segunda-feira, 31 de março de 2014

O artista ainda tem que ter uma Opinião sobre a ditadura militar:

Faz cinquenta anos que a burguesia brasileira bateu na porta do quartel pedindo arrego. A classe dominante temia o avanço político dos trabalhadores em meio ao governo Jango; e ninguém pode negar que a arte popular revolucionária do período, mesmo com todos os erros do populismo, era uma das alavancas que impulsionava a agitação social no país.Naqueles tempos da guerra fria, as forças armadas assumiram em 1964 o poder, dando início a um capítulo brutal que durou 21 anos: a ditadura militar sujou ainda mais a História do Brasil com prisões, torturas, perseguições, assassinados e a censura que atingia até mesmo o mais despolitizado dos artistas. Mas em 2014 qual seria a relevância de levantarmos os fantasmas do golpe de 64? O passado não envolve fatos embalsamados e mesmo que a História não se repita, devemos combater através dos símbolos históricos de resistência, as atuais formas de repressão política. 
   Os lacaios da burguesia fantasiados de intelectuais, querem abafar as vozes rebeladas do passado para que possamos esquecer hoje a miséria do povo brasileiro. Estas vozes tornam-se também cantos, e na luta contra a opressão ontem e hoje " É PRECISO CANTAR ".  É preciso manifestar-se, berrar, arriscar-se, ter uma opinião sobre o processo político brasileiro. Ter OPINIÃO sobre os absurdos da ditadura não é ficar nostálgico, babando ovo para os artistas que na época combateram o regime militar; e como tem gente " cult " que sem nunca ter colocado os pés numa fábrica ou num sindicato, fica emocionada, extasiada  e batendo palmas para intelectuais e artistas que contam suas lembranças de 1968....  Não, não é isso que precisamos fazer hoje: quem é contrário ao golpe de 64, apoiado pela burguesia e pelo imperialismo norte americano, é necessariamente hostil ao sistema capitalista como um todo. É contra o capital que os artistas devem lutar. É preciso tomar consciência de que com a interrupção do governo Jango abriu-se, como bem disse José Ferroso, um abismo entre o artista revolucionário e a classe operária. 
 Hoje, diferentemente dos tempos do populismo, estimulamos a formação do artista revolucionário dentro do proletariado. Aliás, cabe ao artista operário tomar conhecimento da produção artística de resistência dos tempos da ditadura militar, incrementando com referências estéticas importantes a arte de esquerda dos nossos dias. 
Marchando pelas ruas em plena democracia burguesa, manifestantes que lutaram em 2013 e lutam em 2014 podem cantar, sem nenhuma ruga no refrão, a música Opinião, de 1965, verdadeiro libelo contra a repressão política: " Podem me prender. Podem me bater. Podem até deixar-me sem comer. Que eu não mudo de opinião ".


                                                                                      Geraldo Vermelhão  

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