quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
A exigência de Sartre para uma Literatura Engajada:
Folheando romances brasileiros atuais, não posso deixar de ficar espantada com a pouca ou quase nenhuma atenção dada aos grandes problemas que afligem a sociedade contemporânea. Longe de mim desqualificar a atual literatura feita no Brasil, afinal vários são os autores(geralmente de origem proletária) que fazem da prosa um meio para denúncias e questionamentos. Meu descontentamento vai para gente que se serve das palavras para não dizer nada(e infelizmente estes possuem um grande acento na literatura atual). Creio que falta a este tipo de escritor, geralmente preso aos seus complexos de classe media, um horizonte teórico que possa orientar sua prática. É por estas e outras que considero Jean Paul Sartre merecedor da atenção dos literatos brasileiros. Além da sua magnifica produção como escritor, o que abrange o romance, a novela e a dramaturgia, Sartre definiu teoricamente quem é o escritor engajado.
Recomendo aos leitores e escritores brasileiros interessados em compreender qual é o sentido da literatura, que leiam o clássico O Que é Literatura?(1947), de Sartre. Esta obra tornou o existencialismo uma corrente filosófica capaz de responder ás exigências do compromisso político do escritor. Sartre nos mostra que o escritor lida com significados, sendo a prosa utilitária: servindo-se das palavras o autor que concebe o leitor enquanto homem livre, precisa dirigir-se á liberdade do leitor, enfrentando no mundo as situações que negam a própria liberdade. Portanto a literatura não interessa mais enquanto descrição que leva ao gozo psicológico, mas sim enquanto exposição para as diferentes possibilidades dos seres humanos em situações concretas; Sartre orienta o escritor de modo a conceber o autor enquanto vítima e cúmplice das formas de opressão, sendo necessário o uso da palavra escrita para auxiliar na emancipação social.
A função social do escritor faz com que ele não possa negar o mundo, sendo o ato da escrita um ato político: ou se escreve sobre algodão doce ou se escreve sobre a miséria, por exemplo. Parece-me que num país como o Brasil a defesa da literatura engajada segundo Sartre, é um dever intelectual.
Lúcia Gravas
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