Quando fala-se em fazer cinema, teatro, literatura, enfim quando o papo é produção artística, existem vícios pragmáticos que na maioria das vezes não diferencia quem é de esquerda e de direita na jogada cultural. De um modo geral os artistas pensam unicamente na viabilização de suas obras dentro da economia de mercado, sendo portanto mero detalhe " estilístico " a sua postura artística. Trocando em miúdos, as políticas culturais existentes nos quadros da sociedade capitalista, imersas no incentivo público ou privado(é possível delimita-las dentro do capitalismo?), atendem á divindade do mercado; este surge enquanto algo " natural ", deflagrando assim a total alienação dos artistas.
A neutralização da contribuição subversiva na experiência estética, acarreta num grande retrocesso cultural: enquanto a obra de arte gira na criação de valores financeiros, a forma regride com um cinema brasileiro cada vez mais hollywoodiano, cada vez mais parecido com telenovela, ignorando o autor cinematográfico num salto anacrônico digno de (porno)chanchada e industrialismo pós-Vera Cruz. Já o teatro que dá grana é o bonitinho, com comédias que também se confundem com telenovela. Encurtando caminho: a literatura torna-se individualista no fetiche livro-literato, as artes plásticas escravas dos imperativos institucionais(do impressionismo pra cá , mudou pouco...), a música passa a ser hora do recreio ou sirene de fábrica, e por ai vai. É lógico que este não é um quadro definitivo, existindo os artistas inconformistas que desejam provocar mudanças. Mas, quando estes insistem nos formatos da política cultural fomentadora de lucro e não de transformação política, a tendência é subestimar o potencial de intervenção social da arte.
Não existindo saída para a arte dentro da dinâmica capitalista, os verdadeiros artistas precisam relacionar meio, técnica, estética, ética, distribuição/circulação na elaboração de uma política cultural de ação direta, nacional, popular e anti-burocrática. As expressões " alternativo " e " independente " não tem a menor vocação para produto de prateleira sofisticada: na proposta revolucionária, comprometida com a emancipação do proletariado, a arte revela uma alternativa política e não uma alternativa de mercado. Ela é independente na medida em que exige a independência sensível, mental e econômica frente ao sistema vigente. Falando concretamente, como se faz isso? Primeiro politizando o trabalhador da cultura e segundo inserindo a produção artística em sindicatos, escolas e criando publicações que diferem-se da visão cultural reificada da imprensa chapa branca. O artista de classe média em especial, deve se proletarizar e ao romper com a condição imposta pela burguesia (que faz dele um aristocrata pedinte de verbas), descobre que seu papel é tão importante quanto o do operário, do carteiro, do motorista de ônibus, do professor, etc. O artista precisa se comunicar revolucionariamente com o seu povo, estando inserido nas tradições da cultura popular e exercendo um trabalho dentro das particularidades nacionais(e não se perder no idealismo universalizante). Ao se reconhecer enquanto trabalhador, produtor, o artista participa claramente da luta política.
Uma produção artística de esquerda constrói relações sociais e econômicas na direção do socialismo e não do capitalismo.
Lúcia Gravas
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