sábado, 28 de setembro de 2013

Do Romance social " MENINO DE ENGENHO ", de José Lins do Rego

Restava ainda a senzala dos tempos do cativeiro. Uns vinte quartos com o mesmo alpendre na frente. As negras do meu avô, mesmo depois da abolição, ficaram todas no engenho, não deixaram a rua, como elas chamavam a senzala. E ali foram morrendo de velhas. Conheci umas quatro: Maria Gorda, Generosa, Galdina e Romana. O meu avô continuava a dar-lhes de comer e vestir. E elas a trabalharem de graça, com a mesma alegria da escravidão.
 As duas filhas e netas iam-lhes sucedendo na servidão, com o mesmo amor á Casa Grande e a mesma passividade de bons animais domésticos(...). Tia Generosa, como a chamávamos, fazia as vezes de minha avó. Toda cheia de cuidados comigo(...). Quando se reclamava tanta parcialidade a meu favor, ela só tinha uma resposta: " Coitadinho, não tem mãe ".


                                                 José Lins do Rego, 1932.

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