domingo, 22 de setembro de 2013

A poesia feita por todos e não para todos:

Em uma de suas últimas entrevistas, o poeta brasileiro Roberto Piva(que faz uma falta danada com sua postura iconoclasta) disse que " a poesia deve ser feita por todos e não para todos ". A referência de Piva ao poeta francês Lautréamont, é muito útil para evocar a dimensão exata da atividade revolucionária contida na poesia: perante o risco da demagogia exercida pela poesia pobremente politizante, é preciso afirmar que a poesia pode ser praticada por todos os seres humanos, pois dela deriva um conhecimento secreto e explosivo sobre os seres. O ato poético não se contenta com aquilo que é dado pela sociedade, pelo que é permitido pela moral da classe dominante. Quer dizer, poesia não é questão de talento ou de virtuosismo daqueles que bordam versinhos, mas é antes exteriorização das emoções sem coleira. Poesia é a violência expressiva que revigora o humano e o arranca da sua alienação.
 Nunca é tarde lembrar que a ação poética tem a ver com abismo, tempestade, excesso, embriaguez, paixão, desajuste, desespero, não sendo assim uma atividade realizada por bons meninos. É comum o jovenzinho militante de esquerda dizer que perante a fome a poesia tem que tratar de problemas sociais. Nada contra, mas insistimos que a revolta da poesia(que é a tradução simbólica da grande rebelião contra a cultura burguesa) não é feita de sentimentos apaziguadores, afinal ela revela as sombras da loucura, a possibilidade de dizer " não ao não ". Individualismo? Preferimos chamar de iluminação, de alargamento da consciência,de gesto subversivo que pela linguagem(escrita, comportamental, não importa) induz "o outro" a se rebelar junto com " o eu "; e se isso leva também a Rimbaud não deixa de rimar com as necessidades políticas revolucionárias, pois afinal como lembra Trotski, a Revolução não fornece apenas o pão mas a poesia.
 Não estamos numa época de poesia populista: basta observar que entre as bandeiras negras e vermelhas erguidas pelo Brasil do nosso tempo, o ataque á simbologia capitalista do mudo globalizado,  se fundamenta numa posição internacionalista e enraivecida. Não concordamos que o artista, o poeta, deva ficar preso na lousa mas abrir com o martelo do verbo alquímico, janelas para a liberdade. A revolta inaugurada em junho se resolve numa poesia violenta, sem forma fixa, sem propósitos pedagógicos e edificantes. Isto está longe do elitismo: a liberação do inconsciente soterrado por uma montanha feita de lixo industrial e recalque religioso, é uma necessidade que contempla todos os homens, sendo sua objetivação máxima a superação das divisões nacionais e de classe. Assim como o amor e a liberdade, a poesia é o terreno por onde o socialismo deve fincar seus pés, lutando assim para a emancipação não apenas econômica mas espiritual da humanidade.


                                           Os Independentes

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