Se a frase " vem pra rua " resume a agitação política deste ano, fica inevitável que busquemos também nas ruas, os esforços artísticos que traduzem o nosso tempo. Na gama de estilos e tendências que formam aquilo que denomina-se arte de rua, será inevitável para todas estas tendências se politizarem; afinal de contas, elas competem com uma cultura que faz da Estética um dado inerente á alienação.De fato vivemos um período em que a arte, no seu sentido tradicional, é esmagada por um abismo estético no qual milhares de informações, estímulos e sinais atacam a nossa percepção. Para que a arte possa ser algo fora de si mesma e portando interferir nos destinos políticos da sociedade, ela deve exprimir nos muros, no espaço público como um todo, uma vontade geral de transformação. Coisas bacanas já rolam a um bom tempo: o nosso grafite, por exemplo, capta uma positiva miscigenação com referências que passam pelo mangá, pelo surrealismo, pela fotomontagem e outras transas. Somente conhecendo doutrinas políticas socialistas, estes artistas podem aprimorar as forças de comunicação e com seu trabalho fazer frente ao consumismo, e enfim chamar a atenção do proletariado.
A arte conceitual, embora já tenha fornecido experiências transgressoras e importantes, acaba sendo em vários momentos uma desculpa para não se encarar o isolamento e a irrelevância da arte para a maioria da população: situações banais, com uma ironia desgastada, parecem expressar na realidade um sentimento de humilhação, de um suposto acréscimo sensível á poluição visual das cidades, não gerando nem estranhamento e muito menos um questionamento político.O artista de classe média, com sua formação calcada na irresponsabilidade política de pensadores pós-modernos, agrava a insignificância da experiência artística do dia a dia.
No cotidiano mesquinho da arte quase tudo vira discussão de especialistas e investidores, enquanto que para a percepção das massas o que bate fundo mesmo são os produtos simplificados da indústria cultural.Como reagir artisticamente? Cuidado com saídas anacrônicas...Nem venham com o Dadá: ele funcionou na época da Primeira guerra mundial(1914-1918), quando um pathos niilista procurava responder ao absurdo da cultura burguesa através da destruição da arte(hoje a atitude Dadá se confunde ás vezes com marketing, puro business). Portanto não dá para destruir o que já foi incinerado: a escolha dos materiais e a pesquisa das expressões, precisam ir em direção aos trabalhadores.
Alguém poderia me acusar de insistir numa " dimensão desastrosa ", ou seja o caráter político da arte. Mas acontece que os possíveis acertos nesta situação, dependem da articulação entre forças políticas de esquerda e artistas(esteja as primeiras no poder ou não). Foi assim com o Proletkult, a Bauhaus e o CPC(Centro Popular de Cultura). Se até aqui as vanguardas fracassaram, devemos procurar entender e debater as razões sociais/políticas deste fracasso. Em nossos dias a rua deve ser o contexto não para experiências artísticas banais, mas o espaço para exercitar a consciência crítica: a arte precisa se afinar ao ritmo das passeatas, dos protestos, na rua, aonde o povo está. Hoje a arte de rua, assim como os vídeos e a nova literatura proletária das periferias, é o que permite um novo trânsito cultural com movimentos políticos de esquerda.
Lenito
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