Mesmo entre aqueles que assim como Tinhorão eram nos anos sessenta guiados pela ideia de uma arte " nacional e popular ", encontramos polêmicas: é conhecido o debate que Tinhorão travou com o pessoal do Show Opinião em 1965, acusando seus integrantes de realizarem " uma apropriação de classe média " da música popular. Aliás, é sob este raciocínio que procura estabelecer fronteiras de classe e de nacionalidade que levaram o crítico e historiador a esculhambar o que de mais avançado ocorreu na música brasileira(da Bossa Nova ao Tropicalismo).
É claro que a música possui uma origem de classe, mas isto não faz automaticamente com que seu significado político seja necessariamente reacionário ou revolucionário. É verdade que a indústria cultural apropriou-se historicamente(e criminosamente) da música de origem proletária, como seria o caso do samba. Entretanto, alguns compositores e intérpretes de classe média em sua origem social, fizeram uma leitura revolucionária da canção popular, que desafiou e atacou os valores da classe dominante. É esta mesma predisposição musical enraizada na contestação cultural, que trouxe o uso político da guitarra elétrica na canção brasileira, ampliando seu significado estético numa sincronia internacional a partir do fim dos anos sessenta(Gil e Caetano que o digam).
Evidentemente que temos informações importantíssimas nos trabalhos de Tinhorão: seus estudos estão entre o que de mais pertinente existe na crítica musical realizada no Brasil. Mas, ao mesmo tempo, não podemos tomar suas reflexões como sendo a única interpretação marxista da música popular brasileira. Críticos como Tinhorão fazem falta num momento em que a imprensa torna-se cada vez mais reacionária. Porém, devemos mostrar que a análise marxista precisa valorizar as transformações musicais progressistas e questionar as limitações do nacionalismo.
Tupinik
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