segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Um pouco da arte japonesa de contestação social:

A influência das estéticas japonesas na vida cultural da juventude brasileira, é um fato confirmado inúmeras vezes durante as últimas décadas; afinal é mais do que comprovada a grande contribuição da cultura japonesa para a cultura brasileira . Ainda assim sabe-se muito pouco sobre as tendências artísticas mais contestadoras da cultura contemporânea japonesa. Pra quem acha que a cultura japonesa é cem por cento tradicionalista e moderna apenas no sentido tecnológico, sinto dizer que sofre de miopia ideológica. De fato todo este lado reacionário existe enquanto expressão da cultura dominante do Japão. Há no entanto uma História rebelde na política e na cultura japonesa; por exemplo: todos sabem da ultrajante influência do fascismo durante o entre guerras, mas quase não se fala da morte de mais de 14.000 japoneses comunistas pelas mãos do fascismo neste mesmo período.
 A cultura japonesa expõe seu lado contestador a partir do pós-guerra. Enquanto os EUA ocidentalizava os hábitos japoneses(ao mesmo tempo que censurava filmes com conteúdo político de esquerda), uma nova geração irá entre os anos cinquenta e sessenta provocar uma série de rupturas na arte e no comportamento.Naqueles anos em que observamos a Associação Japonesa de Movimentos Artísticos e Teatrais, um temperamento vanguardista atravessa o Japão. Sob a influência das vanguardas europeias, artistas como Tatsumi  Hijikata começam a revolucionar a dança japonesa com o Butô: mesclando o Nô e o Bugaku com a modernidade estética ocidental, o Butô rompia com as tradições estéticas e sociais ao promover a livre expressão da alma nos movimentos do corpo. Se a dança era revolvida o mesmo se dava em outras artes, como principalmente o cinema: a partir dos anos cinquenta surgem companhias independentes que darão espaço aos jovens cineastas mais inquietos do país.    
  Novos grupos cinematográficos se formavam(como o Cinema 57). A influência do neo-realismo e do cinema soviético inspirava uma geração na busca por uma abordagem realista que questionava os rumos econômicos e políticos do país. Dentro do moderno cinema japonês, personificado no movimento Noberu Bagu, filmes de baixo orçamento desafiavam as tradições através da violência e de temas tabus, sobretudo sexuais. Nos anos sessenta por exemplo, o chamado cinema Yakuza, que tinha por tema o submundo e o cotidiano da famosa máfia japonesa, atraia o movimento estudantil em suas tendências políticas que questionavam os valores familiares e as regras da cultura oficial. Logicamente que nem tudo na cultura japonesa do pós guerra é contestador: o grupo de extrema direita Tatenokai, que contou com a influência intelectual e política do escritor Mishima, manteve vivo na cultura japonesa um lado reacionário. 
  Para nós o que interessa é observar o lado transgressor e politicamente avançado da arte japonesa do pós-guerra. Que sejam vistos e estudados no Brasil filmes como aqueles realizados pelo cineasta Koji Wakamatsu, o qual colocou em foco a guerrilha e a luta de classes no Japão. Existe uma arte de contestação japonesa que em suas particularidades culturais enriquece(e muito) a nossa sensibilidade.


                                                                              Lúcia Gravas

Nenhum comentário:

Postar um comentário