segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Augusto Boal é mais atual do que nunca:

Se existe um teatrólogo que representa o grande divisor de águas na História do teatro brasileiro, este é Augusto Boal. Sua atualidade e urgência correspondem a um momento de conscientização política dentro dos novos grupos teatrais, dispostos a combater o pato com laranja e toda porcaria cênica/televisiva/cinematográfica comprometida com a burguesia brasileira e com o imperialismo norte americano. Em boa hora a Cosac Nayf decide reeditar um livro básico de Boal: Teatro do Oprimido, de 1977. Este livro compreende um inigualável sopro teórico dentro do teatro político moderno. Após uma reconstituição histórica do teatro ocidental, problematizando inclusive  a estética aristotélica pelo efeito da catarse(eixo da tragédia, utilizado até hoje em peças, filmes e novelas para impedir o raciocínio lógico perante o que está sendo encenado), o autor lança as bases para uma poética do oprimido. Um teatro popular e politizado no qual os oprimidos reassumem o seu papel ativo no teatro e na sociedade: para Boal o teatro, a exemplo de Brecht, é o caminho por onde a consciência política e o esclarecimento da realidade social se fazem.
  Mas Boal não é um teórico desligado da prática teatral. Seja escrevendo textos teóricos, produzindo dramaturgia ou dirigindo peças, Augusto Boal sempre exerceu em seu trabalho a práxis; embasado no pensamento marxista, este homem de teatro estabeleceu as bases do teatro do oprimido de acordo com suas experiências no Brasil, na Argentina e no Peru. Ele é um dos nomes de proa da renovação teatral no Brasil, que ao lado de outros militantes do teatro como Guarnieri e Vianinha , bateram de frente como teatrão do TBC. Entre 1958 e 1968(e nesse meio tempo o golpe de 64 e posteriormente em 13 de dezembro de 1968, toda a barra pesada do AI-5), o Teatro de Arena trouxe o que faltava nos palcos brasileiros: o povo, o Brasil, melhor dizendo, o povo brasileiro. É teatro para fazer pensar, teatro que promove a reflexão destinada á ação revolucionária.
 O Teatro de Arena respondeu a todos os impasses políticos e culturais do país. Tendo á frente Boal, este grupo reagiu diante da modernização conservadora da era JK, engajou-se no clima de efervescência cultural da era Jango e resistiu bravamente á ditadura militar. Pessoas como Boal, preso em 1971, são referências pensantes que ajudam a estruturar um teatro de enfrentamento. A poética do oprimido, condensada nas páginas do livro Teatro do Oprimido, escrito durante o exílio de Boal, é o resultado histórico de uma profunda meditação sobre o potencial político do teatro(o livro é fruto da militância progressista do autor no Teatro de Arena).
  Quem opta pela estética contida nos ensinamentos cênicos de Boal, são homens e mulheres que concebem o teatro enquanto espaço de debate político, tão importante quanto qualquer outro. Não se trata apenas de " falar de ideias políticas ", coisa que qualquer artista reacionário e politicamente ignorante pode " fazer ". O que está em jogo no Teatro do Oprimido é a opção pela classe trabalhadora, é a compreensão marxista de que a ação teatral deve estar ideologicamente compenetrada na crítica ao modo de produção capitalista. Num país como o Brasil, submetido ás grotescas formulas estéticas norte americanas, o teatro deve representar/problematizar o contexto cultural popular, deve revelar a possibilidade de participação política popular. Num momento em que a chamada " cultura de classe C ", a que me referi num artigo recente, obstruí a consciência crítica dentro do proletariado, Boal deve ser estudado e praticado pelos adeptos do teatro popular brasileiro revolucionário.


                                                            Geraldo Vermelhão

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