sábado, 16 de novembro de 2013

Trecho da carta " O Realismo e o Romance ", de Friedrich Engels para a escritora Margaret Harkness:

(...) Se algum reparo vos faço é o de que a história não se revela suficientemente realista. O realismo, para mim, implica, para além da verdade pormenor, a reprodução verdadeira de personagens típicos em circunstâncias típicas. Ora, vossos personagens são típicos, na medida em que os descreveis. No entanto, o mesmo não se pode dizer quanto ás circunstâncias que os envolvem e das quais a sua ação resulta. Em City Girl , a classe operária surge como uma massa passiva, incapaz de reagir ou tentar faze-lo.Todos os esforços para a arrancar da pobreza miserável provém do exterior , de cima. Semelhante descrição poderia considerar-se válida por volta de 1800 ou 1810 , na época de Saint Simon e Robert Owen, mas de modo algum em 1887 por um homem que, durante quase cinquenta anos, teve a honra de participar na maioria das atividades do proletariado em luta e sempre se norteou pelo princípio de que a emancipação da classe operária devia constituir a causa própria da classe operária. A resposta revolucionária dos seus membros á opressão que a rodeia, as suas tentativas convulsivas - semiconscientes ou conscientes - para obter os seus direitos de seres humanos, pertencem á História e podem, por conseguinte, intitular-se merecedores de um lugar no domínio do realismo.
(...) Longe de mim a ideia de vos censurar por não haverdes escrito um romance puramente socialista, um Tendenzroman, como nós, alemães, lhe chamamos, para glorificar os pontos de vista sociais e políticos do autor. Não é essa de modo algum a minha intenção. Quanto mais o autor encobre as suas opiniões, melhor para a obra de arte. O realismo a que me refiro pode transparecer apesar do ponto de vista do autor.


                                      Friedrich Engels, 1888.

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