segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Tinhorão e as supostas fronteiras da música:

A reedição do clássico Música Popular: Do Gramofone ao Rádio e TV, de José Ramos Tinhorão, merece não apenas nossa atenção, mas uma reflexão sobre a dinâmica história da música popular no Brasil. O livro que foi publicado em 1981, e agora reeditado pela Editora 34, é um trabalho mais do que pioneiro: é uma análise histórica que reconstitui as relações entre a música popular brasileira com a própria formação dos meios de comunicação de massa no Brasil. O fato é que Tinhorão além de impor-se como crítico musical orientado por uma concepção específica do marxismo, lega trabalhos de fôlego que fazem do autor um dos historiadores mais competentes da música popular no Brasil. Porém... não é novidade que a concepção estética de Tinhorão, formada dentro do nacionalismo de esquerda, carece em nossa opinião de percepção histórica na análise da contribuição progressista da moderna música feita no Brasil.
 Mesmo entre aqueles que assim como Tinhorão eram nos anos sessenta guiados pela ideia de uma arte " nacional e popular ", encontramos polêmicas: é conhecido o debate que Tinhorão travou com o pessoal do Show Opinião em 1965, acusando seus integrantes de realizarem " uma apropriação de classe média " da música popular. Aliás, é sob este raciocínio que procura estabelecer fronteiras de classe e de nacionalidade que levaram o crítico e historiador a esculhambar o que de mais avançado ocorreu na música brasileira(da Bossa Nova ao Tropicalismo). 
 É claro que a música possui uma origem de classe, mas isto não faz automaticamente com que seu significado político seja necessariamente reacionário ou revolucionário. É verdade que a indústria cultural apropriou-se historicamente(e criminosamente) da música de origem proletária, como seria o caso do samba. Entretanto, alguns compositores e intérpretes de classe média em sua origem social, fizeram uma leitura revolucionária da canção popular, que desafiou e atacou os valores da classe dominante. É esta mesma predisposição musical enraizada na contestação cultural, que trouxe o uso político da guitarra elétrica na canção brasileira, ampliando seu significado estético numa sincronia internacional a partir do fim dos anos sessenta(Gil e Caetano que o digam).
  Evidentemente que temos informações importantíssimas nos trabalhos de Tinhorão: seus estudos estão entre o que de mais pertinente existe na crítica musical realizada no Brasil. Mas, ao mesmo tempo, não podemos tomar suas reflexões como sendo a única interpretação marxista da música popular brasileira. Críticos como Tinhorão fazem falta num momento em que a imprensa torna-se cada vez mais reacionária. Porém, devemos mostrar que a análise marxista precisa valorizar as transformações musicais progressistas e questionar as limitações do nacionalismo.


                                                                                                    Tupinik

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