão e dividendos.
No momento em que toda a manifestação artística toma um valor de especulação á custa da classe trabalhadora, em que toda atividade de espírito é logo utilizada, deformada, aviltada em vista da intoxicação, da corrupção do indivíduo, criador e das massas.
Temos que nos agrupar, que cerrar fileiras em torno do proletariado.
Temos que pôr a serviço as forças artísticas de que a burguesia tenta se apoderar para seus fins de exploração e regressão.
Devemos, diante das forças congregadas do capitalismo, levantar uma frente unida aos escritores e aos artistas ao lado do proletariado revolucionário.
Devemos participar das demonstrações das lutas de ação direta do proletariado.
Devemos reabilitar as forças decaídas da arte e da literatura e transforma-las em armas poderosas na luta para o advento da nova civilização, pelo advento do socialismo já vencedor de uma sexta parte do globo(...)
Fazemos um apelo a todos que queiram pôr um termo á estagnação da nossa época, ao reino nefasto do capitalismo sob todas as suas formas.
Oswald de Andrade, 193?
DOCUMENTO DO PROLETKULT
Um pressuposto implícito do bolchevismo, portanto, é a ideia da criação imediata, no âmbito da sociedade atual, de uma grande cultura proletária , mais forte e harmoniosa do que a cultura das classes burguesas, que estão se enfraquecendo, de uma cultura infinitamente mais livre e criadora.
Alexander Bogdanov, 1910.
Alexander Bogdanov, 1910.
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