quinta-feira, 30 de abril de 2015

A leitura alimenta o autor revolucionário:

Quando um escritor decide colocar a sua pena digital a serviço das causas que zelam pela libertação, é imprescindível que este tenha não apenas uma posição política revolucionária mas o conhecimento de técnicas literárias revolucionárias. O escritor proletário que hoje se vale da literatura para exprimir suas vivências e suas ideias políticas, tem na sua condição socioeconômica o  fator que define sua posição de classe no combate político/literário. Mas este escritor sai ainda mais fortalecido se ele assimilar o legado da literatura revolucionária.
 Bibliotecas populares e o espaço das escola são ambientes que permitem o acesso à informação literária. É preciso que o escritor proletário conheça os clássicos da literatura revolucionária: estes apresentam estéticas que podem alimentá-lo no processo criativo. Realismo, naturalismo, assim como as referências de vanguarda, são dinamites nas mãos dos operários das letras.


                                                                                     Geraldo Vermelhão

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Miró e a revolução surrealista:

A partir de 23 de maio o Instituto Tomie Ohtake nos brinda com a retrospectiva de um dos pintores mais importantes do século XX. O artista espanhol Joan Miró exerceu com maestria uma das principais missões do surrealismo: contestar a um só tempo as convenções sociais e artísticas. A pintura de Miró redefine o espaço da tela ao priorizar o fator da poesia na composição da imagem. Diferentemente de outros artistas surrealistas, Miró explora o inconsciente através da abstração e de uma simbologia muito particular. 
 A arte de Miró carrega em cada pincelada delirante um século marcado por guerras e desespero. O universo abstrato de um pintor impregnado de experiências do mundo catalão, mostra o quanto o surrealismo ajudou a revolucionar a sensibilidade no mundo moderno. Ao assassinar as convenções da pintura, Miró apresentou a verdadeira(e secreta) vida que a arte revela.


                                                                                              Lúcia Gravas

terça-feira, 28 de abril de 2015

O teatro brasileiro de luto:

A morte do ator e diretor Antônio Abujamra foi um duro golpe. Pensar a modernização da linguagem teatral e a televisão enquanto campo de possibilidades estéticas e políticas, é um esforço que passa obrigatoriamente no Brasil por Antônio Abujamra. Suas intensas atividades que se iniciam nos anos cinquenta e chegam até os nossos dias, exprimem toda criatividade e generosidade de um homem que compreendia a arte enquanto provocação(e é a provocação da arte que nos ajuda a desvendar o nosso país).
 Abujamra tomou parte nos grandes momentos de contestação e amadurecimento do teatro brasileiro. Ele foi, como o próprio dizia, parte de uma geração de diretores de teatro do Brasil. Foi uma geração extraordinária que apesar da ditadura e de todos os canalhas, conseguiu apresentar um legado cultural altamente revolucionário. O Brasil fica pior sem Abujamra: perdemos um dos nossos principais provocadores.


                                                                             Conselho Editorial Lanterna

segunda-feira, 27 de abril de 2015

A sensibilidade estética na luta política:

A luta política contra o capital não baseia-se apenas no problema econômico. Se esta luta nasce a partir das desigualdades sociais, ou seja da organização da produção material, as condições mentais para a libertação não se restringem às reivindicações salariais feitas pela classe trabalhadora. Os conflitos do mundo do trabalho também  exigem o desenvolvimento de uma sensibilidade estética compatível com o horizonte político revolucionário.
 Nos conflitos entre capital e trabalho, a estética é uma dimensão indispensável para que se crie uma linguagem e um olhar sintonizados com a luta pela emancipação social. A arte não é um enfeite ou um momento de deleite, mas uma necessidade sensual: na relação dialética entre objetos e sentidos humanos, descobre-se que criar é fundamental; ou seja, valores anticapitalistas são criados a partir de novos objetos artísticos: estes desafiam a reificação do homem e apontam, na sua estrutura interna, para uma outra lógica(a lógica da libertação, da criatividade enquanto pressuposto para o desenvolvimento de uma cultura socialista).


                                                                                         Marta Dinamite 


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Ciclo de cinema soviético: filme " A Mãe ", de Pudovkin

Dando continuidade ao ciclo de Cinema soviético , uma parceria do nosso blog com o Museu da Imagem e do Som da cidade de Campinas, exibiremos na tarde do próximo sábado(dia 25) o filme A Mãe, do diretor Pudovkin. Faltando uma semana para o primeiro de maio, este clássico de 1926 é mais do que oportuno para se discutir a necessidade das ideias revolucionárias estarem presentes nos partidos, nos sindicatos, nas organizações de classe e...na família. 
 Inspirado no romance homônimo do escritor russo Máximo Gorki, A Mãe nos mostra que a dor e o sofrimento podem empurrar o proletariado na direção da consciência de classe. Escrito sob o impacto dos acontecimentos do primeiro de maio na Rússia de 1902, o romance publicado em 1906/1907 seria magistralmente convertido em linguagem cinematográfica pela lente engajada de Pudovkin. A morte do filho militante Nikolai Batalov, leva sua mãe Niovna Vlasova a compreender o sentido e o drama da luta operária: foi preciso que a mãe proletária percebesse, com a morte do filho revolucionário, que era preciso lutar contra o regime czarista e a sociedade de classes. 
Esteticamente o filme expõe como os aparelhos jurídico e militar estavam na Rússia czarista a serviço da classe dominante. A fotografia realista de Pudovkin faz jus ao realismo literário de Gorki: o rosto duro e sofrido dos operários atirados na miséria, é o que protagoniza a marcha da História. Ainda que esmagado pela repressão, o movimento operário faz da sua luta a seta para o futuro. É pois na figura de uma mãe indignada e transformada politicamente, que repousa o exemplo doloroso do proletariado combativo. Um filmaço!

                  
                                                                                                       José Ferroso 

FILME: A Mãe

ANO: 1926

DIREÇÃO: Pudovkin

LOCAL DE EXIBIÇÃO: Museu da Imagem e do Som de Campinas

DIA: 25 de abril

HORÁRIO: 16:30 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Arte não é só ideologia:

A análise marxista dos fenômenos artísticos sempre focou a dimensão ideológica inerente a todos eles. De fato, a História da arte e da literatura não pode ser analisada fora do conceito de ideologia: enquanto parte integrante da superestrutura, a arte exprime as ideologias de uma determinada sociedade. Porém, não podemos reduzir o sentido e o impacto das obras de arte unicamente ao fato ideológico. 
 Quando Marx afirmou que a arte clássica da antiguidade grega,  envolvia modelos estéticos que ainda  se comunicam com o homem contemporâneo, ele apresenta a seguinte conclusão: mesmo quando um determinado modo de produção é superado historicamente, a sua produção artística ainda possui uma força expressiva que se comunica com homens de períodos históricos posteriores. Portanto, se a arte de qualquer período histórico, não se separa da esfera ideológica, tão pouco suas qualidades estéticas limitam-se a esta.


                                                                                                           Lenito 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Artista ou o trabalhador revolucionário da cultura:

As relações entre arte e Estado capitalista não são apenas conflituosas. Elas envolvem a corda que geralmente amarra (ou enforca) o artista. No caso brasileiro, pessoas ligadas ao teatro, ao cinema e às mais variadas áreas da produção artística, tem o seu trabalho subordinado aos editais, patrocínios, etc e tal. Toda esta estrutura na prática impede a existência plena do artista. Por hora não tem jeito: elaborar projetos e buscar apoio envolvem as saídas concretas para a viabilização da criação artística. Mas ainda assim, o problema central não é resolvido: os artistas ainda precisam que um determinado centro de poder político, econômico e cultural validem a sua existência.
 Sendo o artista um trabalhador, é preciso que os artistas não fiquem apenas preocupados  com suas obras. Os artistas precisam se organizar junto com a classe operária e lutar por uma nova realidade política e cultural. Esta luta , exige toda a criatividade e toda violência poética da arte: obras de arte devem misturar-se com as lutas operárias enquanto aspecto cultural que sonha um outro país.


                                                                                                  Os Independentes 

terça-feira, 21 de abril de 2015

Política e a dimensão estética:

Quando pensamos nas relações entre estética e política, surgem dois perigos reacionários: o primeiro é aquele que estetiza a realidade política, servindo assim para fundamentar o irracionalismo de doutrinas políticas como fascismo. O segundo envolve a subordinação da esfera da arte aos ditames de uma organização política; o que só pode dar no stalinismo. Certamente que estas posições conservadoras não possuem nenhuma relação com a dimensão revolucionária da arte.
 A experiência artística é por si só uma forma de transgressão. Citando Marcuse, a arte invalida um princípio de realidade ao apresentar uma outra realidade. Esta realidade " paralela " que a arte apresenta, deve exprimir as aspirações políticas revolucionárias sem necessariamente falar de ideias políticas. Ou seja, as contradições de uma realidade que impede pela exploração do trabalho e pelo controle do corpo o acesso " à verdadeira vida "(para citar Breton) , são denunciadas pelo próprio impulso criativo. Portanto a coisa mais revolucionária que um artista pode fazer é criar, e com isto quero dizer que a criação é  nada menos que a própria exteriorização do desejo reprimido. A criação artística envolve a elaboração de uma linguagem que rompe com os padrões de comunicação da classe dominante. É pois a arte livre que aponta para a necessidade da revolução socialista.


                                                                                                        Tupinik

segunda-feira, 20 de abril de 2015

A poesia de Augusto de Campos:

 Se um poeta desconhece ou despreza o concretismo, é porque talvez ele precise abandonar ou aposentar seus versos. Definitivamente o que não pode se aposentar é a estética concretista: o movimento surgido nos anos cinquenta dialoga, plenamente, com as novas forças produtivas. A técnica literária que liberou a palavra escrita das melações e inseriu o poema na velocidade do tempo moderno, ainda se faz presente na realidade digital. Quem quiser saber mais precisa dar um pulo na exposição dedicada ao poeta Augusto de Campos, em São Paulo.
 A exposição " Augusto de Campos- Objetos e Poesia Visual ", que ocorre na Galeria Paralelo, mostra como o poeta de 84 anos faz um dos trabalhos literários mais inovadores da História da literatura brasileira. Através de diferentes suportes, seus poemas são reeditados com toda agilidade dos tempos modernos. Imperdível.


                                                                                                    Marta Dinamite 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A contribuição de Louis Aragon:

O escritor francês Louis Aragon não é apenas um dos autores mais importantes da literatura francesa, mas um autor que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento dos modos de expressão do surrealismo. Aragon tornou-se uma figura tabu dentro da esquerda revolucionária. Não é pra menos: sua ruptura abrupta com o movimento surrealista, no início dos anos trinta, e sua adesão às orientações culturais da Terceira Internacional., comprometeram sua imagem dentro dos círculos artísticos mais avançados. Porém, não ler o Aragon da fase surrealista, significa desconsiderar um dos pilares intelectuais do movimento.
  O efeito vertiginoso de uma obra como " O Camponês de Paris "(1926) atravessa décadas. Este é sem dúvida o ponto máximo da escrita de Aragon , que fez da cidade um labirinto de sombras e delírios por onde se escondem abismos. Uma obra que bateu fundo em gente como André Breton e Walter Benjamin merece hoje ser lida e debatida em toda sua substância revolucionária. Quem quiser entender o poder de emancipação da linguagem e a capacidade da escrita converter-se em um ingrediente transformador da subjetividade, precisa ler Aragon.


                                                                                                   Os Independentes

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Cinema e sindicalismo:

Diante dos ataques que a classe trabalhadora vem sofrendo, sobretudo naquilo que diz respeito a terceirização, a esquerda revolucionária deve empenhar-se em estratégias para que não apenas os direitos mas os laços políticos do proletariado não sejam destruídos pelo capital. Afim de mobilizar forças culturais, é indispensável não colocarmos em foco o cinema. A organização de um pensamento crítico pode ser facilmente alcançado por meio do filme: o cinema é uma forma de conhecimento sobre a realidade, e logo um poderoso instrumento que pode exercer um papel o revolucionário.
 O sindicato não deve apenas organizar categorias de trabalhadores para lutar em jornadas salariais, mas contribuir na organização cultural que deve fortalecer a consciência de classe. O debate cinematográfico de esquerda passa pelo sindicato.


                                                                                                José Ferroso

quarta-feira, 15 de abril de 2015

A vigência do grafite:

Dentro da arte de rua, o grafite consolida-se cada vez mais como uma das expressões mais originais e criativas de artistas trabalhadores. Este fenômeno estético internacional que ganhou força a partir dos anos oitenta, chega ao século XXI com uma das expressões mais atuantes da pintura atual. Só este ano será realizada no Parque do Ibirapuera em Sampa a terceira edição da Bienal Internacional do Grafite(o evento vai rolar entre 18 de abril e 19 de maio). 
 De fato a paisagem urbana é enriquecida pelas cores do grafite. É a participação, a intervenção pictórica que faz do grafite uma arte viva, em constante movimento como a própria cidade dos nossos dias. Entretanto, em meio a tanta alienação promovida pelo inferno comercial, as imagens do grafite revelam uma outra verdade: a da criatividade, da liberdade e da poesia visual. 


                                                                                              Lúcia Gravas

terça-feira, 14 de abril de 2015

O escritor de esquerda da América Latina:

A morte do escritor uruguaio Eduardo Galeano, está longe de enterrar o modelo de intelectual que ele foi. Seus textos, sua verve, seu legado crítico irão continuar influenciando escritores e intelectuais latino americanos. Isto se explica tanto pelo fato de Galeano ter sido um escritor de primeira(e com isto quero dizer que ele foi corajoso e criador de uma escrita extraordinária) quanto pela situação histórica de exploração/dominação que ainda reina na América Latina.
 Foi preciso peito para escrever no início da década de setenta o livro As Veias Abertas da América Latina. Nesta que é a principal obra de Eduardo Galeano, está uma implacável denúncia quanto às formas de dominação que os paises latino americanos sofrem. Quer dizer, enquanto alguns escritores do continente abrem mão da responsabilidade de fazer da sua literatura objeto de questionamento político, o modelo de escritor que Galeano representa vai direto no centro da necessidade criadora: denunciar aqueles que nos oprimem. Ergamos nossas taças para  Eduardo Galeano!


                                                                                                            Lenito

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Living Theatre ainda vive:

A morte da atriz e diretora Judith Malina na última sexta feira, é um triste acontecimento que nos faz pensar não apenas no teatro mas nas capacidades libertárias da arte. O Living Theatre é inquestionavelmente um celeiro anárquico que produziu as manifestações cênicas mais avançadas do teatro norte americano. Malina, e o seu companheiro Julian Beck, nos legam uma concepção de teatro político em que estética e vida, artista e público, fundem-se numa realidade revolucionária: todo autoritarismo, todos os tabus e todas as formas de castração do cercado pós-moderno de ovelhas, são postos abaixo pela força transformadora que o teatro vivo(e não embalsamado nas casas comerciais) possui. Com o Living é possível compreender que estamos sempre atuando, interpretando um papel(ainda que muitos desconheçam as razões políticas opressivas dos papeis impostos). O teatro está dentro da vida, misturado com o cotidiano, e pode rolar aqui, agora e em qualquer lugar aonde o corpo se faça enquanto presença transformadora.
 O Living Theatre e todo lastro contracultural que ele carrega, não desapareceram enquanto necessidade política. Apesar de estarmos tristes com a partida de Judith Malina, estamos otimistas pelo fato de todas as aspirações libertárias dos jovens ainda encontrarem seu espelho rebelde no Living. Valeu Malina!


                                                                                             Os Independentes 
  

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Rock é contestação:

Como é que pode este negócio de rock " neocon "? Conservadorismo é algo que não tem absolutamente nada a ver com rock. Mesmo que muitos rockeiros não tenham apresentado uma ideologia política propriamente revolucionária, o comportamento sensual e escandaloso são características que não cabem na ordem burguesa. 
 Críticos, historiadores, fãs e rockeiros precisam mostrar que o melhor do rock anda de mãos dadas com a subversão política. As ideias políticas revolucionárias estão presentes nos momentos mais explosivos e criativos da História do rock. Isto não pode ser apagado por nenhuma onda conservadora.

  
                                                                                             Marta Dinamite 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

A necessidade do teatro de rua:

As autoridades sempre julgaram a arte uma " mentira perigosa ". Não se trata tanto de " refletir " a realidade, mas de reinventar o real numa perspectiva que contraste e ( quando o artista for politicamente consciente) ataque a ideologia dominante. Portanto a arte, em especial nos dias de hoje, é uma arma contra os próprios ataques que a classe trabalhadora sofre no Brasil. Enquanto a terceirização ganha terreno e o marxismo torna-se cada vez mais criminalizado, o teatro pode ser uma das trincheiras mais criativas da cultura.
 Enquanto esforço rebelde que interfere na percepção do proletariado, o teatro deve assumir as ruas para ilustrar e debater este período conservador que a sociedade brasileira vive. Fazer teatro na rua, significa agir politicamente por meio da criação estética, no espaço público. Aonde o operário passa, pega ônibus, passeia, enfim todo e qualquer espaço público são espaços que potencialmente podem fazer brotar a intervenção cênica em sua substância mais contestadora.


                                                                                                  Os Independentes

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Literatura hispânica de combate:

Para um autor brasileiro, desenvolver um estilo revolucionário na escrita não é um desafio que se fecha nos limites da literatura brasileira. Se é urgente a assimilação de nossa História literária naquilo que ela apresenta de mais progressista e iconoclasta, ao mesmo tempo devemos colocar a cabeça pra fora do mapa e absorver a literatura revolucionária de outros países. Certamente que muitos limitam esta investigação estética  internacional nos quadros da literatura francesa ou de qualquer outro país europeu. Na verdade, a literatura brasileira de esquerda teria grande avanço se os escritores revolucionários começassem a ler também escritores dos nossos países vizinhos.
 Gabriel Garcia Marquez, Luis Sepúlveda e Manuel Scorza seriam alguns exemplos clássicos do que de melhor a literatura latino americana apresenta. No caso deste último, é impressionante observar os volumes que compõem a obra Baladas. Neles as lutas dos camponeses peruanos dos Andes Centrais estão magistralmente registradas.


                                                                                                            José Ferroso

terça-feira, 7 de abril de 2015

Cem anos de Billie Holiday:

Billie Holiday, uma das maiores cantoras do século XX, estaria completando cem anos de idade. Ela simplesmente redefiniu a figura da cantora na música popular: seu canto carrega não apenas dores individuais mas a dor dos explorados, dos ofendidos, dos marginalizados. A cantora norte americana deixou entre as décadas de quarenta e cinquenta um legado musical denso, visceral e ao mesmo tempo dolorido.
 Sua descida aos infernos do álcool e das drogas acarretou em profundos sofrimentos pessoais. Do ponto de vista documental, seus discos são a conversão do sofrimento em obras de arte. Ao revolucionar a maneira de cantar e logo de expressar as contradições da cultura norte americana contemporânea, Billie Holiday  brilha não como uma mercadoria vazia da indústria cultural, mas como uma artista autêntica que dilacera ouvidos e mentes com seu canto extraordinário.


                                                                                                         Lúcia Gravas 

segunda-feira, 6 de abril de 2015

A revolta de Piero Manzoni:

O polêmico artista italiano Piero Manzoni ganha, entre os dias 7/04 e 21/06, uma retrospectiva no MAM de São Paulo. Apesar de sua presença meteórica(o artista faleceu em 1963 aos 29 anos) as ideias de Manzoni ainda são um tanto perturbadoras para as leis que levam a uma mercantilização absoluta da arte. Enlatar as próprias fezes e expor telas em branco, envolvem intervenções que certamente confundem não apenas o gosto burguês mas a funcionalidade comercial da obra de arte. Mas será que a revolta de Piero Manzoni ainda ameaça o establishment? O fato das revoltas artísticas serem absorvidas, até mesmo quando a ironia radical de vender merda numa latinha torna-se uma atividade lucrativa para o capital, não diminui o efeito contestador das obras de Manzoni.
  A contribuição crítica de um artista como Piero Manzoni não está certamente na obra em si, mas na ideia que ela desperta. Sim, a ideia também é triturada pelo apetite capitalista, mas irreverência e ousadia são qualidades que dentro da arte contemporânea, proporcionam estranhamento e portanto uma ação participativa sobre a sensibilidade. O fato é que Manzoni ainda gera polêmica.


                                                                                              Geraldo Vermelhão
  

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O combate ao bom mocismo no cinema:

A visão reacionária em torno de um cinema todo bonitinho, limpinho e super palatável é o que limita o potencial crítico da sétima arte no Brasil de hoje em dia. Sem cair em nostalgia ou anacronismo, a atitude marginal frente ao processo de produção cinematográfica, ainda é uma posição política que permite experiências mais ousadas(mais poéticas) e saltos qualitativos do ponto de vista da contestação social.
 Falta ao cinema brasileiro atual um pouco de anarquia. Espontaneidade e rebeldia são aspectos fundamentais que fazem parte da aventura artística. Esqueçam as fórmulas imperialistas norte americanas e façam o favor de descobrir o cinema brasileiro pelas loucas mãos do " movimento " do cinema marginal. Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e Andrea Tonaci são alguns dos autores que nos ensinam que o cinema pode ser uma experiência libertária.


                                                                                             Marta Dinamite 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Popular e vanguarda:

Vamos acabar com o velho muro fictício entre vanguardas e arte e popular. Embora não estejamos mais na era das vanguardas, precisamos acabar com este velho engodo histórico para que  as pesquisas progressistas em arte retomem a sua linha de desenvolvimento.
 Se alguns afirmam, até hoje, que as estéticas de vanguarda são por demais " herméticas " para o proletariado, outros fazem da arte popular um escudo anacrônico, invariável, verdadeiro refúgio dos cadáveres do nacionalismo. Pois bem, que os exemplos de Maiakóvski e Oswald de Andrade acabem por converterem-se em lições históricas para que vanguarda e popular encontrem-se segundo uma ética revolucionária.


                                                                                           Lenito