Geralmente quando o escritor opta pela classe operária, o seu trabalho corre o risco de ser facilmente confundido com o de um propagandista de ideias políticas. Para o marxismo não é bem esta a contribuição política que a literatura pode oferecer. A crítica literária marxista exige evidentemente que o escritor apresente uma visão revolucionária, capaz de fortalecer e instruir o leitor trabalhador acerca da realidade social. Entretanto, a literatura possui seu próprio nível de realidade, sendo as leis internas da obra de arte os pressupostos básicos para que o trabalho do escritor contribua com a transformação política. Engels foi bastante claro em relação a isso em seus artigos e cartas.
Engels estabeleceu análises contundentes sobre o realismo na literatura do século XIX. Em seus diálogos com escritores e intelectuais, como a escritora inglesa Margaret Harkness, o comunista alemão frisou que o realismo deve manifestar-se no plano da obra e não enquanto um recurso artificial que visa simplesmente ilustrar a posição política do escritor. Evidentemente que o romance de tese é de grande importância política, desde que a ideologia política não suprima a forma do romance, acabando assim por deturpar a obra de arte. Este é sem dúvida um pressuposto fundamental a ser considerado ainda hoje pelo escritor engajado e pela crítica literária.
Lúcia Gravas
Nenhum comentário:
Postar um comentário