(...) Veem agora ao que nós queremos chegar? Queremos chegar a isto: que em cada espetáculo montado desempenhemos uma parte grave, que todo interesse de nosso esforço resida neste caráter de gravidade. Não é ao espírito ou aos sentidos dos espectadores que nos dirigimos, mas a toda sua existência. Á deles e á nossa. Jogamos nossa vida no espetáculo que se desenrola sobre o palco. Se não tivéssemos o sentimento muito nítido e muito profundo de que uma parcela de nossa vida profunda está engajada aí dentro, não julgaríamos necessário levar mais longe a experiência. O espectador que vem ver-nos sabe que vem oferecer-se a uma operação verdadeira, onde não somente seu espírito mas também seus sentidos e sua carne estão em jogo. Ele irá doravante ao teatro como vai ao cirurgião ou ao dentista. No mesmo estado de espírito, pensando, evidentemente, que não morrerá, mas que é grave e não sairá de lá de dentro intacto. Se não estivéssemos persuadidos de poder atingi-lo o mais gravemente possível, nós nos julgaríamos inferiores á nossa tarefa mais absoluta. Ele deve estar bem persuadido de que somos capazes de faze-lo gritar.
Antonin Artaud, 1926.
Nenhum comentário:
Postar um comentário