(...) O automatismo psíquico- será mesmo indispensável voltar a ele?- jamais constituiu um fim em si para o surrealismo e afirmar o contrário significa praticar um ato de má fé. A energia premeditada em poesia e em arte, que tem por objeto, numa sociedade chegada ao termo do seu desenvolvimento, ao limiar de uma sociedade nova, reencontrar a todo transe a naturalidade, a verdade e originalmente primitivas, devia revelar-nos, algum dia, o imenso reservatório de onde, inteiramente armados, saem os símbolos para, através das obras de alguns homens, se propagarem na vida coletiva. Tratava-se de desmanchar, de desmanchar para sempre, as coligações de forças que zelam para que o inconsciente seja incapaz de qualquer erupção violenta: uma sociedade que se sente ameaçada de todos os lados, como a sociedade burguesa, pensa, de fato, e com razão, que uma erupção desse calibre pode ser-lhe fatal. Os procedimentos técnicos que o surrealismo mobilizara para tanto não poderiam, bem entendido, ter a seus olhos senão o valor de sondas e não se pode valoriza-los como se foram mais do que isso(...) Não sei se estes são problemas pós-revolucionários; o que sei é que a arte, coagida há séculos a mal se afastar dos caminhos batidos do ego e do superego, não pode senão mostrar-se ávida de explorar, em todos os sentidos, as terras imensas e quase virgens do id.
André Breton, 1935.
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