segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Cinema de poesia:

Não se combate o quadro de alienação do cinema comercial somente com ideias políticas. Se o realismo é importante na elaboração de situações em que as imagens captam os problemas do capitalismo, existem outros discursos cinematográficos capazes de desbravar e não domesticar o olhar. Não é nenhuma novidade afirmar que existe uma relação eletiva da montagem cinematográfica com a poesia. Mas tudo indica que a conversão do filme em um poema audiovisual, é algo cada vez mais estranho para um público guiado pelo lixão comercial; verdadeiro deposito de tiroteios banais e risadas cavalares. Quando um cineasta decide guiar-se pela imaginação, pelas imagens recalcadas pela educação burguesa, ele pode devolver a este mesmo público uma experiência cultural verdadeiramente perigosa e altamente libertária.
 O surrealismo já deu inúmeras demonstrações históricas da sua vigência subversiva no plano do cinema. O filme enquanto produto direto do desejo, do sonho proibido e da revolta contra a classe dominante. Luis Buñuel é inquestionavelmente o autor cinematográfico que melhor condensa uma filmografia nascida da imaginação selvagem e do constante questionamento da moral estabelecida. Para este cineasta espanhol, que no final dos anos vinte representou um reforço da pesada no time do movimento surrealista, a imagem significa a violação de todos os tabus. Nem é preciso dizer o perigo que Buñuel representa para o espectador atual, cuja " formação " cinematográfica não ultrapassa a miserável mentalidade comercial em que o " maior clássico " do cinema encontra-se num ridículo blockbuster dos anos oitenta(rs). 
 Desenterrar filmes de poesia e empenhar-se na criação de novos, significa dar livre passagem para o sonho, para o delírio que não foge mas combate os valores burgueses. A História do cinema está por ser reescrita. 


                                                                                   Os Independentes  

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