terça-feira, 8 de outubro de 2013

Arte libertária contra a repressão:

Numa época em que ir a um baile de máscaras pode ser crime, a arte tende cada vez mais a ser uma das coisas mais perigosas para as autoridades. Numa clima crescente de destruição,uma sensibilidade pulverizadora ganha corpo, fazendo parecer que  " o Dadá finalmente se desenvolve no Brasil ": é todo um empenho destrutivo contra a simbologia das autoridades. Com o governo de boca aberta e o sarrafo comendo solto, um clima de vigilância e paranoia vai tomando conta... Greves e protestos  aumentam a temperatura de tudo, fazendo dos olhos irritados pelo gás lacrimogênio, a maior lembrança sensível dos últimos meses. Mas seria a destruição gratuita o que define o anarquismo? Penso que não. O anarquismo vem sendo alvo de toda sorte de distorções e banalizações. Os adjetivos  " vândalos " e " mascarados " massacram as intenções filosóficas do pensamento libertário; além da mídia burguesa muitos anarquistas contribuem para o grande perigo de uma associação imediata do anarquismo com a violência gratuita: esteja claro que dentro da ação direta alguns fazem uso da violência e outros de estratégias pacificas.
 Não são todos os anarquistas que concordam com quebradeira, pois como isso comunica o projeto libertário? Acredito que a consciência política se desenvolve na ação direta, mas a dissolução do capitalismo requer informação, uma nova sensibilidade e não  o quebra quebra que perante a população não diz nada. Se não houver um esforço educativo os indivíduos nunca serão livres; e pior, não conseguiremos fazer os trabalhadores acreditarem na necessidade de uma outra sociedade. A crença no poder de intervenção da arte, por exemplo, é um recurso libertário que se converte em uma fonte inesgotável para vários anarquistas: a arte revela mais consciência e a urgência da liberdade plena, inviável dentro do sistema. Aqui neste blog existe dentre as inúmeras referências teóricas e políticas, menções constantes ao empenho artístico na História do anarquismo.
Algum companheiro mais esquentado poderia dizer que fazer arte " é fácil",  " cômodo ". Discordo e do jeito que a coisa anda, isto é, mediante a voz elevada das autoridades, vai sobrar até mesmo para quem não acredita em ações violentas.O problema  não é o tipo de tática, se violenta ou pacifica, já que o Estado capitalista é em si a raiz da violência:  a repressão vem caindo sobre os indivíduos que pensam, que sabem da possibilidade de serem livres, de questionarem o poder econômico e político. Um novo pau de arara atravessa o céu do país, fazendo da repressão policial uma constante, seja em algumas universidades, na truculência contra grevistas e até em acusações de tortura contra trabalhadores. O artista libertário se depara ainda com uma sociedade em que professores são cobertos de porrada e a única estética levada em conta é a das mercadorias.
 Neste contexto, que poder não tem a arte para desarrumar a moral e arrebentar toda a louça espiritual da burguesia? Enquanto libertária não adoto ações violentas, admitindo somente a violência da arte. Entre a tijolada e o verso, fico com o verso porque ele vai mais longe. Mas mesmo optando pela arte e não pelo morteiro, não deixo de temer a repressão, pois  a contra-informação, a subversão dos signos, definem também alvos para as autoridades . Portanto enquanto artistas anarquistas(e comunistas, caso estes compreendam a liberdade em arte) precisamos usar máscaras enquanto recurso cênico e não para a quebradeira: não é com a quebradeira que iremos derrubar a máscara das autoridades e o véu do rosto dos trabalhadores. Tenho que me proteger da violência midiática e policial. Tenho que devolver com cuspe uma arquitetura excludente. Tenho que me marginalizar para me proteger dos super-heróis. Tenho que arriscar a pele cantando com o punho cerrado porque o som da sirene é muito alto. Se julgam minha arte agressiva é porque o Estado é antes de tudo violência contra o indivíduo.


                                         Marta Dinamite 

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