(...) Os princípios gerais da Estética e da História marxista da literatura encontram-se, pois, na doutrina do Materialismo histórico. Só a partir do Materialismo histórico podem ser compreendidas a gênese da arte e da literatura, as leis do seu desenvolvimento, as suas transformações, as linhas de ascensão e queda no interior do processo do conjunto(...) É sabido que o Materialismo histórico discerne na base econômica o princípio diretor, a lei determinante do desenvolvimento histórico. Do ponto de vista da sua conexão com o processo evolutivo do conjunto, as ideologias - e entre elas a literatura e a arte - aparecem unicamente como superestruturas, que só o determinam por via secundária. Desta constatação fundamental, o Materialismo vulgar parte para a conclusão, mecânica e errônea, distorsiva e aberrante , de que entre a base e a superestrutura só existe um mero nexo causal, no qual o primeiro termo figura apenas como causa e o segundo aparece unicamente como efeito. Aos olhos do marxismo vulgar, a superestrutura é uma consequência mecânica, causal, do desenvolvimento das forças produtivas. O método dialético não admite semelhante relação. A dialética nega que possa existir em qualquer parte do mundo relações de causa e efeito puramente unívocas: ela reconhece mesmo nos dados elementares do real complexas interações de causas e efeitos(...). A atividade espiritual do homem dispõe, pois, de uma certa relativa autonomia para cada um dos seus campos; e isto diz respeito sobretudo á arte e á literatura. Cada campo, cada esfera de atividade se desenvolve espontaneamente- por trabalho do sujeito criador - vinculando-se de modo imediato ás criações precedentes e desenvolvendo-as depois, ainda quando por meio de críticas e polêmicas.
Georg Lukács
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