O desenvolvimento das forças artísticas não se separa dos imperativos econômicos e políticos. Este pressuposto básico do materialismo dialético, para a análise histórica do fenômeno artístico, não é tão óbvio assim para muitos artistas que estariam situados no campo da esquerda: noções como genialidade e talento habitam os egos de quem deveria combater a concepção burguesa da arte. A verdade é que bem pagos ou não, artistas convencionais e vários artistas " transgressores " não passam de produtos históricos tardios da cultura burguesa. Em contrapartida as periferias mundiais produzem uma arte violenta, que mesmo sem possuir a necessária consciência de classe, contrasta com os limites estéticos e políticos do ambiente pequeno burguês. É esta situação que obriga os militantes de esquerda a definirem primeiro não o que é arte revolucionária mas quem é o artista revolucionário.
Com toda certeza este é um artista aberto ás inovações, sempre disposto a ouvir dentro de si as inquietações formais que confluem livremente para o conteúdo político revolucionário. Mas, este artista é um profissional metafísico ou um trabalhador? Sendo o seu desacordo com a ordem estabelecida parte não apenas de um esforço formal, ele precisa enxergar na classe operária situações culturais capazes de redefinir quem é o artista revolucionário: chamemos este de ARTISTA COLETIVO. Sua existência já é encontrada dentro do movimento operário brasileiro do início do século passado, quando os anarquistas defendiam que todos são artistas em potencial, cabendo aos trabalhadores fazerem uso da literatura e do teatro, por exemplo, para desenvolverem coletivamente suas potencialidades expressivas. Para eles a vaidade era desnecessária perante a necessidade da eficácia política da obra. O mesmo sucede-se na União Soviética dos anos vinte, quando os construtivistas estimulavam a criação fotográfica e cinematográfica entre o proletariado russo. Outros exemplos não faltam, cabendo destacar ainda o caso dos surrealistas que mesmo não enfocando a luta de classes em suas obras, buscavam sem resquícios de vaidade o mito coletivo do poeta selvagem: é a fórmula de Lautréamont na qual " a poesia é feita por todos ".
Não suprimindo as necessidades individuais e nem submetendo a obra de arte nos limites do ego(tão frágil tratando-se da classe média...) o artista coletivo dispensa os aplausos e aponta para o socialismo.
Orestes Toledo/Afonso Machado
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