quinta-feira, 6 de março de 2014

Da obra " O Revolver de Cabelos Brancos ", de André Breton:

Não dou nenhuma importância á vida
Não pego com alfinetes na importância a mais ínfima borboleta de vida
Não importo á vida
Mas os veios do sal os veios brancos
Todas as bolhas de sombra
E as anémonas do mar
Descem e respiram dentro do meu pensamento 
Vem das lágrimas que não verto
Dos passos que não dou duas vezes passos 
Na memória da areia ao encher da maré
As grades estão no interior da gaiola
E os pássaros vem das maiores alturas cantar diante delas
Uma passagem subterrânea une todos os perfumes 
A mulher que lá entrou um dia 
Tornou-se tão brilhante que não vi
Com estes olhos que a mim mesmo viram arder
Tinha já a idade que hoje tenho
E vigiava-me vigiava o meu pensamento como um guarda noturno numa fábrica
                                                                                                    sem fim




                                                                  André Breton, 1932.

Nenhum comentário:

Postar um comentário