Faz mais de um século que a pintura moderna consolidou a sua Revolução espiritual. Porém, o que vem sendo negligenciado por muitos artistas e historiadores, é que a ruptura formal das estéticas modernas, é parte de uma reivindicação política de ruptura social. A arte em suas leis específicas rejeitou as técnicas tradicionais de composição por almejar um estado de libertação expressiva. Mas tal libertação não se detém apenas na mudança radical dos materiais e procedimentos de criação plástica, mas na num desejo mais profundo de libertação total. Portanto, quando as cores foram percebidas em sua pureza, em sua luz e intensidade projetada em manchas, é porque ocorre uma transformação no mundo visível: implodir a perspectiva significava implodir a percepção burguesa da realidade.
Todo o trabalho destrutivo executado pela pintura organizada em torno dos movimentos de vanguarda da Belle Époque, não deve ser tomado enquanto gestos formalistas desconectados dos sentimentos do artista sobre o social. Mesmo quando estamos falando de artistas que não possuíam uma posição política anticapitalista, sua obra só pode ser situada num momento de ruptura com uma cultura ordenada pelas determinações econômicas e políticas do capital. Os pintores do pós-impressionismo e do fauvismo, por exemplo, constituem um esforço social de rebelião que não se restringe a oposição ao naturalismo. Tão pouco estas revoltas estéticas das obras de arte se restringem ao território europeu. As pinceladas do pintor moderno sugerem um internacionalismo primitivista, que descobre referências visuais fora das determinações culturais que formaram o homem burguês.
Hoje, quando as rupturas estéticas não tornam-se mais territórios a serem explorados, o artista que é herdeiro das rebeliões de vanguarda e as articula com as novas dinâmicas estéticas(como a arte de rua, por exemplo), deve possuir a consciência histórica de que a representação artística revela um universo formal que não se separa da vida em sociedade.
Os Independentes
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