terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O exemplo do Proletkult:

O fato da luta de classes permear a cultura, leva-nos a concluir que uma arte capaz de exprimir e condensar os interesses políticos do proletariado deva surgir do próprio proletariado. Sim, hoje a situação histórica da classe operária não é a mesma de cem anos atrás: o capitalismo de serviços enquanto modelo que articula-se com outras atividades econômicas exploradoras, tais como aquelas encontradas na  indústria, na construção civil e nas áreas rurais, confunde a cabeça dos trabalhadores. Seduzidos por falsos discursos de prosperidade, os trabalhadores acabam pela fragmentação do espaço social do trabalho, não se reconhecendo muitas vezes como parte de uma classe(e sabemos que é a classe trabalhadora que pode abolir o trabalho alienado e toda servidão capitalista). Estes problemas devem empurrar  a vanguarda dos trabalhadores para o estudo e o cultivo das lições políticas e culturais encontradas na História do movimento operário. Além disso, os partidos e movimentos sociais de esquerda precisam estimular a criação cultural combativa entre os trabalhadores; isto ajuda a consolidar a consciência de classe. A experiência soviética, que ainda hoje é a principal escola política do marxismo, revela iniciativas formidáveis como o Proletkult.
 Criado em novembro de 1917 e liderado por Bogdanov, o Proletkult(movimento de cultura proletária) expressou no plano da cultura a própria Revolução de outubro. Enquanto centro da produção artística soviética, o Proletkult revelou a necessidade dos trabalhadores fazerem de filmes, cartazes, peças de teatro e outras manifestações, o coração por onde iria pulsar uma nova cultura: a cultura criada pela classe operária. Erros e críticas marcam os turbulentos anos do Proletkult(Lenin e Trotski foram críticos ferrenhos de uma concepção histórica em que o proletariado cria a sua própria cultura; sendo que ambos os líderes fixavam suas preocupações num longo processo educativo por onde faria-se nascer uma nova cultura). Deixando estas polêmicas históricas de lado(e defendendo aqui a legitimidade política em torno de uma arte proletária), creio que o Proletkult apresenta registros importantes, presentes por exemplo nos trabalhos iniciais de gente como Meyerhold e Eisenstein. Estes registros precisam de alguma maneira ligarem-se ao contexto cultural do proletariado de hoje. Respeitando as especificidades históricas do Proletkult, devemos ter em mente que ele pode ser um fermento na criação artística dos trabalhadores de hoje.


                                                                                                José Ferroso 

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