terça-feira, 24 de setembro de 2013

A memória do teatro anarquista

Quando os cães de guarda da burguesia cumprem a função de intelectuais, então uma grande campanha pelo assassinato da memória do movimento operário se faz. Isto obriga os militantes e artistas de esquerda reagirem contra este sepultamento cultural, expondo a evidência de que é preciso resgatar esta memória, nem que para isso seja necessário recorrer a toda violência da arte para remover a montanha de lixo pós-moderno. Esta memória que possui uma função prática , educativa e política, quando colocada no palco revela a verdadeira força do teatro: uma experiência de subversão total, de denúncia de todas as formas de opressão e de exposição das misérias humanas. Afirmamos que este teatro já existe e se mergulharmos sem medo no baú desta dramaturgia ,encontraremos um teatro feito por e para trabalhadores.
Convidamos os companheiros a darem um passeio pela margem da História do teatro brasileiro, encontrando em sapateiros, artesãos, artífices, alfaiates e operários artistas revolucionários. Uma desconhecida dramaturgia popular inserida em associações operárias revela um teatro proletário de orientação anarquista, durante o início do século passado. Estudos importantes sobre a produção cultural dos primórdios do nosso movimento operário andam sendo publicados nos últimos anos: Em Antologia do teatro anarquista, organizado por Maria Thereza Vargas(editora MartinsFontes, 2009) encontramos o substrato de uma dramaturgia libertária nas peças teatrais de Avelino Fóscolo, Marino Spagnolo e Pedro Cattalo; todos eles trabalhadores ligados ao ideário anarquista. Segundo o ponto de vista do anarquismo nenhum revolucionário depende de títulos e diplomas para realizar a sua militância artística. Contrariando um Brasil de doutores e especialistas, os artistas anarquistas mostram a necessidade de desenvolver as capacidades artísticas dentro do proletariado. Portanto fazer política, jornalismo, palestras, literatura, teatro, arte enfim, não envolve nenhum respeito pelas hierarquias intelectuais mas o direito de todos os indivíduos  se expressarem e se desenvolverem intelectualmente(eis a diferença básica entre o trabalhador da cultura e o intelectual burguês).
 Um problema de ordem estética não pode ser ignorado nos destinos do teatro anarquista brasileiro do começo do século passado. Embora o conteúdo das peças seja libertário a forma ainda repousava em referências estéticas que pareciam não romper com a linguagem da classe dominante. Um grande paradoxo se faz não apenas em relação ao teatro mas á arte militante no Brasil: as revoluções artísticas, a exemplo da Semana de arte moderna de 1922, e a produção artística operária, coexistiram dentro de um grande abismo; isto é, militantes revolucionários fazendo arte tradicional e artistas de vanguarda que revolucionavam as formas artísticas mas que estavam distantes do movimento operário. Tentativas importantes foram realizadas entre os anos trinta e sessenta dentro do teatro brasileiro(temos que assinalar o Teatro da Experiência, dirigido por Flávio de Carvalho no começo de trinta, por exemplo). No entanto, temos muito trabalho pela frente: mais do que nunca experimentalismo estético e conteúdo político revolucionário devem se conectar dentro do teatro brasileiro feito por militantes. O primeiro passo foi sem dúvida dado pelos anarquistas.


                                            Conselho Editorial Lanterna
 


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