Entre o artista e o pedagogo existe uma grande diferença: o processo educativo pela experiência estética não obriga o artista a ser discursivo e tão pouco didático. É claro que o trabalho de um artista pode ser dotado de um caráter pedagógico, assim como o educador pode(e deve) fazer uso da arte para realizar determinado objetivo escolar. A diferença essencial é que a atividade artística, que se quer revolucionária, não lida necessariamente com o aspecto reflexivo por meio da obra. Para este artista as exigências de comunicação visual imediata necessitam antes atingir precisamente o aparelho perceptivo e não se deter em uma mensagem mastigada. Este é o caso das tradições construtivistas no Brasil, que precisam ser pesquisadas pelos militantes dispostos a conectar as transformações políticas com o plano estético.
O companheiro José Ferroso erra mais uma vez quando sugere que a arte revolucionária deve, num momento de crise do conceito de vanguarda, ser exclusivamente um meio de mensagens educativas para os trabalhadores. Para este tipo de raciocínio o realismo torna-se a saída suprema, desprezando assim todo novo contexto técnico, portador de novas possibilidades expressivas. Honestamente, quem está preocupado com o conceito de vanguarda hoje em dia? Mário Pedrosa dizia que é preciso praticar uma arte de retaguarda: mediante a absorção e dominação da cultura de massa, precisamos reatar historicamente com as experiências de vanguarda, promovendo novas leituras e resistindo contra o sistema. O processo histórico que trouxe o concretismo e respectivamente o neoconcretismo, a nova objetividade, a arte ambiental e por fim a antiarte(sem contar as ramificações da Op art e da Pop art neste processo), é um ciclo que não está completo: o que falta é articular a vontade construtiva e descolonizadora da percepção junto com (e não para) a classe trabalhadora. Seria anacrônico retomar o desenvolvimentismo concretista, imerso que estava numa espécie de " estética JK ", assim como da mesma maneira querer repetir as tentativas contraculturais da antiarte. A questão é bem mais complexa: a pesquisa da forma articulada ao corpo e ao espaço, indica uma ruptura com esquemas convencionais da percepção, tornando dispensável o conteúdo temático na arte. Incorporar padrões de comunicação não verbal realizando formas sintéticas, objetivas, sensuais pode possibilitar uma grande participação popular. Isto já seria um tremendo feito político em matéria de arte!
Se seguirmos o raciocínio de Hélio Oiticica, então veremos que é plenamente possível realizarmos proposições aonde supera-se a barreira intelectual entre o artista e o povo(o povo torna-se artista ao criar e não simplesmente público que recebe passivamente a mensagem " revolucionária "). Esta seria uma questão ultrapassada ou ainda é a resposta para não cairmos na demagogia? Não devemos nos preocupar com o fato da historiografia da arte colocar isto como passado ou não. O fato é que os revolucionários podem encontrar nos elementos construtivistas uma grande estratégia para se combater os signos da classe dominante. Se os governos(não apenas latino americanos) encaram o cidadão enquanto consumidor e não enquanto agente histórico, estas referências estéticas impulsionam a participação e o despertar da criatividade das comunidades. Seria esta uma visão pequeno-burguesa? Basta observar a geração de Maiakóvski quando o bolchevismo parecia fundir-se nas práticas construtivistas na construção de uma cultura revolucionária. Evidentemente que o realismo(um realismo livre e dinâmico, não o jurássico realismo socialista) pode ser aproveitado enquanto estratégia para a arte revolucionária. Mas convenhamos que ainda é muito pouco. Somente a partir de uma pesquisa aprofundada dos signos e das formas visuais de comunicação é que poderemos iniciar a Revolução no plano cultural. É preciso CONSTRUIR as saídas expressivas e não oferecer receitas de bolo.
Os Independentes
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