O escândalo dentro da moderna música pop, é uma das características políticas vitais do nosso tempo. Não tem nada a ver com o oportunismo, com o comportamento espalhafatoso para ganhar dinheiro. Muitos artistas praticam hoje este escândalo fácil, sem maiores consequências sociais. Sendo arte, e portanto a música, expressão de coragem, interessa também sob o ponto de vista revolucionário a transgressão que o escândalo apresenta.
Infelizmente, alguns escoteiros (pseudo)marxistas acham que os músicos precisam ser " consequentes " em suas práticas de rebeldia. É claro que o músico não deve ser uma besta que coloca a corda em volta do seu próprio pescoço e deixa a mídia enforca-lo. Não, mas este pode no seu trabalho musical, na sua aparência e nas suas atitudes exprimir não " um pensamento político coerente ", mas a crítica e rejeição dos valores da classe dominante. Encarando o artista como alguém que pode contribuir para o descrédito da moral burguesa, vamos então estimular os músicos a incomodarem o status quo, sem precisar carregar carteirinha de partido.
É esta liberdade artística, de grande alcance, que levou os Beatles, por exemplo, a escandalizarem os EUA com uma coletânea lançada por lá em 1966. Yesterday and Today, um belo sanduíche dos álbuns Help!, Rubber Soul e Revolver, trouxe na sua capa os quatro bonitinhos de Liverpool com roupas de açougueiro e pedaços de carne e bonecas esquartejadas. " E dai? ", pergunta o clássico militante de esquerda. Bom, e daí, que com a guerra do Vietnã revelando a brutalidade imperialista dos EUA, matando inclusive crianças vietnamitas em bombardeios, esta imagem é no mínimo(e intencionalmente) incômoda. O resultado? A capa foi censurada. É portanto este tipo de atitude, que sem o tradicional tom de militância, pode ser de grande eficácia no plano da contestação social.
Tupinik
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