segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A formação artística do militante de esquerda:


Superado o equivoco de considerar a dimensão estética enquanto mero parêntesis da luta política, as organizações políticas de esquerda e os coletivos de cultura, devem se preocupar com a formação artística dos seus membros. A isto relaciona-se uma reavaliação das diferentes atitudes que a esquerda brasileira adotou, nas últimas décadas, perante os problemas artísticos. Na ânsia de ampliar a participação do proletariado nos movimentos de protesto iniciados neste ano de 2013, a dialética entre informação e criação artística, deve operar um grande salto sobre a maneira como a cultura se relaciona com a política.
 O primeiro ponto passa inevitavelmente pela compreensão das forças produtivas em arte. A ruptura com os meios de produção culturais capitalistas e a necessidade de concretizar uma produção artística revolucionária a partir de meios de produção culturais independentes, colocam mais uma vez a evidência de Walter Benjamin em primeiro plano. Tal compreensão  permite combater o falso discurso de que a arte não revela mais nenhuma tensão frente ao sistema estabelecido. Na realidade o problema estético não se separa das condições produtivas: obras que revelam a subversão na forma e no conteúdo, são inofensivas quando pertencentes ás relações comerciais de megastore ou de reconhecidas instituições da cultura dominante. Para que a arte participe da luta política, ela precisa estar integrada nas organizações políticas de esquerda e no cotidiano da classe trabalhadora. Cabe ao militante reatar este vínculo reavaliando obras e movimentos contemporâneos, além é claro de produzir arte. O que se sucede são práticas e suposições que nascem dentro da ação concreta: a própria esquerda deve mobilizar parte de sua imprensa e dos seus espaços físicos para as questões artísticas. Disponibilizando as páginas dos periódicos para a reflexão artística e providenciando debates, exibições de filmes, oficinas literárias e de teatro, exposições de arte e cursos, assegura-se a formação cultural de todos os militantes.
 O militante passa a ser entendido agora não enquanto correia de transmissão que se dedica tão somente aos ditames partidários, mas também enquanto aquele que age artisticamente, que abre a organização para círculos artísticos e literários, e que portanto incorpora o lado lúdico da arte na práxis política.Algumas questões históricas da arte e da literatura no Brasil, acabam surgindo e ganhando corpo mediante a orientação estética dos militantes. É diante destas condições concretas de produção que torna-se possível reavaliar erros históricos; seja o populismo do Centro Popular de Cultura do início dos anos sessenta, seja a política do desenvolvimentismo contida no movimento concretista. Estes e outros movimentos tão díspares entre si, poderão integrar sobre novas condições materiais, as fundamentais heranças históricas para se pensar e produzir arte revolucionária.


                                                            Lenito









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