quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Cinema, sexo e transgressão:

Uma grande quantidade de consumidores que não se questionam sobre as relações entre sexo e organização social, aguardam ansiosamente pela estreia do filme Cinquenta Tons de Cinza, de Sam Taylor Johnson. Adaptação do livro de E.L James, realizada sob todo o esquema hollywoodiano, estreia amanhã no Brasil. Apesar das restrições morais que organizações religiosas estão fazendo em relação ao longa, é possível suspeitar do pequeno alcance que esta pimenta toda possui. Não estou opinando sobre o filme, já que ainda não assisti. Porém, pelo que se tem divulgado trata-se de mais um produto cultural que tem por tema a sexualidade mas que está longe de transgredir os tabus da sociedade burguesa. Um filme não é subversivo por tematizar e exibir cenas de cunho sexual. O sistema já aprendeu a colocar na coleira as mais diferentes formas de depravação, quando estas não ameaçam a ordem capitalista. A profanação dos valores burgueses através do sexo despudorado, ainda é uma experiência que no plano do cinema pode ser reservada a nomes como o cineasta surrealista Luis Buñuel. 
 Se alguém deseja saber quando o sexo torna-se um fenômeno socialmente perturbador no plano da arte, deve então dar uma informada sobre o que rolou em 1930 durante a estreia do filme A Idade de Ouro, de Luis Buñuel e Salvador Dali. Durante sua estreia num cinema em Paris, a sala foi destruida por grupos de extrema direita.  Neste longa que foi recentemente exibido pelo canal Futura, e que ficou durante décadas proibido na Europa, notamos o desejo sexual enquanto força que se rebela contra a moral burguesa: nunca as instituições dominante foram tão brutalmente atacadas no cinema. Um casal insurge-se contra as barreiras sociais para vivenciar um amor desvairado, carnal, incontrolável, que para existir precisa negar violentamente todas as convenções religiosas e sociais. É pois o delírio enquanto manifestação subversiva do desejo que pode conferir ao cinema (e ao próprio sexo) um estatuto de subversão social.


                                                                                              Marta Dinamite

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