sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Pop anticapitalista e o Detournement enquanto bandidismo cultural:

O que, em boa parte, garante a escravidão de um indivíduo é quando ele acredita que é  feliz num sistema opressor. Os capitalistas controlam bem suas ovelhas através da imagem: o escravo assalariado visualiza em si uma falsa liberdade, resultante das imagens consumistas introjetadas na sua cuca. No entanto, as imagens/palavras que exprimem a ordem burguesa não são onipotentes na medida em que o homem, bicho livre que é, faz também da imagem um contraponto de liberdade e por consequência um gesto de revolta. Indo mais diretamente ao ponto, a saturação das imagens mercadológicas que funcionam enquanto ideologia que sustenta o trabalho alienado, podem provar do seu próprio veneno: a arte apropria-se da mensagem impositiva do consumo e subverte o seu significado exprimindo uma prática política libertária. E se isso já começava a rolar nos anos 60 com algumas vertentes da Pop art e da Antiarte brasileira, argentina e europeia, ainda hoje é entendido como arma.
   As revoltas de 2013 dialogam com as revoltas de 1968 no plano estético: não se trata de repeteco, mas de usar a mesma munição para uma nova artilharia simbólica. Slogans de multinacionais, passagens do hino nacional, frases reacionárias, super-heróis, símbolos do imperialismo norte americano e da cultura de massa, tudo isto é reelaborado em cartazes, performances e palavras de ordem que retiram a imagem/discurso do seu contexto de origem e pela irreverência e distorção imagética os tornam gestos subversivos. Essa consciência Pop da rapaziada com estofo anticapitalista, não apenas evita os perigos publicitários mas os agride no esqueleto da sua própria linguagem.
  A Pop brasileira foi fundamental para que os artistas revolucionários se livrassem do didatismo e dos perigos demagógicos da estética nacional popular. As criações irreverentes da nossa arte Pop proporcionaram uma reflexão crítica sobre a sociedade de consumo e uma tática inovadora para a arte que age sobre a realidade política. Como se pode ver por aí, jovens de hoje em dia pegaram bem esta bola.
 A Pop politizada, distante de suas origens inglesa e norte americana, não é a única referência neste rebate estético que traz cicatrizes simbólicas para a cultura burguesa. Uma boa parte da garotada engajada também leu sobre as teorias dos situacionistas. A Internacional Situacionista, que procurou superar a arte pela política(uma viagem sectária já que a arte é política e a política requer a arte) colocou em prática " o método" do Detournement: esta prática " sequestra " o sentido originário de imagens e palavras do inimigo opressor. Os situs, apesar de odiarem os surrealistas(é coisa de pai e filho, um complexo chato, mas até que interessante), lhes devem a retomada da prática do Detournement iniciada pelo poeta maldito Lautréamont.  O bando de André Breton bebeu do extraordinário veneno da poesia subversiva do autor de Os Cantos de Maldoror, para um exercício delirante de apropriação onírica da linguagem corrente do comércio, para assim  recobrar a energia interior contra as imposições exteriores da cultura(o poeta Louis Aragon, antes de romper com o Surrealismo e lamentavelmente tornar-se um stalinista, foi mestre nisso). Já os situs aprofundaram as lições de Lautréamont e a partir da sensibilidade Pop dos anos cinquenta e sessenta, apropriaram-se de quadrinhos, placas e dos mais diversos signos urbanos para imprimir uma poética da subversão política.
  A Pop e as estratégias situacionistas estão sendo hoje examinadas mais de perto por gente que não pretende ser ovelha. Este material todo nos ajuda a pensar e praticar Arte Revolucionária.


                                         Marta Dinamite
  
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário