quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Violão em punho:

Este instrumento musical popular denominado violão, pode ser uma das coisas mais perigosas para o atual sistema político. Diferentemente do piano, o violão pode ser transportado pra lá e pra cá com a mesma facilidade com que se carrega um livro ou uma arma. Quando bem utilizado, este instrumento potencializa as formas de comunicação do cotidiano, sendo ele próprio ferramenta dos inconformistas. Já se disse tudo sobre o violão e as canções de protesto? Ainda não, as seis cordas não esgotaram a pólvora acesa pelas melodias. Existe, concretamente falando, ouvintes para os trovadores revolucionários? Ah, tem muita gente com as orelhas e consciências bem abertas para a música de protesto.
 A sensibilidade musical deste início de século é formulada em parte pelas denúncias sociais do rap e pela rebeldia anárquica do punk rock. As estruturas sonoras destes gêneros musicais encontram eco em setores da juventude: a eletricidade do rock ainda passa o seu recado com os três acordes, enquanto que o rap direciona todo descontentamento para um canto rimado e selvagem que voa pelas periferias mundiais. No rap em especial, este canto se identifica com símbolos revolucionários, basta ver o exemplo dos Racionais MC´s em sua homenagem ao líder comunista Carlos Marighela, no ano passado(querem ouvir música revolucionária? Então ouçam Mil faces de um homem leal, dos Racionais). Perante o rap e o punk como defender aqui a acústica do violão em canções de protesto? Simples, assim como a caixinha de fósforo do sambista, o violão pode estar no morro, nas periferias, nos botecos, nos sindicatos...É um instrumento que ainda serve aos interesses históricos do proletariado, que precisa redescobrir a força política da canção popular.
  Longe de mim defender uma volta ao purismo acústico(seria um idealismo anacrônico e sem cabimento). Estou apenas chamando a atenção para a importância de uma educação musical revolucionária, que passa obrigatoriamente pela figura do artista com o violão em punho.Ainda é válida a frase " máquina de matar fascistas ", usada pelo músico norte americano Woody Guthrie quando este se referia ao seu próprio violão: durante os anos 30, no centro da depressão econômica, Guthrie subia nas carrocerias de caminhões e mostrava aos trabalhadores americanos a politização por meio da canção: seu herdeiro seria Bob Dylan, em toda sua genialidade e incoerência.
 No caso brasileiro, muito antes dos rappers e dos rockeiros de hoje em dia nascerem, os sambistas expunham na alegria triste de suas composições, um país desigual e sofrido. Isto levou a uma contrapartida do poder oficial: durante o Estado Novo(1937-45) o governo de Vargas perseguia homens boêmios com violões debaixo do braço, ao mesmo tempo em que procurava domesticar o samba com seu projeto nacionalista e autoritário(tentou-se tirar o samba do boteco e coloca-lo nos salões da elite). Ainda falando do Brasil(nossa herança ibérica não pode desconsiderar o violão na formação cultural do país) os anos 60 mostraram que tanto antes quando depois do golpe de 64, a música popular pode mobilizar pelo canto cada canto, cada região do país. Aliás, na América latina como um todo, é que a canção de protesto faz do violão um instrumento de luta: basta lembrar dos seresteiros revolucionários no Uruguai e no Chile, enfrentando a repressão dos regimes militares; devemos ressaltar que os músicos destes países conseguiram uma grande inserção no seio do proletariado.
  É importante que a música de combate não perca de vista o som acústico do violão: é deste que nasce o canto da resistência , a música de opinião, como aquela cantada por Nara Leão em 1965.



                                                 Tupinik  


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