sábado, 12 de outubro de 2013

A politização da estética no audiovisual:

Se em nossa época o cinema atravessa um processo de transição mediante as novas tecnologias digitais, cabe aos militantes revolucionários interpretarem as potencialidades expressivas deste novo contexto. Sabemos que as correspondências entre a produção ideológica capitalista as novas tecnologias, visam a despolitização da imagem e o empobrecimento da experiência coletiva : as pequenas telas do celular, do tablet e do laptop são produtos do individualismo , fazendo com que para a existência de dois espectadores, um deles tenha que virar o rosto para as imagens serem vistas pelo outro.Mas ainda assim, seria imprudente não reconhecermos que através destas tecnologias as imagens são produzidas e circuladas numa proporção nunca antes vista na História(já insistimos o suficiente nisto em outras ocasiões).
 Gostaríamos de assinalar que se a exibição de um filme não se encerra mais apenas nas salas escuras ou em frente á TV, precisamos com as novas tecnologias elevar á consciência política dos trabalhadores; realizando uma produção audiovisual revolucionária e ao mesmo tempo enriquecedora da vida coletiva. Entre a produção, a filmagem e a edição, uma ação direta sobre o meio de produção audiovisual se impõe: é na miséria, na carência de recursos, que nascem as condições sociais objetivas para os focos de resistência audiovisuais. Entretanto, os resultados obtidos implicam num tipo de circulação necessariamente revolucionária, sendo a recepção privada do produto audiovisual, uma clara limitação imposta pela cultura dominante. A pequena tela deve levar aos espaços aonde existam telas maiores, que recepcionem a coletividade. O ato de " baixar " filmes e vídeos, deve levar a criação de contextos coletivos de exibição. Apelamos assim para que os companheiros circulem a nova produção audiovisual revolucionária(junto ao fundamental da História do cinema revolucionário) em suas escolas, em seus sindicatos, nas sedes dos seus partidos políticos, nas salas públicas de exibição de suas cidades, nas universidades, etc.
 Sendo impossível falar da experiência audiovisual fora da gramática legada pela História do cinema, não interessa mais nos apegarmos aos mitos da sétima arte: apoiados na ideia do autor cinematográfico, nos livramos num único safanão de todo peso industrial e tecnicista do cinema convencional. Para nós, a cinefilia interessa somente enquanto estudo sistemático dos verdadeiros autores cinematográficos, que participaram da subversão por meio da imagem(Glauber Rocha, Luis Buñuel, Sergei Eisenstein, para citar os mais óbvios). No plano das influências estéticas para a produção audiovisual,  tão fundamental quanto o cinema é a pintura, a literatura, o teatro, a filosofia, etc. Um trecho de uma obra de Karl Marx, ainda que tenha nascido sob o signo da Economia Política e não da Estética, pode ter um valor expressivo muito maior do que toda a História de Hollywood. 
  Permitam agora compartilharmos os resultados práticos da nossa experiência audiovisual no Lanterna, que até o momento conta com aproximadamente 15 vídeos publicados neste blog. Se optamos em expor aqui algumas conclusões práticas do nosso trabalho na Frente de batalha do audiovisual, é porque sem nos importarmos nem um pouco com conceitos como " genialidade artística " ou " sucesso ", queremos contribuir com a construção de uma reflexão coletiva junto aos companheiros. Em nossa práxis a pesquisa imagética que resulta no produto audiovisual, isto é o vídeo, está desvinculada tanto da condição mercadológica(imposta a tudo que existe na cultura), quanto de preocupações técnicas aplicadas exclusivamente aos padrões visuais atrelados á indústria. Em acordo com Brecht, nossas iniciativas procuram não abastecer o aparelho de produção capitalista. Estendendo a nossa sintonia em direção a Artaud, desejamos colocar a técnica não a serviço do tecnicismo mas a técnica a serviço da poesia. Para quem acompanha nosso trabalho não apenas no campo do texto escrito, mas dos vídeos realizados, já deve ter observado que alguns vídeos possuem um caráter ensaístico, visando a reflexão sobre as relações entre estética e política num sentido anticapitalista. Em outros momentos, mais abertos á invenção, a câmera é um instrumento capaz de revelar as energias ocultas da realidade, convertendo em massa poética a representação daquilo que a ideologia dominante toma por " real ".   Neste movimento dialético entre o discurso objetivo e a invenção, fazemos questão de não sermos sérios, sisudos, pois grande parte da esquerda carece de irreverência, do humor que destrói a solenidade burguesa.
 As novas condições técnicas de produção do audiovisual, não permitem mais elucubrações esteticistas  mas a aplicação transgressora da estética livremente engajada. Portanto, mais eficaz do que concentrar esforços em projetos faraônicos, em grandes orçamentos, é pegar a câmera como se pega um cartaz de protesto. Eis uma lição fundamental do Junho de 2013! Não se trata de reduzir o audiovisual em palavras de ordem, mas de expor que a imagem em movimento é uma arma na guerra ideológica. Antes de se deslumbrar com a pornografia, o sadismo e as mentiras do grande vídeo game folhetinesco que é o grosso do atual cinema(inclusive brasileiro), a classe trabalhadora deve pegar em câmeras e assumir o controle da produção cultural. Partindo de uma sólida formação estética e política, os trabalhadores não devem fazer vídeos enquanto curiosidade antropológica para o burguês ver. Os trabalhadores devem criar obras que em sua autonomia estética desafiam a ordem capitalista. A politização da estética na era digital, garante o alcance da nova Arte Revolucionária.


                                            Orestes Toledo/Afonso Machado

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